Capítulo 15

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A formatura do ensino médio estava se aproximando e todos os alunos pareciam estar animados pelo tão sonhado evento, inclusive eu. Depois de tantas coisas ruins que eu havia suportado naquele ano, eu acho que merecia um pouco de diversão no meu último dia dentro daquela maldita escola.

Vivi momentos bons e ruins naquela escola, conheci pessoas e professores maravilhosos que eu pretendia levar para a vida mas havia chegado o momento de conhecer novos ambientes e culturas.

As aulas daquela semana se mesclavam em mini festinhas de despedida com direito a lanchinhos e fotos e correr de um lado para o outro com globos espelhados e decorações gigantes feitas com isopor, foram dias corridos que pretendo levar para a vida, mesmo depois de todas as situações complicadas que haviam acontecido comigo.

Duda e Gih comentavam comigo todos os dias que eu precisava de um par para dançar a valsa comigo no baile mas eu não fazia ideia de quem chamar:

-Que tal o seu pai? – sugeriu Gih na ligação.

-Ele não sabe dançar e o conhecendo bem, sei que ele não aceitaria. – eu respondi suspirando.

-Risca o papai da lista então Gih. – disse Duda.

-E que tal o Rick? – disse Gih.

-Que Rick? O tio da cantina? – eu perguntei segurando a risada.

-Para Lorena, ele é bonitinho. Eu chamaria ele para ir comigo se eu já não tivesse um par. – disse Duda dando risada.

-Com certeza não.

Depois de alguns segundos de silêncio na chamada, Duda tem uma idéia que quase me derrubou da cadeira:

-Que tal você chamar o seu psicólogo?

-Oi?

-Para Lorena, o que você tem a perder?

-Eu não sei se ele aceitaria.

-Se você não tentar, nunca irá saber. – disse Gih concordando.

-Eu tenho vergonha. – eu respondi corando.

-Se você não chamar, nós iremos. – respondeu Duda com voz de brava.

Me dei por vencida e concordei que chamaria Alan para ser o meu par na formatura e as duas garotas vibraram alegremente pelo telefone. Eu sabia que havia uma grande probabilidade de que Alan recusasse o meu pedido mas não custava tentar.

Fui no hospital no mesmo dia carregando os convites em uma pasta transparente, eu estava um pouco vermelha e meu estômago se contorcia tamanha a minha ansiedade. Entrei na sala de espera que estava completamente vazia e me assentei nos mesmos bancos azuis de sempre torcendo para que ele aparecesse logo.

Depois de alguns minutos de espera, Alan aparece no corredor andando depressa com alguns prontuários na mão, eu me levanto assim que ele se aproxima e ele abre um largo sorriso quando me vê:

-Lorena! Como é bom te ver! – disse ele me abraçando forte.

-Digo o mesmo doutor! – disse enquanto exalava seu cheiro bom de banho recém-tomado.

-Nós tínhamos consulta marcada hoje? – disse me soltando do abraço.

-Não, é que eu precisava conversar com você, caso não esteja muito ocupado. – eu disse enrolando uma mecha do meu cabelo nos dedos sem encará-lo.

-Claro, vamos conversar na minha sala.

Entrei na sala primeiro e ele entrou logo em seguida fechando a porta atrás de si, eu me acomodei no banco dos pacientes enquanto ainda apertava a pasta contra o peito e esperei que ele se sentasse para que eu pudesse começar a falar:

-Bom, eu peço desculpas por ter aparecido aqui sem motivos mas... é... eu tenho um convite para você e seu pai...

-Sou todo ouvidos. – disse ele apoiando os braços na mesa de madeira extensa.

-Bom, no fim de semana será a minha formatura e eu queria convidar vocês para irem assistir e eu queria que você fosse o meu par na hora da valsa... mas tudo bem se não quiser... – eu falei mostrando um leve desânimo na última frase.

Encarei Alan por pouco tempo pois fui tomada pela vergonha mas pude perceber a surpresa nos olhos dele:

-Pode aguardar um minuto? – disse enquanto se levantava da sua cadeira estofada.

-Claro. – eu respondi cabisbaixa.

Ele saiu da sala deixando a porta encostada, eu sabia que havia sido uma péssima ideia ter aparecido ali sem nenhum motivo e chamar ele para ir ao baile comigo, eu era muito burra mesmo. Esperei por mais alguns minutos impaciente pela dor no estômago e logo Alan abre a porta delicadamente dando espaço para que o Doutor Raphael pudesse entrar, ele sorri ao me ver:

-Como está a minha garota? – ele diz animadamente me dando um rápido abraço.

-Muito bem, doutor! – digo sorrindo.

-O Alan disse que você queria falar comigo.

Eu olhei para o Alan que estava se divertindo com a situação e sorria disfarçadamente, eu voltei minha atenção para Raphael e falei tentando não gaguejar:

-Bom, eu quero convidar você e o Alan para irem na minha formatura nesse fim de semana, mas eu entendo se vocês não puderem ir. – eu disse encarando o chão.

-Será uma honra te prestigiar nesse momento especial. – respondeu Raphael sorrindo.

-E será uma honra maior ainda dançar valsa com você. – disse Alan no fundo.

Meu coração esqueceu de como bater por alguns segundos e minhas pernas amoleceram igual gelatina, eu não sabia o que responder mas eu sabia que iria explodir de tanta felicidade se não me acalmasse. Puxei Alan e Raphael para um abraço triplo enquanto agradecia repetidas vezes por eles terem aceitado o meu convite pois aquele momento seria muito especial para mim, eles apenas riam e retribuíam o abraço.

Após termos nos soltado, entreguei um convite fechado em um envelope branco com uma fita vermelha para Alan e dois envelopes semelhantes ao doutor Raphael e lhe digo com um sorriso que mal cabia em meu rosto:

-Convide alguém que seja especial.

Raphael me agradeceu e se despediu de mim dizendo que precisava ir pois tinha que monitorar um paciente, eu sorri como forma de compreensão e ele saiu me deixando sozinha com Alan novamente.

O silêncio predominou até que alguém bate na porta nos trazendo de volta para a realidade, uma moça alta abre a porta avisando ao Alan que ele tinha uma paciente aguardando e sequer ligou para a minha presença, talvez ela gostasse dele e não me visse como uma ameaça, ela saiu logo após dar o recado deixando a porta apenas encostada:

-Bom, é melhor eu ir. – eu disse enquanto pegava a minha pasta que eu havia deixado na cadeira alguns minutos antes.

-Eu agradeço por você ter vindo e obrigada mais uma vez pelo convite. – ele disse enquanto me acompanhava até a porta.

-Eu que agradeço por vocês terem aceitado.

Paramos na porta por alguns segundos e demos outro longo abraço caloroso, eu poderia ficar horas ali e nunca me cansaria de estar com ele, eu não queria dizer mas o Alan me fazia muito bem, desde o início do tratamento ele sempre esteve disposto a me ouvir sem julgar e cuidava de mim como ninguém.

Eu saí da sala tentando disfarçar meu sorriso mas era impossível pois meus olhos me entregavam, peguei meu celular no bolso e liguei para as meninas no mesmo minuto:

-Fala Lorena. – disse Duda.

-ELE ACEITOU! - eu disse quase gritando e assustando os médicos e pacientes.

-Eu não acredito! Eu te falei que daria certo! – disse Gih eufórica.

-Precisamos comprar o vestido e os sapatos agora! – avisou Duda

-BANHO DE LOJA AMANHÃ! - gritou Gih como uma patricinha mimada.

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