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Lavínia: Início de novembro

A expressão de Débora lendo o papel colado no mural era indecifrável e isso estava prestes a me fazer roer as unhas. Ela veio com os olhos arregalados até mim e não disse nada.

"E aí??????!!!!!!!"

Algumas pessoas no corredor me olharam pelo meu grito mas nem liguei.

"As provas acabam dia 25, nós vamos conseguir ir a Montevidéu."

Dei alguns pulinhos de alegria e a abracei feliz da vida, mas ela mal retribuiu.

"Porque você não tá feliz que nem eu?"

Débora continuava sem expressão facial e isso estava me deixando nervosa. Ela passou a mão pelas tranças ao responder:

"Porque pra você faz sentido ficar feliz e acompanhar a viagem, né? Você é casada com o camisa 9. Eu... sou ficante? Namorada? Peguete? Do camisa 14."

Meu sorriso congelou no rosto porque pela primeira vez a confusão dela fez sentido pra mim. Eu e Gabriel somos casados por causa de um contrato, mas a gente se envolveu e agora somos o quê? Já começamos uma ficada morando juntos!

"Mas não fica triste tá? Acima de tudo eu sou flamenguista, tô indo ver meu time na segunda final da Liberta em três anos e não ver o Giorgian."

Ela forçou um sorriso branquinho e eu assenti fingindo que não estava completamente confusa da cabeça agora.

"¡Lavi, Gab me dijo que te llevara a casa!" (Lavi, Gab disse para mim levar você para casa.)

Mal cumprimentei Arrasca quando ele estacionou, só fiz que sim com a cabeça e entrei na mesma hora no carro porque vi de longe Caio acenando e fazendo menção de se aproximar.

(...)

Lavínia: 27 de novembro de 2021

Esfreguei as mãos no rosto sentindo meu coração acelerado como nunca.

"Acho que eu vou infartar."

Marília disse e eu concordei ficando de pé de novo, é impossível pra mim ficar sentada. Vi no momento exato que dois jogadores do Palmeiras se bateram contra Arrasca e meu amigo levou uma pancada no pescoço.

"Mas o que é isso, minha gente?! Ô Débora estão maltratando seu homem!"

Agradeci a Deus por Karoline estar com a gente, só as narrações dela do jogo são capazes de me fazer dar alguns sorrisos de cinco segundos.

"Esse juiz tá fazendo a Kátia cega? Cadê meu cartão, seu juíz? Uma surra dessa em Arrasta e ele não vai dar um cartãozinho nesse time do shrek?"

Ouvi Marília perguntar de onde ela tinha criatividade pra apelidar os jogadores. Esfreguei meu rosto com força quando o placar mostrou 80 minutos de jogo e o placar ainda estava 1x1.

"Mas minha gente, isso foi pênalti! Eu que tô aqui e sou míope, vi aqui que eles tavam ali no... É pênalti! Esse juiz tá fazendo a Kátia cega, só pode."

Gisellen levantou passando a mão na barriga e eu vi Hanna fazendo ela beber uma garrafa de água inteira. Nem perguntei se tava tudo bem porque sei que isso é o nervoso.

"Lavínia miga, calma! Calma. Gabigol fez dois nos últimos minutos da outra vez, dessa vez vai fazer também."

Não respondi Débora, foi exatamente quando Gabriel chutou a bola dentro do gol aos 85 minutos. Senti meu rosto todo molhado enquanto a torcida gritava, e vi de longe quando ele se aproximou fazendo a comemoração de sempre perto de onde estamos. Aos 3 minutos da prorrogação, ele fez mais um gol e eu me rendi de vez ao choro de alívio, felicidade, orgulho.

Casamento Arrumado - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora