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Gabriel: Ainda nesse dia

Lavínia estava muito mas assim muito muito muito mesmo mais bonita que eu me lembrava. E olha que eu tenho uma imagem clara dela na minha cabeça. Abri um sorriso pra ela mas minha boca congelou quando um moreno alto entrou no petshop atrás da minha ex mulher.

Engoli seco. Negócio esquisito.

"Cadê ele?" - Ela perguntou assim que me olhou. Certo, não era obrigação de Lavínia mas foi estranho ver ela chegando e indo direto ao ponto.

Mas não foi você que disse que não estava com saudade dela? o cachorro estava?

Maldito subconsciente que não me deixa em paz. Foi botar meus olhos nela e pronto: estou confuso de novo.

Indiquei com a cabeça a salinha do veterinário no corredor, mas antes de ir até lá ela se aproximou do cara e cochichou alguma coisa que eu não consegui entender. Ele fez que sim com a cabeça e beijou a testa dela, sem pensar direito eu cocei a minha garganta, estendi minha mão pra ele e disse:

"Não nos conhecemos, eu sou Gabriel ex marido da Lavínia. Você é...?"

Ele fez que sim com a cabeça e não apertou a minha mão estendida, apenas respondeu simples. - "Arthur."

O latido de Zé me assustou, há dias ele não late. Quando olhei Lavínia tinha aberto a salinha e ele já estava em cima dela no chão, exatamente como eu sempre via os dois abraçados rolando pelo jardim, pelos cômodos da casa...

"Oi amor da mamãe! Você estava com saudade da mamãe, filho? A mamãe também tava morrendo de saudade de  você, sabia? Era. Era sim."

Só notei que estava sorrindo quando meus lábios ressecaram mas não consegui parar. Me aproximei dos dois e me abaixei pra acarinhar o cachorro, mas pra ele eu nem existia. No mundo dele, só existia Lavínia.

"Compra uma ração pra ele comer agora." - Diferente da voz doce que ela tinha pra falar com o cachorro, comigo o tom era ríspido. Assenti e fui pro caixa ajeitar tudo, estava pagando quando ouvi ela dizendo: "Thur, vem aqui conhecer o meu filho."

O cara levantou e se abaixou do lado dela no chão. Sorri quando ele tentou se aproximar mais de Lavínia e Zé rugiu. - "Ele tem ciúme de você."

Se fosse o Zé.

"Aqui." - Estendi o pote com ração pra Lavínia e ela pegou sem erguer o olhar pra mim, Zé comeu na mesma hora que a comida entrou no campo de visão dele. Perdi a conta de quanto tempo se passou até o céu estar completamente escuro e meu celular tocar.

Você está recebendo uma chamada de Rafa 😍

Juntei minhas sobrancelhas ao notar que... Eu não queria atender?! Meses atrás eu estava sonhando com isso e agora que está acontecendo, eu simplesmente não queria atender.

Bloqueei a tela e voltei a prestar atenção em Lavínia. Sentada no chão de um pet shop, de jeans e camiseta branca básica, mas sorrindo tanto que era indescritível. Com certeza, a pessoa mais linda no recinto.

O veterinário que me atendeu antes se aproximou de nós sorrindo. Olhou pra mim e disse: "Eu falei que o problema desse garotão era saudade dela." - Ele então olhou pra Lavínia que deu um sorriso fraco. - "Também, uma moça bonita dessa, como ele não ia sentir saudades?"

Juntei as sobrancelhas. Ele está cantando a minha mulher na minha frente. Arregalei os olhos ao sentir quase um soco no estômago. Ex mulher.

Engoli seco.

"Gabriel, você ainda treina nos mesmos horários?"

Fiz que sim com a cabeça.

"Tu tá ligada que varia dependendo da escala de jogos, mas é quase mesma coisa."

Ela assentiu e disse: - "Certo. Eu vou ficar passando pra ver o Zé nos horários que você estiver em treino, então."

Fiquei nervoso, cocei a nuca e sorri sem graça. - "Pode passar quando eu tiver, pô. Tem bo entre nós dois não."

"Mas é melhor assim."

Mexi a boca algumas vezes sem saber o que dizer mas acabei assentindo. Coração acelerado, ciúme, nervoso constante.

"Tô indo então. Obrigada por ter me chamado, eu amo muito o Zé. Pede pra dona Gracinha... ela ainda trabalha lá?" - Fiz que sim com a cabeça. - "Tá, então pede pra ela me dar notícias dele."

Zé dormia quietinho no chão e ela apenas acarinhou a cabecinha dele antes de ficar de pé e sacudir os pelos da roupa.

"Tô indo então. Cuida dele e qualquer coisa me avisa, tá?" - Fiz que sim com a cabeça e sorri pra ela devagar. Lavínia deu um sorriso frouxo antes de se afastar e chamar com um gesto de mão o cara que veio com ela.

Meu coração acelerou mais que já estava e eu não consegui segurar a minha voz quando chamei:

"Lavínia?" - Ela me olhou. Estou de pé com as mãos apoiadas na aba do boné que estava virado pra trás e pedi mais baixo: - "Me dá... um abraço?"

Ela juntou as sobrancelhas e abriu e fechou a boquinha linda algumas vezes, provavelmente sem reação. Mas depois fez que sim com a cabeça fazendo menção de se aproximar de mim devagar, mas andei rápido até ter o corpo pequeno nos meus braços. O cheiro doce indecifrável no meu nariz me fez lembrar de tantas coisas...

Certo. Ciúme tudo bem, mas agora eu também estou... com saudade dela?

Dei um beijo demorado no topo da cabeça dela. Os fios lisos e castanhos tão macios quanto eu lembrava que eles eram... Lavínia soltou as mãos pequenas dos meus ombros e tentou se afastar antes de eu soltá-la. Apertei ela mais forte antes de deixá-la ir.

Lavínia passou pela porta e não olhou pra trás nenhuma vez.

Depois de alguns minutos, peguei meu cachorro que definitivamente parecia renovado. Acarinhei a cabeça dele que lambeu minha mão e confessei baixinho só pra ele ouvir: "É garotão... acho que agora quem ficou com saudade dela fui eu."

*Capítulo não revisado. Não sei quando sai o próximo, mas talvez hoje meia noite se tiver batido 100 votos. Obrigada por tudo sempre!

Casamento Arrumado - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora