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Lavínia: meados de agosto

Vi pela janela que o sol já começava a se por.

"Acho melhor eu ir pra casa." - Me esforcei pra sair do abraço de Gabriel, mas ele apertou mais forte o meu corpo contra o dele.

"Dorme aqui." - Me virei de frente pra ele e beijei o rosto algumas vezes antes de dizer baixo:

"Eu queria muito, mas eu não posso. Tenho que terminar umas coisas da faculdade, tenho..." - Antes que eu terminasse de falar, ele me interrompeu.

"A gente busca tuas coisas e tu estuda aqui. Senta lá na tua mesa e eu deito na cama pra ficar olhando, hein? Igual a gente fazia, amor."

Eu já estava molinha pela voz arrastada dele e ia dizer que durmo sim, mas o que ele disse ao completar a frase fez meu sorriso bobo vacilar no meu rosto.

"A gente pode até pegar logo tuas mala tudo e cê volta pra nossa casa. Hein, quê que tu acha?"

Pisquei os olhos tentando pensar rápido e ergui um pouco o meu corpo, apoiando em um dos meus cotovelos enquanto fingia estar concentrada nos arranhões que fiz nos braços dele por cima das tatuagens.

"Você quer dizer tipo, voltar a morar junto?"

"Issaí mermo."

Ri sem graça e me sentei na cama percebendo o quanto meu corpo estava colado de suor.

"Você não acha muito cedo pra isso?" - Perguntei receosa e tão baixo que tive dúvidas se ele ouviu.

"Cedo?!" - Gabriel riu sem graça e eu senti o peso dele se sentando na cama também. - "Lavínia, a gente já morou junto. A gente já foi casado! Isso não seria novidade."

Encarei minhas mãos cheias de anéis e minhas unhas pintadas de azul escuro.

"Por causa de um contrato. A gente fez isso por causa de um contrato de casamento. Morar junto de verdade é tipo... ooutraaa coisa." - Gabriel juntou as sobrancelhas grossas e definidas e ainda fez um bico com os lábios arqueados para baixo, provavelmente pela ênfase dada na palavra outra.

"Amor, eu não tô entendendo. De verdade. Se a gente já fez tudo isso, qual que é o problema de fazer agora? Dessa vez ia ser mais real do que nunca."

Comecei a me sentir mal por simplesmente não estar preparada pra isso. Fiquei em silêncio e Gabriel continuou:

"Dessa vez a gente pode até ter o nosso filho." - Ele abriu um sorriso gigante depois e eu soube que era porque o maior sonho de vida pessoal de Gabriel Barbosa é justamente esse: ser pai.

"Não, Gab. A gente não pode. Eu quero terminar a faculdade antes de ser mãe."

Gabriel abriu a boca e fechou algumas vezes. - "Mas isso é daqui a três anos e meio."

Dei de ombros. - "E eu vou ter 24 anos, não 20."

Gab engoliu seco e eu pude ver isso pelo movimento na garganta dele.

"Tem tanta gente que concilia os dois, amor. E eu tenho dinheiro, ia ser mais fácil ainda."

Neguei com a cabeça. - "Eu não quero conciliar os dois e não quero depender do seu dinheiro. Eu tenho os meus próprios desejos e ambições, Gab."

Ele fez que sim com a cabeça e não insistiu mais, nem pra eu ficar aqui apenas por hoje.

Gabriel: dia seguinte

Quando eu cheguei ao CT, os pensamentos sobre ser pai me assombraram mais que nunca. E o fato de mal entrar e já enxergar Filipe Luís com a filha brincando só piorou.

"E aí, parça." - Fiz um toque com ele e antes mesmo que eu me sentasse, a menininha loira veio me abraçar.

"Bom dia, tio Gabriel!" - Ela me deu um sorrisão e eu notei que tinha arrancado mais um dente de leite.

"Bom dia, Sarinha. E essa porteira aí?" - Ela riu mais me mostrando que agora faltavam doze dentes de leite caírem. Meu coração acelerou e eu quase senti vontade de chorar.

"Tá tudo bem?" - Filipe perguntou e eu apenas assenti.

"Tá, tá sim. Tô com a cabeça cheia, só isso." - Ele me olhou desconfiado.

"Você sabe que não mente muito bem, né?" - Dei um sorriso grande pro meu amigo.

Lavínia: semana seguinte

¡Lavi!" - Me joguei contra os braços de Arrasca e o abracei como se não o visse há anos, mesmo que eu tenha estado com o uruguaio hoje de manhã. Nos soltamos e ele olhou pra trás de mim na fila de entrada do Maracanã e perguntou:

"¿Deb não viene?"

Meu coração apertou quando respondi: "Ela teve um probleminha mas mandou eu dizer que te ama e que você vai arrasar."

Ele sorriu fraco e eu me senti na obrigação de abraçá-lo de novo. Logo chamaram a atenção dele por não estar no vestiário e ele teve que entrar, mas antes de cada um de nós seguir seu caminho eu pedi a ele:

"Não diz pro Gabriel que eu tô aqui não, tá? É surpresa." - Arrasca sorriu e concordou antes de caminhar pelos corredores exclusivos pras equipes e eu seguir pelo da torcida até chegar na arena.

Sequei o suor das minhas mãos na calça jeans e me aproximei das meninas, a primeira a me ver foi Marília.

"O quêêêê? Vocês voltaram?" - Eu ri fraco sentindo ela me abraçar e virar meu corpo para olhar o nome e o número da camisa rubro negra que visto, certificando um Gabi 9 bem lindo nas minhas costas.

"Eu não sei mas espero que sim." - Respondi baixinho sobre termos ou não voltado.

Desde a semana passada Gabriel está um pouco estranho, com certeza pela minha negativa em morar com ele e principalmente em termos um filho. Eu quero ter um filho dele, só não agora.

Logo no aquecimento do time, eu fiquei o olhando esperando Gabriel olhar pra cá e nada disso acontecer. No início do primeiro tempo, ele fez aquele negócio que já me contou que fazia: estava correndo no campo, de repente parou e olhou pro lugar onde eu sempre costumei sentar quando os jogos são aqui no Maraca. Pra sua surpresa, hoje eu estava.

Não pude ver o rosto dele, estava muito longe pra isso, mas pude ver que Gabriel correu com toda agilidade e velocidade atrás da bola que tinha acabado de ser roubada dos pés de Bruno Henrique.

"Eu te amo." - Disse baixo mesmo que ele não pudesse ouvir e segurando o colar com um G e um 9 pendurados no meu pescoço.

*Maratona 1/3.

Casamento Arrumado - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora