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Lavínia: quatro dias depois

Se meses atrás Gabriel tivesse viajado por 15 dias, passado dois dias em casa e depois saísse pra mais uma viagem, eu acharia que era a oitava maravilha. Agora, é horrível.

"Seu Gabriel viaja e a senhora fica tão descabriadinha."

Ignorei as formalidades de sempre antes de perguntar:

"Eu fico o quê, Gracinha?"

Ela deu uma risada fraca antes de passar a mão no meu ombro num carinho.

"Triste, filha."

Funguei concordando. Brinquei com o resto do omelete no prato até sentir o cheiro amadeirado entrando na cozinha. Dei um pulo da cadeira ao ver Gabriel encostado no batente sorrindo:

"Você tá aqui!"

Ele aumentou o sorriso e eu me joguei contra o corpo dele feliz da vida.

"Eita Lavínia, parece que passou um mês sem me ver."

Fechei a cara.

"Você tem um problema pra ser legal, hein cara? Puta que pariu."

Resmunguei mas não me soltei dele.

"Tu já tomou café? Nem me esperou?"

"E eu vou esperar quem eu não sei se vem?"

Olhei pra ele no momento que Gab revirou os olhos.

"O jogo é no Maracanã, tu acha que eu não ia vir em casa?"

Ignorei e voltei a abraçá-lo. Claro que eu achei, eu não sei o que esperar de um casamento fake que não parece mais ser fake!

"Senta ali que tu vai tomar café de novo, dessa vez comigo."

Ele deu um tapinha na minha bunda como se indicasse pra eu me mexer.

"Não posso, se não vou me atrasar pra faculdade."

"Aula dia de sábado?!"

"Pior ainda, é prova."

Demonstrou a mesma indignação que eu quando descobri.

"Se antes eu já tava puta com isso, imagina agora que você chegou!" 

Ele colocou as mãos uma de cada lado do meu rosto e me beijou. Fiquei só sorrindo porque nunca vou me acostumar com isso...

"Então vamos logo pra você não se atrasar. Vamos almoçar fora depois?"

Fiz que sim com a cabeça veemente e Dona Gracinha passou sorrindo pra nós, foi quando Gab perguntou:

"A senhora tá bem? Pensei que não vinha hoje. E a filha, como tá?"

"Ah, hoje era minha folga mesmo, mas a Dona Lavínia fica tão tristinha quando o senhor não tá que eu não gosto de deixar ela só."

Gabriel me olhou com um sorriso sacana.

"Ela fica, é?"

Tentei me desvencilhar do abraço forte enquanto ouvia dona Graça dizer que eu ficava "capenga, descabriada, xôxa" e Gabriel ainda ria me prendendo mais forte.

"Qual é, Gracinha? A senhora é minha amiga ou dele?"

Ela sorriu doce já passando com uns jarros de planta pra levar de volta pro jardim.

"Que mal tem o seu marido saber que tem uma esposa apaixonada, minha filha?"

Fiquei vermelha na hora mas Gabriel só ria. Deu um beijo na minha bochecha e depois no canto da minha boca antes de começar mais um beijo. Ouvi a voz de Gracinha antes que o ar me fizesse falta:

"Desculpa atrapalhar, mas seu Caio tá lá na porta e parece que não tá num dia bom."

Gabriel resmungou me soltando e já saindo da cozinha:

"Vamo lá que é hoje que eu descubro quem é esse."

Gracinha arregalou os olhos e eu neguei pra ela.

"Isso é besteira dele, fica tranquila."

Sussurrei já apertando o passo pra seguir Gabriel que já tinha passado do Jardim.

Gabriel: nesse dia

No momento que a porta abriu, eu vi o sorriso crescer no rosto do cara encostado num carro vermelho.

"Bom dia. Cadê a Lavínia?"

Antes que eu respondesse ela passou por mim e cumprimentou o cara com dois beijinhos no rosto. Tentei fazer vista grossa pra mão dele na nuca dela, mas não consegui.

Que caralho de negócio estranho acelerando meu coração e me deixando quase cego.

"Oi, Caio. Eu te disse que não precisava me dar carona? Eu vou de uber."

Ele negou com a cabeça.

"E eu disse pra você deixar o dinheiro do uber pra comprar outra coisa! Não me custa nada te dar uma carona, estamos saindo do mesmo condomínio pra mesma faculdade."

O cara tava fingindo que não tá me vendo? Ele riu ao dizer:

"Carona é sustentável pro planeta."

E eu com isso? O planeta que se foda.

"Ô parceiro, massa aí tua atitude mas não precisa não."

Minha voz deve ter saído um pouco grosseira porque ele estreitou os olhos pra Lavínia. Reafirmei me aproximando dos dois:

"Eu levo minha mulher, pode deixar. Segue teu curso aí na paz."

Apontei com a cabeça pra saída da rua e Lavínia sorriu amarelo pro cara. Posso jurar que ela sibilou um pedido de desculpas, mas fingi não ter visto. Ele se despediu apenas dela antes de dar a volta no veículo, mas antes de entrar no banco do motorista, disse olhando pra mim:

"Tem certeza? Ela não pode se atrasar que hoje tem uma prova importante."

Fiz que sim com a cabeça trancando o maxilar.

"Certeza absoluta."

O tal Caio assentiu antes de entrar no carro e dar partida.

*Obrigada mesmo mesmo mesmo por tudo.

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*Não revisado

Casamento Arrumado - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora