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Gabriel: fim de maio

Soltei um grunhido de dor assim que entrei em casa. Me encostei na grande porta de madeira pra descansar alguns minutos antes de tentar subir essas escadas. Quando fui botar o pé direito no chão gritei de dor, vi que não ia conseguir sozinho então comecei a chamar a única pessoa que sei que está em casa:

"Lavínia! Lavíniaaaaa!!!"

Fiquei olhando pras escadas esperando ela aparecer, e nada. Quando ia chamar de novo a morena veio caminhando da outra porta, a que dá acesso à área de lazer.

"Oi. O que você tem? Que cara é essa?"

"Meu pé tá fodido de novo."

Ela se aproximou de mim e só então eu percebi que a única coisa que ela veste é um biquíni verde água que contrasta muito bem com a pele parda.

"Em qual lado você precisa de apoio?"

Apontei pro lado direito e ela passou meu braço direito nos ombros e por um minuto pensei em como ela se encaixou perfeitamente bem nesse espaço.

"Eu não vou conseguir subir as escadas com você, então eu vou te botar aqui no sofá e vou organizar o quarto daqui de baixo pra você. Pode ser?"

Fiz que sim com a cabeça me arrastando com o apoio dela pra o sofá. Lavínia me ajudou a estirar a perna e a colocar uma bolsa de gelo, foi quando a dor começou a aliviar.

"Como foi isso? Você pisou falso? Arrastou o pé? O pé virou? Você lembra qual era o ligamento do último machucado?"

As mãozinhas delicadas tocaram devagar meu pé examinando-o.

"Como você sabe tanta coisa?"

Ela deu de ombros e respondeu sem me olhar.

"Eu comecei a cursar Medicina, mas depois não pude continuar porque a empresa estava falindo e meus pais não podiam mais pagar... Se eu fizer isso, dói?"

Fiz que sim com a cabeça e ela respondeu que então era sim o mesmo ligamento que eu lesionei ano passado.

"Eu não sabia que você já tinha estudado Med não."

Lavínia riu pelo nariz se levantando. Controlei meus olhos pra não olhar pros seios fartos balançando.

"Claro que não sabia, você nunca perguntou nada sobre mim."

Antes que eu pudesse responder, ou fazer algum deboche, ela saiu da sala. Alguns minutos depois voltou com as minhas velhas muletas e dizendo que o quarto já estava organizado.

"Como você sabia onde estavam?"

"Eu passo muito tempo nessa casa. Óbvio que em 3 meses eu já revirei todos os cômodos e já mexi em todos os móveis, decorações."

Fiz que sim com a cabeça e passei na frente dela pro quarto.

"Isso foi no treino?"

"Foi pô. Eu virei o pé mas não senti nada na hora, tá ligada? Veio doer quando eu tava dirigindo, aí quando cheguei aqui mal botava o pé no chão."

Ela fez que sim com a cabeça e com a luz clara do quarto foi que eu vi mesmo que ela estava bonita nesse biquíni. Devo ter ficado olhando por muito tempo porque ela perguntou:

"O quê?"

Disfarcei rápido:

"Como você tava tomando sol de noite?"

Lavínia ficou me olhando desconfiada mas respondeu:

"Eu não estava tomando sol, estava arrumando a área de churrasco. Vesti um biquíni porque o calor do Rio de Janeiro hoje está anormal."

Fiz que sim com a cabeça. Achei que voltaríamos ao nosso silêncio de sempre, mas ela disse enquanto ajeitava meu pé em almofadas e bolsas de gelo:

"O Gerson vai sair do time?"

"Tão negociando ele."

Ela me olhou fazendo bico enquanto ligava o ar condicionado.

"O coringa não!"

Não segurei uma risada e ela continuou me fazendo perguntas sobre todos os jogadores possíveis, parecendo querer aproveitar que hoje eu estou respondendo. Me deu alguns remédios e perguntou:

"Você quer jantar?"

Fiz que sim com a cabeça e ela saiu. Fiquei vendo uma série qualquer até Lavínia voltar ainda de biquíni segurando uma bandeja com sanduíches e suco, colocá-la no meu colo e começar a sair do quarto.

"Qualquer coisa grita. Ou me liga."

Assenti e olhei de novo pra ela que já saía do quarto.

"Lavínia? Obrigado, tá?"

Ela deu um sorriso fraco e saiu do quarto.

(...)

Lavínia: manhã seguinte

"Bom dia, dona Lavínia."

Sorri pra minha secretária antes de me aproximar e dar um beijo na testa dela.

"Bom dia, dona Gracinha. A senhora tá bem?"

Ela começou a contar sobre todos os cinco filhos e eu fiquei ouvindo até ela perguntar se eu queria algo especial pro café.

"O Gabriel já tomou café?"

A jovem senhora arregalou os olhos.

"Dona Lavínia, eu não queria dizer isso pra senhora... Mas o seu Gabriel não dormiu em casa não. O quarto dele tá igual eu deixei ontem."

Juntei as sobrancelhas mas depois dei um sorriso.

"Não, dona Gracinha, ele tá aqui no quarto de hóspedes." - Apontei na direção do quarto e ela veio me seguindo. - "Ele chegou lesionado do treino ontem e eu não tinha força pra subir com ele."

Dei umas três batidinhas na porta e ouvi um "Entra". Gabriel estava sentado na cama vestido em uma das roupas limpas que eu trouxe pra ele ontem, percebi também que o quarto estava um pouco molhado indicando que ele deve ter tomado banho. Desejei bom dia e me abaixei pra olhar o inchaço do pé enquanto nossa secretária disse que ia fazer um café reforçado pra ele.

"Você vai pro CT hoje?"

"Vou... pra equipe lá olhar esse pé."

"É o certo mesmo. Você precisa de ajuda pra ir?"

Com aquela cara de marrento, percebi que ele precisava sim mas não queria dar o braço a torcer. Fiquei em silêncio esperando uma resposta, ele quem tá sem pisar no chão e eu que tenho que implorar pra ajudar?

"Se não for te incomodar, ia ser uma boa."

Assenti e coloquei o pé dele no chão antes de ficar de pé de novo.

"Vou só me arrumar, comer alguma coisa e te levo então."

Comecei a sair do quarto e ouvi a voz de Gabriel.

"Obrigado mais uma vez."

"Duas palavras de educação em 12 horas? Vou ficar mal acostumada."

Ele refez a cara de marrento e eu saí do quarto pra ir tomar banho.

Casamento Arrumado - GabigolOnde histórias criam vida. Descubra agora