Capítulo 31 - Visão.

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Algo havia mudado e estava terrivelmente errado. Eu vi o futuro de Jungkook e não me restava dúvida quanto a isso.

– Taehyungie-hyung?

Mesmo que sua voz fosse percebida, ela ficava cada vez mais distante, ecoada, até que finalmente ficasse sem sentido. O mundo parecia perder a cor e forma, girando. Os sons ao redor distorciam num zumbido labiríntico e aqueles flashes não saíam de minha vista.

Isso não pode estar acontecendo. Não pode. Agora que eu estava feliz. Logo agora que pude conhecer o toque, o amor, o seu calor... Logo agora que tudo estava indo tão bem. Eu não quero isso. Não quero.

Abro meus olhos subitamente e posso sentir o medo grudado em cada parte do meu corpo, o que me faz ter uma vontade imensa de gritar e derrubar tudo em minha volta, embora eu esteja paralisado e não conseguindo movimentar um músculo sequer sem dificuldade. Tudo parece doer, a cabeça lateja, o pulmão queima e o coração aperta tanto que me sufoca.

Queria nunca mais ter que sentir essa sensação extremamente familiar.

– Taehyungie-hyung? – Aquela voz cheia de preocupação faz meus sentidos voltarem aos poucos e o procuro com os olhos rapidamente em meio ao escuro.

De repente, percebo o calor que está a envolver minha mão direita com muito carinho. A julgar pelo suor do contato, devia estar naquela posição há um tempo considerável.

Durante a tentativa desesperada de voltar à realidade de vez e parar de agir como se algo estivesse realmente errado, atento-me pela primeira vez aos arredores. Definitivamente não é o meu quarto, já que não tenho móveis tão luxuosos, muito menos luzes que se acendem sozinhas com uma palma só.

– Quer que eu busque água? Alguma coisa? – Sua expressão demonstrava um certo espanto. – Você parece...

Impeço-o de continuar sua fala ao envolvê-lo em um abraço apertado e desesperado. Minha cabeça ainda mal funciona, mas sei que ele está aqui. Ainda está aqui e não foi a lugar algum.

Não quero deixá-lo sair.

– Vai ficar tudo bem, ursinho... – Sussurrou docemente na tentativa de me acalmar e sinto as delicadas mãos entre os meus cabelos bagunçados. – Não sei o que você viu, mas vai ficar tudo bem...

Aumento ainda mais minha força de forma inconsciente e sinto meus braços tremerem, como se eu estivesse com frio.

– Pode me dizer o que você viu? Às vezes falar ajuda, hum? – Se afasta por um momento para encarar meus olhos. Vejo tudo embaçado pelas lágrimas.

– Aquela criança... o seu futuro é terrível... – Começo uma mentira que, por um momento, como um monstro, desejei que fosse verdade

Como eu poderia dizer que eu o vi morrer?

Eu vi Jungkook morrer.

Foi tudo muito rápido, confuso, intenso e mal me lembro de todos os detalhes. O que sei era que estávamos juntos em uma rua movimentada de Seul. Ainda era inverno e a neve caía devagar pelo céu noturno. Parecíamos ter saído de algum lugar e em um determinado momento mostro-lhe o relógio do celular – o qual marcava 21:30 – provavelmente depois de ele ter me perguntado o horário. Depois disso, atravessamos a rua enquanto uma propaganda de cosméticos aparecia na tela e aí... o barulho de um carro em alta velocidade, um baque acompanhado de um grito ensurdecedor. Esse grito pertencia a mim e... o corpo ensanguentado de Jungkook se fez presente logo em seguida. Com os olhos vazios, sem vida.

– Deve ter sido difícil pra você, hyung... – Eu soluçava sem parar em seu ombro. – Mas já passou, ok? Pense que ela pode ter alguma chance. Você não viu ela morrer diretamente, pode ser que ela faça alguma cirurgia que a impeça de ter esse fim trágico. Não acha?

Prelúdio {kth+jjk} [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora