Capítulo 30 - Tocha.

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Antes que eu pudesse me dar conta, os tons marrons do outono foram substituídos pelos acinzentados do inverno.

É estranho comentar isso sendo alguém como eu, mas acredito que essa passagem do tempo incrivelmente rápida se dê pela minha vida social atarefada. Se por um acaso eu acabasse por esbarrar naquele Kim Taehyung do ano passado, provavelmente ele riria da minha cara e diria que sonhar é bom. Mas essa é a mais pura realidade. Só o trabalho já ocupa metade do dia, fora as minhas saídas com o coelhinho e as visitas de papai e mamãe que se tornaram cada vez mais comuns. Inclusive, da última vez, fui capaz de apresentar meus novos amigos a eles e acabou que todos levaram um monte de comida para casa, já que mamãe preparou em demasia. Jimin até mesmo me mandou uma mensagem para dizer que talvez não conseguiria comer tudo antes de estragar, porém o acalmei dizendo que Hobi-hyung daria conta por ele. Afinal, hyung é o apreciador número um das comidas de mamãe desde o colégio e agora não saía da casa do namorado. Dou uma semana para todos os acompanhamentos sumirem da geladeira.

E, também, tenho me encontrado mais com os meninos. Chegamos a combinar de uma vez por semana irmos na casa um do outro para assistirmos a filmes, passarmos o tempo enquanto jogamos conversa fora ou, como é o caso de hoje, jogarmos algo para nos distrair. Fortalecer os laços.

– Então, Jin-hyung... – Jungkook fingiu uma expressão de tristeza e empatia ao segurar sua próxima carta. – Mais quatro! – Aquela carta temida aparecia mais uma vez. Era a quarta seguida.

– EU DESISTO! – Explodimos todos em gargalhadas ao ver Seokjin-hyung levantar abruptamente ao se dar conta que teria que pegar doze cartas no total. – VOCÊS ME ODEIAM!

...com o ódio saudável da competição.

– Nós não te odiamos, hyung. O baralho que te odeia. – Respondo-o e recebo um olhar de desgosto em retorno. Minha barriga dói de tanto rir.

Jimin rolava como um louco no chão de madeira enquanto observava mais uma vez aquele +4 desenhado no canto da carta.

– Eu não acredito que você é tão azarado! – Faço um sinal para ele parar de fazer aquilo, já que desse jeito eu mesmo não conseguiria segurar o riso por muito tempo. Seokjin, por outro lado, ficou irritado e deu-lhe um tapa no ombro. – Por que você tá me batendo...!? Assuma a sua responsabilidade e compre as cartas!

– Isso, hyung, não seja um covarde! – Completava Hobi-hyung, fazendo um high-five com o namorado.

Ele parecia extremamente derrotado ao aceitar aquela punição divina que caíra sobre si. Mas, essa não é exatamente a graça de se jogar UNO? Um dos maiores prazeres desse jogo é justamente ver algum dos amigos comprarem inúmeras cartas pelo seu azar. Até mesmo se você for o escolhido do acaso, as lembranças serão ótimas. Sendo sincero, até fiquei surpreso por não ser eu o azarado da vez. Acho que aquele ditado da sorte no amor e azar no jogo não é tão real assim. Seokjin-hyung não parece sortudo em nenhum dos dois aspectos.

– O de vocês tá guardado. Vou fazer cada um comprar trinta e seis na próxima vez. – Fez um gesto parecido com um "estou de olho".

É mesmo bom estar na companhia daqueles que me importo tanto. Essa sensação de paz e alegria infinita só é possível com eles.

Não estou querendo ser muito sentimental, mas sou muito grato por tê-los conhecido. Se porventura eu não tivesse aceitado os convites insistentes de Hobi-hyung, provavelmente estaria ainda deitado enquanto encarava o teto sem graça do quarto. Estaria remoendo o passado, preso a um sentimento de incapacidade e a um vazio existencial. Não teria descoberto a exceção que me ensinou o sentimento do amor, muito menos amizades as quais eu pude me conectar tanto. Óbvio, a saudade ainda me consome. Ninguém jamais será capaz de ocupar o lugar de Yoongi-hyung. Porém, pelo menos agora, sinto que tenho o direito de viver graças a essas pessoas que estão comigo.

Prelúdio {kth+jjk} [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora