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Gabriel: uma madrugada em meados de maio

Rafaella se jogou na cama do meu lado tentando recuperar o fôlego.

"Nossa, foi bom, né?"

Esfreguei meus olhos com as palmas das mãos e murmurei: - "Uhum." - Só pra ela mudar de assunto.

Não está sendo nada como eu imaginei que fosse.

Sabe quando você tem uma idealização sobre alguma coisa, mas quando acontece é de uma forma diferente do que você tinha pensado? Os meus atos de me divorciar de Lavínia e o de tentar mais uma vez com Rafaella foram exatamente assim.

Pro Gabriel de Fevereiro terminar o casamento com Lavínia pra poder ficar com Rafaella era a chance de ser feliz de novo.

Pro Gabriel de maio, que agora se arruma sozinho pras ocasiões em que eu e Lavínia costumávamos ir juntos, que sente falta da gritaria dela pela casa, de chegar de viagem e vê-la lutando contra o sono para me esperar, dos nossos cafés da manhã especiais, de parar no meio do jogo e procurar por ela na arquibancada sorrindo para mim. Pro Gabriel de hoje... esse cara de três meses atrás é um otário idiota que não percebia o quanto já era feliz e já tinha tudo que podia querer.

Eu estava bem. Bem na minha vida profissional, na minha vida pessoal, mas a ideia que um dia eu coloquei na minha cabeça que Rafaella era perfeita pra mim me fez jogar tudo que eu mais queria no lixo. A vida perfeita que eu tinha escorreu pelo ralo como água suja. Quem via minhas aparências com Lavínia nos achava perfeitos um pro outro, mas hoje eu vejo claramente que nunca foram aparências.

Quais as chances de o amor da minha vida precisar fingir que era o amor da minha vida para poder aparecer justamente na minha vida? Sou confuso até quando sei bem o que quero e quem eu amo.

"Você tá prestando atenção, Gabriel?" - Rafaella colocou o rosto harmonizado na frente do meu. Não, eu não estou.

"Tô... Tô sim." - Ela sorriu fraco e voltou a tagarelar enquanto eu pensava nas palavras certas pra dizer a ela que tentar de novo foi um erro.

Não pude fazer isso porque meu celular tocou e eu fiquei surpreso com duas coisas: quem estava ligando e como o contato ainda estava gravado.

Você está recebendo uma chamada de Lavínia Leal Barbosa

Não é Barbosa mais, só que eu nunca tirei isso do meu celular...

"Alô?" - Atendi e notei Rafaella parando pra prestar atenção em mim e se encostando nas minhas costas pra ouvir com quem eu falava.

"Oi, Gabriel. Desculpa estar ligando esse horário da noite, desculpa pela ligação também, é que eu aqui no hospital..."

Interrompi na mesma hora sentindo a preocupação me tomar o ar. - "Cê tá no hospital? O que aconteceu? Cê tá bem?"

"Tô, tô bem sim. É que a Giulia entrou em trabalho de parto e eu cheguei aqui, mas como ela é menor de idade estão exigindo a presença da mãe. Você pode, por favor, buscar a Gracinha e trazer aqui? Nós não estamos conseguindo uber." - Me levantei rápido da cama e ignorei os resmungos de Rafaella. Prendi o celular na orelha com o ombro e comecei a procurar minhas roupas enquanto ela ainda falava: - "Eu até pensei em pedir pra outras pessoas, mas o Arthur trabalhando, Geizon viajando pra fazer show... sobrou você. Me desculpa por te incomodar."

"Ei! Presta atenção em uma coisa: você não me incomoda. Nunca."

Meu coração acelerou na espera da reação dela, mas Lavínia apenas disse: "A Gracinha te esperando, ela vai te dizer qual é o hospital. Tchau e... obrigada." - E desligou.

Passei a mão na tela e voltei a me vestir enquanto dizia: "Melhor cê ir embora, Rafa."

"Pra onde você vai?" - Perguntou me seguindo pela casa.

"Dar uma moral pra uma pessoa importante pra mim." - Sei exatamente de qual delas estou falando. - "Amanhã a gente almoça que eu tenho uns bagulho pra te falar."

Peguei a chave do carro e saí.

Lavínia: nessa madrugada

Me remexi desconfortável na cadeira quase cochilando na sala de espera do hospital. Gabriel se aproximou e me estendeu uma garrafinha de água que eu aceitei calada - como estou a noite toda desde que ele chegou.

"Acompanhantes da paciente Giulia Souza?" - Me levantei sentindo meu corpo implorar que eu continuasse sentada. Gabriel pegou minha mão antes de nos guiar até a minha médica ginecologista que eu fiz questão que acompanhasse a filha da Gracinha também. Soltei nossas mãos assim que meu cérebro cansado processou o toque. - "Correu tudo bem, vocês podem vir ver a bebê e a mamãe."

Passamos no quarto de Giulia que dormia, mas Gracinha não parou de chorar e de me agradecer em nenhum momento. Depois, passamos pro berçário pra ver a bebê que ainda não tem nome.

"É aquela do cantinho, vestida de verde." - A médica mostrou.

"Nossa, é bonitinha né? Nem parece com esses outros que tem cara de joelho." - Gabriel constatou rindo e apontando pros outros bebês, empurrei o ombro dele de leve.

"Sabe, Lavínia, eu sempre achei que vocês iam ter um. Toda vez que você vinha fazer exames eu ficava na expectativa, e quando entrou em contato comigo eu achei que era seu bebê. Bebê de vocês, na verdade."

Os olhos escuros dela me transmitiam sinceridade. Fiquei sem saber o que responder, mas Gabriel disse:

"Eu queria que tivesse sido."

Meu coração acelerou tanto que poderia ser sentido em qualquer parte do meu corpo. Pra minha sorte, a médica foi chamada pra atender alguma paciente, e meu celular vibrou no bolso.

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Malvadão
no Rio 05:44
Comprei pa tu aquele bolo que tu curte do aeroporto 05:45
no hospital ainda? 05:45
Segura um dez que eu passo pra te buscar 05:45

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"Você quer uma carona? O dia já amanheceu, mas eu acho que dá tempo você dar um cochilo antes da aula." - Gabriel perguntou ainda olhando os bebês.

"Não precisa, o Geizon..." - Pela junção das sobrancelhas grossas eu soube que ele não sabia de quem eu estava falando, então expliquei: "O Xamã vem me buscar."

Gabriel ficou olhando pro meu rosto alguns segundos mas depois assentiu devagar. Pelos quinze minutos seguintes nós ficamos em silêncio a maioria do tempo, comentando apenas sobre a bebê. Senti que ele queria falar mais alguma coisa, mas não dei brecha.

Meu celular vibrou e eu vi que era Xamã que já tinha chegado, então disse pra Gabriel: - "Ele chegou, tô indo." - Gab assentiu devagar e eu continuei: - "Obrigada por ter vindo."

Ele negou com a cabeça e abriu um sorriso que eu tive a impressão de ser triste quando ele coçou a nuca e concordou: - "O que você me pede que eu não faço?"

"Obrigada mesmo assim." - Sorri fraco e mesmo sabendo que era arriscado, me aproximei e dei um beijo rápido na bochecha dele antes de me afastar pra sair do hospital.

*A outra meta foi alta porque eu precisava de tempo pra conseguir escrever sem vocês terem batido a meta. Como quero deixar alguns escritos, vou mantê-la alta, tá? pra poder normalizar e não deixar vocês sem atualização mesmo que tenham cumprido o que pedi. Então, 150 votos para o próximo.

**Capítulo não revisado.


Casamento Arrumado - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora