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Gabriel: meados de maio

"Gabriel, pelo amor de Deus toma cuidado com o meu filho!" - Rafaella veio atrás de mim até o quarto de Heitor.

"Ih, Rafaella, fica tranquila que eu me entendo com meu moleque. E tem mais, eu tô levando ele pra um aniversário de criança, não é nada demais. O aniversário é de um filho da Marília e do Éverton, você acha mesmo que vai ter algum perigo num aniversário feito pela Marília?"

Ela negou e respirou fundo antes de se abaixar no berço na nossa frente e pegar Heitor nos braços. Ficou conversando com ele e quando estava prestes a chorar me deu o meu filho e saiu quase correndo pro quarto dela. Heitor tentou virar o pescoço pra olhar por onde ela tinha saído e eu apenas ri:

"Cara, se você não notou ainda, ela é louca." - Posso jurar que meu filho me deu um sorriso.

Peguei a bolsa dele e saí do apartamento de Rafaella. Arrumei meu filho na cadeirinha conversando com ele até chegar no salão de festas do aniversário de 5 anos de Augusto. Esse moleque tá gigante, puta que pariu. Já na recepção de pessoas, Marília foi a primeira a me ver e vir até mim:

"Oi, Gab! Oi, pequeno Gab." - Ela tocou apenas na barriguinha de Heitor, com certeza por ser uma das melhores mães que eu conheço e saber que não se pega em mão de bebê.

"Sua mãe deve ter agradecido por isso em casa, né?" - Perguntei pra Heitor me referindo ao medo constante de Rafaella sobre qualquer coisa acontecer com nosso filho. No meu colo, ele continuava sorrindo.

Senti Guto abraçando minhas pernas e pedi a Marília que segurasse Heitor pra eu poder levantar o baby que não é mais baby no ar. Quando fiz isso, ele gargalhou e gritou do jeito que a gente sabia que tinha deixado o menino feliz.

"O que eu ganho esse ano?" - Ele disse baixinho ainda no meu colo e quem gargalhou dessa vez foi eu.

"Quer?" - Apontei com a cabeça pra Heitor no colo de Marília e Guto torceu o nariz.

"Não! Na minha casa já vai chegar mais um."

Pelo olhar repressor que Marília deu pro garoto, tive a confirmação que ela está grávida mais uma vez.

Não tive tempo de perguntar nada a ela porque o amor da minha vida veio vindo caminhando sorridente até onde estamos. - "Titia iaiá!" - Guto quase se jogou no chão pra ir até ela que sorriu e fez a mesma coisa que eu de erguê-lo no ar, já alguns metros de distância de mim.

"A tia tem que ir embora, tá? Mas a tia te ama muito do tamanho do mundo, do tamanho do universo." - Guto fez um biquinho mas em seguida sorriu e repetiu que a amava e o quanto a amava.

Ótimo, agora que eu cheguei ela já está indo.

Lavínia só então me notou. Olhou pra mim assustada e depois pra Heitor no meu colo, demorando alguns minutos para voltar a caminhar.

"Má, tá tudo lindo amiga! Mas eu já vou, tenho um plantão que começa agora meia noite."

Me intrometi. - "Porra, sério?"

Lavínia me olhou quase sem entender e respondeu: - "Sério. A minha faculdade tá pegando bem pesado nos estágios agora." - Ela fez uma pausa me olhando e olhando pra Heitor, mas depois abraçou Marília. - "Tchau, amiga. Beijo, amo vocês."

Elas se separaram, Marília saiu com Guto e Lavínia me olhou. - "Tchau, Gab. É bom saber que você está bem."

Dei um sorriso grande. - "Tchau, Lá. Você continua a pessoa mais bonita num raio de um milhão de quilômetros."

Ela não respondeu, mas os olhos castanhos brilharam. Olhou depois de novo pra Heitor e eu ofereci: - "Quer pegar ele?"

Ela fez que não com a cabeça e depois disse: - "Melhor não, se a mãe dele ver não vai gostar e eu estou fugindo de qualquer tipo de confusão com ela."

Se a mãe dele ver. Lavínia com certeza acha que Rafaella está aqui e pior, que estamos juntos. Não, amor. Eu estou fazendo o mínimo e cumprindo o meu tão sonhado papel de pai.

"Deixa pelo menos eu te apresentar pra ele?" - Perguntei. Lavínia pareceu receosa mas fez que sim com a cabeça, fiquei mais perto dela e Heitor a olhou.

"Lavínia esse é o Heitor, o amor da minha vida." - Olhei pra ela tão perto de mim e o cheiro doce indecifrável sempre com o mesmo poder de me fazer sentir em casa. - "Filho essa é a Lavínia, amor da vida do papai."

Ela deu um sorriso frouxo e por alguns segundos ficamos nos olhando. Uma vez eu li em algum lugar uma frase que diz ás vezes a gente não fica com o amor da nossa vida.

"Agora eu realmente preciso ir." - Ela disse baixinho e sem pedir eu aproveitei nossa proximidade pra lhe dar um abraço meio torto por causa do meu filho no meio de nós dois.

"Vai com Deus."

"Fica com ele."

Lavínia me deu um sorriso e saiu do salão de festas segundos depois. Devagar fui me aproximando do pessoal e mostrando meu moleque pros que ainda não o conheciam.

Gabriel: refletindo sobre esse dia anos depois

O maior tempo que eu passei sem ver o amor da minha vida durou desde o dia do aniversário de 5 anos do Augusto. Aquela foi a última vez que eu vi Lavínia numa margem de seis anos.

Uma coisa bizarra nisso é que eu sei que o Rio de Janeiro tem milhões de habitantes e não esperava esbarrar com ela numa esquina comprando pão, mas eu certamente esperava vê-la em algumas datas importantes: aniversários dos meninos e meninas filhos dos jogadores, nascimentos de mais filhos do pessoal, nas consultas de Heitor no hospital que ela faz estágio... Ela literalmente sumiu do mapa pra mim.

Tudo que eu sei sobre ela é o que eu vejo diariamente no Instagram e o pouco que meus amigos deixam escapar pra mim.

Mas isso me deixou uma lição: você pode ter alguém e mesmo consciente que ela é o amor da sua vida, deixá-la ir. Você pode até mesmo passar seis anos sem vê-la, se for o amor da sua vida ela vai encontrar um jeito de voltar pra sua vida.

Lavínia encontrou o jeito de voltar pra mim. Mas é claro, só aconteceu mais de seis anos depois.

*vou tentar postar mais um capítulo hoje, mas posso a noite.

Casamento Arrumado - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora