Sozinha No Mundo

Capítulo 20

Lorena narrando:

Nos filmes, quando um personagem parte dessa para a melhor, o ator sempre saí do seu corpo flutuando como uma pena levada ao vento e ele encontra aquela famosa luz branca e cintilante na qual ele sempre caminha em direção a ela com passos graciosos e um grande sorriso no rosto, no fim, ele é consumido pela luze some logo em seguida, acabando assim a cena. Porém, para mim estava sendo diferente, eu não enxergava a luz branca no fim do túnel me mostrando o caminho que eu deveria seguir, tudo que eu conseguia ver era apenas um breu intenso que chegava a me cegar.

Eu tentava tatear algo ao redor para tentar me apoiar e achar aquela luz mas eu não conseguia sentir nada além daquele vazio silencioso espesso e sufocante. Eu tentei gritar por muitas vezes mas a minha voz parecia ser abafada pela escuridão, o que me deixava com mais medo.

"Achei que a morte seria como nos filmes" - pensei comigo enquanto me sentava no que parecia ser o chão.

Abracei minhas pernas esguias e apoiei minha cabeça em meus joelhos, tentando chorar, mas ali, sozinha em meio aquele vazio, eu não conseguia fazer absolutamente nada, como se eu estivesse travada.

A morte não era bela e calma como eu sempre havia imaginado, eu criei um cenário esperando que o mesmo atendesse as minhas expectativas, eu esperava que ali eu esqueceria de todos os meus problemas, que teria paz, que veria as famílias felizes reencontrando seus entes queridos e os puxando para abraços longos e demorados e que finalmente eu poderia me encontrar com o Henri e copiar os atos das famílias mas, eu estava sozinha rodeada dos meus pensamentos e lembranças que talvez nunca fossem apagadas.

Sentada ali em meio ao escuro tenso e ao silêncio sufocante, eu derramava lágrimas silenciosas pensando na besteira que havia feito, eu tive apoio das pessoas que eram importantes na minha vida e por causa do ódio, tomei uma decisão estúpida e de cabeça quente. Eu já deveria estar morta naquele minuto, e ali era o meu purgatório, ninguém viria para me salvar.

*****

Alan narrando:

A ansiedade nos envolvia em um abraço apertado e mortal, todos estávamos temendo pela vida da Lorena, eu não poderia perde-la assim. Eu ainda queria ir ao baile de formatura, gostaria de dançar algumas músicas lentas com ela, elogiar o vestido, tomar ponche e garantir que aquela seria uma noite especial que iria marcá-la até o fim da sua longa vida, ela merecia ser feliz. Eu queria poder dar a ela uma noite digna de uma princesa e torcia para que o quadro dela ainda pudesse ser reversível e que eu ainda tivesse a oportunidade de realizar esse sonho e dizer muitas coisas boas a ela.

A sala de espera enchia e esvaziava conforme as horas corriam no relógio e essa demora me fazia temer pelo pior. Eu nunca fui uma pessoa negativa em relação a nada mas, o medo e a ansiedade me rondavam tanto que me deixavam zonzo e faziam minhas mãos suarem.

Cíntia apoia em minha mão, me fazendo voltar a atenção para os seus grandes olhos verdes que pareciam duas bolas de gude:

-Ela vai ficar bem, minha irmã é forte. Ela vai sobreviver!

- Quando estávamos no consultório, ela sempre comentava comigo sobre as viagens que queria fazer para o Canadá e o Japão, os livros que ela havia pegado na biblioteca do bairro mas estava tão ocupada que não havia os lido ainda, a playlist de 7 horas com todas as músicas que ainda precisava conhecer... Eu quero vê-la realizar todos esses planos, quero vê-la crescer, evoluir, se tornar uma mulher adulta incrível. - eu dizia enquanto enxugava as lágrimas quentes e pesadas que passeavam livremente pelas minhas bochechas.

- Minha irmã sempre foi muito sonhadora, não posso negar. Quando éramos mais novas, eu sempre espiava ela fazendo listas de coisas que ela queria fazer até completar 20 anos, eu não sei exatamente o momento em que ela decidiu desistir disso mas eu sei que ela ainda deve se lembrar e que ainda vai cumprir todos as loucuras que ela sonhava em fazer porque ela vai sair dessa viva.