Capítulo 1 - Reflexão.

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Futuro.

Uma palavra – uma ideia – que fascina tanta gente. É tão comum ouvir no dia-a-dia como seria bom prever o que está por vir, como seria bom ter certeza que algo dará certo ou errado, se nossos sonhos se realizarão...

Mas...

Todos estão enganados. Não conseguimos ser felizes sabendo o que nos aguarda. E se o futuro for algo pelo qual não estamos preparados para aguentar? E se ficássemos tão presos a isso ao ponto de esquecermos como viver o presente? E se... não conseguíssemos mudar uma tragédia? Não seria angustiante viver com esse sentimento? Experiência própria – o que nos faz viver é justamente essa ansiedade, essa não certeza. E... prever isso, traz muita dor de cabeça.

Passei a ver o futuro das pessoas ao tocá-las quando tinha mais ou menos 10 anos, durante uma excursão escolar ao museu. A guia explicava, de maneira simples, os períodos históricos dos objetos expostos e bastou um toque em meu colega para que minha vida mudasse por completo.

– Hey, até quando vai ficar trancado dentro de casa? – Perguntou Hoseok, enquanto abria as cortinas brancas de meu pequeno apartamento. – Faz mal ficar muito tempo desse jeito.

A luz entrava em meus olhos, fazendo-os arder. Podia-se notar algumas poeiras dançando pelo cômodo, mostrando o quão mal arejado estava.

– Acho que sair seria pior pra uma pessoa como eu. – Respondi, dando uma risada melancólica.

E é verdade. Sair de casa significa andar nas ruas e andar nelas significa pessoas. Significa ter que lidar com vários futuros de uma vez e uma forte onda de enxaqueca. Completei a escola dessa maneira, me escondendo ao máximo das pessoas, evitando o contato físico com várias camadas de roupas, mesmo em dias quentes de verão. Não recomendo isso pra ninguém – apenas se quiser morrer de calor e cansaço.

– Eu acho a solidão pior que a dor de cabeça. – Retrucou ele, fitando-me. Podia-se notar preocupação em seu olhar. – Isso não é viver, Taehyung.

Eu sei que não. Mas também não quero viver em dor, em angústia por saber futuros desagradáveis e me sentindo um inútil por não conseguir muda-los – e sim, eu já tentei várias vezes.

Hyung, você sabe que não é fácil pra mim. – Senti o lençol da cama me envolver como um abraço materno. – Também não gosto de viver assim, escondido. Eu só queria... ser normal.

– Mas você é normal. – Reviro os olhos. – É sério. Só aconteceu de você ter uma habilidade que mais ninguém tem. – Suspirei, levando o travesseiro em meu rosto. Podia sentir o calor de minha própria respiração. – Ei, presta atenção. – Repreendeu-me, tirando-o de minha mão.

– Do que adianta ter essa habilidade se não consigo mudar o que vejo? – Perguntei, sentando-me. – Não suporto viver me sentindo...

– Inútil? – Suspira. – Você não é inútil por não conseguir mudar o futuro, Taehyung. Nenhum de nós podemos. E é isso que te faz uma pessoa normal. – Sorriu, colocando a mão em meu ombro, coberto, carinhosamente. – Eu também sabia da maioria que você me contou e, mesmo tentando de todas as formas, não consegui te ajudar a mudar. Não se sinta inútil pelas coisas que aconteceram, por favor. Tente sair. De novo, como antigamente.

– Mas tudo é diferente. Nada mais é o mesmo. – Apoio minha cabeça sobre as mãos. – Não sei se consigo encarar.

Hoseok agora estava na frente da porta, respirando fundo em alto e bom som, deixando claro suas frustrações, preocupações e tristezas.

– O mundo muda e é por isso que existe o futuro. Precisamos girar junto com ele, seguir em frente. Viver. – Agora ele abria a porta. – Ele gostaria de te ver fazer isso, Taehyung. A minha proposta de trabalho ainda continua em pé. A livraria sempre terá uma vaga sobrando.

E com essas palavras, pude ouvir o som da porta bater e, depois, apenas o barulho dos meus próprios pensamentos.

Prelúdio {kth+jjk} [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora