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Lavínia: meados de fevereiro de 2029

"Arthur, vem aqui?" - Débora entrou no quarto de descanso sorrindo enquanto pedia. Arthur murmurou um não e ela respondeu: "É pra fazer minha ultrassom, vem."

Arthur respondeu ainda com parte da cabeça afundada no travesseiro: - "Debinha, o seu bebê tá exatamente igual estava na ultrassom de ontem."

Ela fez um bico e passou a mão na barriga redonda de aproximadamente 5 meses. Ela ia resmungar alguma coisa mas o meu bipe que indicava casos novos apitou atraindo a sua atenção.

"Quem é?" - Perguntei sentada na outra cama voltando a calçar meus tênis depois de ter tomado banho.

"O Caio, deve ser alguma besteira dele."

"Tô indo lá mesmo assim." - Respondi e saí da sala de descanso dos médicos depois de juntar minhas coisas. Ouvi ainda quando Débora começou a adular Arthur pra ver se ele fazia mais uma ultrassom nela.

"Me chamou?" - Caio fez que sim com a cabeça. Se encostou na bancada e colocou as mãos no bolso do jaleco.

"Preciso que você atenta a paciente do leito 14." - Não precisei perguntar o porquê de ele não atender, Caio mesmo respondeu: - "É uma menina que eu fiquei de ligar e não liguei. Te pago o equivalente a um abraço e um beijo na testa." - Sorri fraco e fui atender a garota.

"Eu sou a Dra Lavínia, sou ortopedista e não neurologista mas não temos esse especialista de plantão hoje. Em que posso te ajudar?"

"Cadê o Dr. Caio?" - Nossa, nem um boa tarde, doutora?

"Não veio hoje."

"Porque eu acho que você está mentindo?" - Dei de ombros, a menina e a amiga foram embora e eu fui rindo falar com meu amigo que se escondia na sala das enfermeiras. Lá dentro encontrei ele e Débora, ao me ver minha amiga pediu:

"Se você pedir, o Arthur faz a minha ultra."

"Eu não vou pedir, não agora que o clima entre a gente está voltando ao normal."

Sabe quando dizem: beijar só vai estragar a amizade se você beijar mal? É mentira. Também vai estragar se beijar bem mas você ainda amar o seu ex marido.

Eu quero Gabriel bem. Só não sou besta de sair por aí perguntando dele ou curtindo as fotos, porque mesmo que ele faça isso comigo às vezes, eu não sei o que realmente acontece na vida dele. Sei que Rafaella está namorando há uns cinco anos e até teve mais um filho do atual, mas Gabriel sai com uma modelo diferente a cada noite e isso está em todas as páginas de fofoca no dia seguinte, parecendo como era quando eu me casei com ele para baixar a poeira. E eu não julgo ele porque eu fiz o que queria: aproveitei muito a minha vida como Gabriel está fazendo na dele.

Eu quero Gabriel bem, eu amo ele e sempre vou amar. Mas o silêncio foi a forma que eu encontrei pra dizer isso.

Eu amo ele, mas fujo dos nossos encontros porque sei que sempre que olhá-lo vou despertar a paixão que eu luto todo dia pra manter quietinha aqui no peito. Eu amo ele, mas torço pra não decidirmos ir na Bolerie no mesmo dia, no mesmo meio de tarde. Ou então eu posso mais uma vez me jogar de cabeça nesse amor e ser surpresa com algo quando tudo parece estar indo bem. Eu amo Gabriel, mas aprendi a me amar também.

Gabriel: meados de fevereiro de 2029

Toquei a campainha de Rafaella e logo o grito de Heitor ecoou. - "Papai!"

"Oi, meu moleque!" - Eu disse assim que o garotinho de recém completados 6 anos saiu pela porta e me abraçou.

"A mamãe quer falar com você." - Ele disse baixinho e eu juntei as minhas sobrancelhas.

"O que você aprontou?" - O menino olhou pros lados e se soltou de mim, correndo atrás de uma bola de futebol no Jardim. Cada dia mais igual a mim. Assim que a mãe dele chegou na porta da casa ninando o filho que ela teve com Lucas ano passado, eu disse com um certo descaso na voz: - "Fala, Rafaella."

"Heitor foi expulso de sala hoje e só entra amanhã se eu ou você assinarmos um bilhete."

"Porque?"

Ela tirou um papel do bolso jeans e me estendeu. Passei os olhos rápido e dei um sorrisinho ao ler a frase em destaque na última linha, expulso de sala porque quando a professora pediu para a briga com um colega acabar, o aluno Heitor Santos Barbosa debochou.

"Tá achando bonito?"

"Tô, pô." - Assobiei pro meu filho se aproximar, e ao ver que eu não estava bravo o garotinho veio correndo. - "Quê que fizeram contigo?"

"Hm... Um menino me empurrou, eu empurrei de volta e quando a professora veio separar eu ri e fiz assim..." - Ele demonstrou dando uma risadinha e colocando as mãos pra trás, ao lado da cabeça, como se não tivesse feito nada demais. Eu não disse que esse menino é a minha cara?

"Você fez certo." - Não vi mas ouvi Rafaella suspirando. - "É o jeito dele, Rafaella. Deixa o moleque."

Ela me entregou o bilhete e uma caneta dizendo que se recusava a assinar já que o culpado disso fui eu. Assinei e ainda escrevi um "beijos" no cantinho do papel.

"Mais uma coisa, se policía aí nessas tuas saídas quando o Heitor tiver lá."

"Tá usando droga, Rafaella? Claro que eu não vou levar mulher lá para casa esses dias."

Ela fez um bico que quase explodia. - "Preferia que você ainda fosse casado com a Lavínia. Era melhor pro meu filho."

Cruzei os braços. - "E tu acha que eu não preferia também? Sonho com isso todo dia, fia."

Rafaella me deu mais trezentas instruções antes de finalmente deixar meu filho vir comigo pra viajar pro Rio. Seis anos e ela ainda não entendeu que eu sei cuidar desse moleque.

"Ô pai, a gente pode comer bolo no aeroporto?"

Meu coração acelerou. O outro amor da minha vida também adorava comer bolo no aeroporto sempre que passávamos por lá.

"Com certeza." - Sorri pra ele depois de prendê-lo na cadeirinha.

* pra vocês entenderem mais ou menos como está a vida dos dois nessa passagem de tempo. Calma gente, viram como não é o Gabriel que ainda ama ela?

Próximo amanhã.

Ps: Como muita gente tem lido a história (obrigada por isso!) Tenho recebido alguns comentários sobre o desenvolvimento da história. Estou aberta a opinião de vocês mas não vou mudar muito do que tenho planejado pra aqui. Não consigo responder todo mundo que quero e peço desculpas se fui grosseira com alguém.

Gab torceu o 😫 keriakuidar

O jogo de hoje 🤡

Casamento Arrumado - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora