Capítulo 4

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Andei até a cozinha para preparar um sanduíche, enquanto procurava o pão na dispensa, ouvi a porta dos fundos sendo aberta.

- Lorena? Cheguei, estou entrando tá?

Era a voz da Giovana. Peguei o pão e o coloquei na mesa, Gih estava apoiada na bancada da cozinha, ela me olhou e disse:

- Você tá bem? Onde estão seus pais?

- Não sei.

- Essa resposta é para qual pergunta?

- Para as duas.

Ela deu de ombros e pegou uma maçã da fruteira, dando uma mordida na mesma. Eu continuei concentrada em preparar meu sanduíche, não estávamos com muito assunto naquela noite.

O silêncio era quase sufocante quando Gih decide quebrar o silêncio.

- Olha, eu sei que você está mal pelo que aconteceu, mas não gosto de te ver assim.

- Não vou pular de alegria sabendo que meu irmão agora está em um IML dentro de uma gaveta.

- Eu sei que não é fácil, mas você sabe que precisa seguir em frente.

- É eu sei.

- Conte comigo para isso, sou sua amiga e nunca vou te abandonar.

Sorri de canto e me sentei na mesa para comer meu lanche, Gih agora estava concentrada em seu celular, abro o meu para não me manter no silêncio.

Havia duas mensagens.

De: Cíntia

Para: Lorena

📨Precisei sair para fazer a escolha da funerária a escolha dos nossos pais, eles acharam que seria melhor você ficar em casa, peça pizza caso sinta fome.

Te amo📨

Virei os olhos e pulei para a próxima mensagem.

De: Mãe

Para: Lorena

📨Estamos no IML aguardando a liberação do corpo, voltaremos tarde.📨

Senti um forte aperto em meu peito o que me fez chutar a perna da mesa. Gih largou seu celular com o susto que tomou.

- O que aconteceu cara?

- Nada, só senti uma pontada estranha e me assustei.

- Credo, não faça mais isso, você me assustou.

- Desculpe.

Gih sentou - se novamente e voltou ao seu celular.

Terminei meu lanche em silêncio e subi para o meu quarto sem dizer nada. Tranquei a porta e sentei na minha cama encarando a lua que já estava no alto do céu pensando em Henri, onde ele estaria agora? Como deveria ser o outro lado?

As lágrimas faziam pequenas marcas mais escuras em meu vestido preto, as mesmas eram como pequenas navalhas que escorriam por meus olhos me cortando por dentro e por fora.

Fiquei chorando por horas, não aguentava mais fingir ser forte e mostrar que não estava sentindo dor.

O relógio marcava 23:40 até que um cansaço começou a me consumir lentamente mas eu não queria dormir, eu precisava de notícias do meu irmão.

Mas o sono foi mais forte do que eu, e eu fui vencida pelo cansaço.Acordei após algumas horas com o celular da Gih tocando, atendi no mesmo momento:

-Alô?

-Oi Lorena.

-Oi tia Maria, como está?

-Estou bem, a Giovana está ai? É que ela não voltou para casa ainda.

-Está sim tia, ela deve estar dormindo.

-Eu vou buscá-la para que você possa descansar.

-De forma alguma, vai ser bom ter companhia depois de hoje...

Eu me mantive em silêncio por um tempo enquanto as lágrimas escorriam por meus olhos pela lembrança que passava na minha cabeça como um filme. Ela entendeu o meu motivo e decidiu não tentar alongar a conversa.

- Olha filhinha, eu sei que está difícil mas descanse, você está precisando, amanhã eu vou buscar a Gih. Fique bem meu amor, precisando de mim, estou aqui.

-Obrigada Tia.

Eu desliguei a chamada e encarei o celular por alguns segundos, vendo minhas lágrimas descerem e respingarem na tela. Virei para a Gih que estava dormindo na cama do Henri.

Bloqueei seu celular e coloquei perto dela e como a noite estava quente, joguei um lençol por cima das pernas dela e a deixei dormir em paz.

Coloquei uma música mais baixa para tentar pegar no sono, mas não consegui então fiquei mirando o teto enquanto o som do Lil Peep preenchia o silêncio e o brilho baixo da tela iluminava um pouco do vácuo acima de mim.

Não sei quanto tempo fiquei daquele jeito mas, adormeci com o celular ainda ligado.

Acordei algumas horas depois mas Gih ainda dormia, saí do quarto em silêncio e a casa parecia estar vazia, desci para preparar o café. Após um tempo, Gih aparece na porta da cozinha coçando seus cabelos bagunçados:

-Devo ter pegado no sono sem ter percebido.

-Ora, mas não me diga. - respondi ironicamente.

Ela me dá a língua e eu solto um risinho bobo e se senta em uma das cadeiras enquanto mexe em seu celular, enquanto a água fervia, eu fazia o mesmo para ver se meus pais haviam me mandado algo importante.

📨Oi filha. Já pedimos a liberação do corpo do Henri e sua irmã já escolheu a funerária, estaremos em casa hoje a tarde para te buscar. Espero que tenha se alimentado corretamente durante a noite. 📨

Apenas li, não tinha o que responder sobre aquilo.

Faço dois pães na grill com manteiga e dois copos de leite com café forte e os coloco na bancada.

-Vem comer. -Digo mergulhando meu pão no leite.

-Tô sem fome.

-Não perguntei. -Digo dando um pequeno sorriso.

-Fofa como sempre. -ela olha torto enquanto da uma abocanhada no pão.

Comemos e conversamos por um tempo quando a porta da frente se abre dando passagem a minha irmã que parecia estar extremamente exausta.

Ela da um sorriso para nós duas e sobe para o segundo andar, deveria estar exausta por causa da noite triste que teve.

Gih agradeceu o café e se retirou da mesa. Ela calçou seu all-star preto e foi em direção a porta, ela gritou de lá:

- Loren, eu estou indo!

- Ainda está cedo. Por que você não espera os meus pais chegarem? eles te levam depois.

digo enquanto corro até ela com metade do pão saindo para fora da boca.

- Eu já te perturbei bastante hoje, mas eu vejo você no velório.

-Fica mais um pouco, por favor.

Digo fazendo uma cara parecida com aquelas de gatos fofinhos.

-Ok. eu fico.

-Te amo Gih, obrigada.

-Eu também












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