Capítulo 6

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NARRADORA

Em um movimento rápido Carla caminha até Arthur e o puxa para o lado de fora do studio, não demorando a ver o mesmo parar de andar.

- Sei que é uma oportunidade de ouro, marrentinha, mas não estou no clima!

- Não estou perguntando se você quer ir, estou avisando que você vai! Vamos esquecer por uma noite o quanto nos odiamos, amanhã tudo pode voltar ao normal, mas agora cala a boca e vem, quero te levar em um lugar!

Arthur sorri levemente diante da fala de Carla e se deixa ser guiado por ela, sem imaginar que a partir daquele momento muita coisa poderia começar a mudar.

[...]

Diaz ainda não sabia o que tinha lhe feito chamá-lo pra sair, mas não pôde evitar a preocupação ao ver que o loiro não estava bem. Seus pais sempre lhe ensinaram a importância de ser uma pessoa boa que ajuda aos outros nos momentos difíceis, e mesmo sendo um mauricinho que lhe irritava, Arthur 
também estava incluído nisso. Talvez amanhã voltassem a brigar como crianças e a irritar um ao outro, mas naquele noite Carla sentia que ele precisa de alguém, e ela estaria ali por ele. O casal continua andando pelas ruas lado a lado, e assim que começam a se aproximar do lugar onde Diaz queria levá-lo a dançarina o puxa pela mão, sentindo um choque percorrer seu corpo. Ambos andam por mais alguns minutos e quando finalmente chegam, Carla se vira para encarar o loiro, vendo o olhar que antes era de total mágoa, agora recheado de encantamento. Estavam em uma pracinha escondida da movimentação da cidade e enfeitada com uma ponte que dava vista para um pequeno lago com águas cristalinas.

- Uau, esse lugar é lindo!                     

Picoli confessa encantado assim que ambos sentam em um banquinho de frente para o lago.

- É verdade! Meus pais sempre me traziam aqui quando eu era criança, esse lugar sempre me trouxe uma paz enorme e achei que seria um bom lugar para te trazer. Mas agora me conta, o que te deixou tão triste assim?

 - Não é nada demais, é só....

Carla interrompe.

- Mentira! Sei que não está bem, e por mais que seja estranho, eu quero te ajudar. Talvez amanhã a gente volte a brigar pelas mesmas besteiras, mas hoje quero que confie em mim e desabafe. Me conta a verdade!

Ambos navegavam intensamente nos olhos um do outro, e por um momento Arthur sente seu escudo cair. O que passou na infância foi muito difícil para ele e isso acabou se tornando o motivo por ser sempre tão frio com as pessoas. Havia guardado aquela dor por muito tempo e precisava desabafar. Precisava se abrir com alguém, e por mais difícil que fosse de reconhecer, Arthur sabia 
que naquele momento precisava de 
Carla.

- Desde pequeno os meus pais nunca me deram atenção, tudo estava voltado para o trabalho deles, e eu, como sempre ficava em segundo plano. Eu me esforçava para tirar as melhores notas, para ganhar todos os campeonatos, tudo isso pra que eles pudessem notar que eu ainda existia, para que eles pudessem perceber que eu precisava deles, mas não funcionou. No meu aniversário de 7 anos eu acordei super animado, passei o dia todo esperando que de repente eles entrassem em casa batendo parabéns enquanto seguravam um bolo nas mãos, mas isso não aconteceu. Eles ao menos me deram um "Parabéns, filho", eles esqueceram o dia do meu aniversário. Eu me senti um nada, me senti alguém sem importância nenhuma, e foi naquele mesmo dia que eu decidi que não queria mais me sentir daquele jeito. Comecei a fazer as coisas por mim mesmo, não para orgulhar aqueles que eu tinha que chamar de "pais", e sim para mostrar que eu era o melhor, para que eu me sentisse alguém importante. Eu consegui, porém, por mais que o tempo passe toda vez que eu escuto a voz deles eu me sinto novamente o garoto de 7 anos que passou a noite toda chorando por seus próprios pais terem esquecido do dia em que ele nasc...

Dança Comigo - CarthurOnde histórias criam vida. Descubra agora