Capítulo 5

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Assim que cheguei em casa, o ambiente me parecia diferente, pois já entrei ciente de que são meus últimos momentos aqui, pelo menos por enquanto.

Essa casa é tão vazia e tão triste. Nada é mais igual desde que minha mãe se foi.
As únicas lembranças que restaram dela foram as esculturas de argila que ela fazia, os quadros que ela pintou e o retrato da família.

Eu herdei dela essa paixão por arte, e de certa forma quando estou pintando algo ou até mesmo fazendo um simples vaso, me sinto mais próxima dela.

Quando ela estava aqui, meu pai era alegre também. É até estranho lembrar que um dia ele não foi essa pessoa sem sentimentos.

Ele adorava assistir minha mãe fazendo suas artes e a apoiava todo instante, diferente do que faz comigo.

Acho que de certa forma, me ver fazendo tudo que minha mãe fazia, faz ele lembrar de quando ela era viva, e isso o machuca muito.

Por isso ele se afunda no trabalho. Não sai, não se diverte e não tem tempo nem pra mim. Ele vai morrer trabalhando.

Eu andei lentamente por cada cômodo daquela enorme casa, observando alguns detalhes que há tempos não reparava.

Quando eu era mais nova, essa casa era o meu paraíso, o lugar onde eu encontrava paz e meu refúgio quando tinha algum problema.

Eu adorava chegar em casa, comer a comida que minha mãe fazia e brincar com meu pai que era sempre tão alegre. Eu achava que tinha a vida perfeita.

Agora estou sendo praticamente forçada a casar. Meu pai se afunda no trabalho e quer me levar pro mesmo caminho, mas acho que ele não me conhece o suficiente.

Tudo que eu puder fazer pra contrariar, eu vou. A culpa de eu ter me tornado assim é inteiramente dele.

Agora vou ter a oportunidade de respirar novos ares e ter um pouco mais de liberdade. Fazer o que eu quiser sem meu pai ficar interferindo.

Se eu gostar, talvez eu não volte mais pra essa casa. Vou conseguir um emprego, alugar meu apartamento e seguir em frente. Eu cansei de viver fingindo que tudo está bem, quando na verdade não está.

Respirei fundo, segurando as lágrimas e tentando desfazer o nó que havia na minha garganta.

Juntei o resto de coragem que tinha e fui até o meu quarto arrumar minhas coisas.

Acomodei minhas roupas nas malas e deixei fora dela apenas o necessário para amanhã.

Encontrei algumas coisas minhas que eu guardava e nem lembrava que estavam ali, como a tiara que minha mãe usou no dia de seu casamento.

Ela me dizia que queria me ver usando a mesma no dia em que eu me casasse.

- Desculpa, mãe... - falei baixinho.

》》》

Era madrugada ainda quando acordei com uns barulhos vindos da sala.

Ainda um pouco desorientada, levantei e em passos silenciosos me aproximei do cômodo de onde viam os barulhos.

Lá encontro meu pai sentado em sua poltrona, iluminado apenas pela lâmpada amarelada do abajur. Em sua mão esquerda segurava um copo e na outra, um porta-retratos.

Mesmo de longe, pude reconhecer que era o retrato da nossa família. Ele encarava a foto fixamente.

Não tive tempo de conversar com o meu pai quando ele chegou em casa, pois já havia ido dormir. Ele provavelmente não quis me acordar.

Ver essa cena me cortou o coração. Ele estava claramente alterado por conta da bebida. Lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ele olhava a imagem que segurava.

Nessa hora comecei a me arrepender de ter aceitado me casar. Talvez eu tenha aceitado tudo rápido demais.

Será que seria melhor se eu tivesse escolhido ficar? Será que eu deveria ter sacrificado a minha felicidade pra continuar aqui dando apoio ao meu pai e tentando fazer com que ele supere os acontecimentos do passado?

Talvez fosse melhor para mim esquecer tudo isso e focar apenas na empresa, assim como ele faz.

Eu realmente estou sem saída. Só queria que esse pesadelo acabasse e que pudéssemos viver felizes como antes, mas isso está longe de acontecer, infelizmente.

Ele começa a chorar mais ainda enquanto aperta o copo em sua mão.

Por um momento pensei que ele ia jogar o retrato no chão, mas logo ele muda de ideia.

Meu pai toma o último gole de sua bebida e se prepara para levantar, quando me vê no canto da porta.

- Ryujin? O que faz acordada essa hora? - diz enxugando as lágrimas de seu rosto

- Nada, escutei alguns barulhos e vim ver o que era.

- Não é nada, eu estava sem sono e resolvi ficar um pouco aqui na poltrona assistindo televisão, mas já vou deitar. Você deveria fazer o mesmo. Tem um evento importante amanhã.

- É, tenho sim... - olhei para o chão - Você vai?

- Vou sim, afinal é um momento importante na vida da minha filha - sorriu - Olha, Ryujin. Independente das suas escolhas, eu espero apenas que você tome cuidado e não faça nada precipitadamente.

- Pode deixar.

- Acima de tudo, quero ver a sua felicidade. Se você acha que se casar com essa mulher vai te trazer felicidade, que assim seja. Apenas fique sabendo que se ela te machucar, vai se ver comigo.

Eu ri. Há tempos não via esse lado protetor do meu pai.

- Fica tranquilo, pai.

- É difícil. Eu queria te preparar para o mundo lá fora, mas ao mesmo tempo não quero te deixar ir. Queria você sempre ao meu lado, onde eu pudesse ver que está bem, mas nem tudo é como queremos.

- Eu vou ficar bem. Prometo te avisar caso algo aconteça.

- Que bom.

Cheguei mais perto e o abracei. Também havia algum tempo desde a última vez que o abracei.

O abraço durou alguns segundos, até ele se soltar de mim. Sei que ele fica incomodado com muito contato físico.

- Agora vai dormir, filha. Amanhã é um grande dia e você precisa descansar.

- Tudo bem. Você também, descanse. Boa noite, pai.

- Boa noite.

Viro as costas para ir até meu quarto, quando ele me chama novamente.

- Ryujin?

- Sim?

- Eu te amo, filha.

- Também te amo, pai.

E assim eu dormi, tentando não me preocupar com o dia de amanhã e mentalizando que tudo ia correr bem.

Amor por Contrato {ITZY} Ryujin + Chaeryeong (HIATO)Onde histórias criam vida. Descubra agora