37 * Lar são pessoas

313 85 129
                                    

Nathan se escorou na porta da cozinha, observando Daisy amarrar o laço do avental de Lily, tentando se manter na sua postura contrariada e não sorrir com a cena.

Ouvir a moça dizer que iria embora dias antes do esperado lhe provocou uma sensação ruim, de que havia algo errado. Apesar da insistência dele para que mudasse de ideia, ela se mostrou decidida.

Não entendia de onde surgira aquela necessidade repentina de ajeitar as coisas para a volta de seu pai, Nathan sabia que Dora daria conta facilmente e tentou argumentar com isso, mas a amiga havia rebatido que, como filha, tinha que ajudar também.

— Por que está aí parado? Achei que iria querer participar. — Daisy sorriu.

O homem viu a expectativa no rosto da sobrinha e assentiu, entrando no cômodo.

— Vou pegar um avental pro senhor, tio! — Lil comemorou, deixando seu banquinho, que a fazia ficar na altura da mesa, e correndo até o armário.

— Quando vai contar para ela? — o rei cochichou para a amiga, temendo pela reação da menina, a qual tinha se apegado demais a lady. — Sabe como sentiu sua falta quando a Dora ficou doente, imagina ao saber que não vai voltar?

— Eu teria que ir embora de qualquer jeito, sabe disso, então por que fala como se eu estivesse cometendo um crime? — ela reclamou, organizando os ingredientes sobre a mesa.

— Eu só quis dizer que não tivemos tempo de prepará-la, já irá embora hoje, a Lily vai ficar magoada, sei disso.

— Eu vou contar com jeitinho, ela vai entender. — Mordeu o lábio, incerta.

A menina voltou e entregou o avental ao tio, subindo em seguida no seu suporte outra vez.

— Vamos fazer bolinho de mirtilo, não é legal, titio? — Ela bateu palmas.

Nathan encarou a amiga, encontrando um sorriso tímido no rosto dela. Não precisou de esforço para entender que era um presente de despedida. Diante do gesto de afeto, ficou constrangido por estar agindo friamente com ela.

— É muito legal, pequena. — Sorriu para a sobrinha e depois para Isy. — E então, o que temos que fazer?

De forma hábil, Daisy dividiu os ingredientes já cuidadosamente medidos entre sua dupla de ajudantes.

— Primeiro colocamos a farinha, o açúcar, o fermento e o sal.

— Sal? Mas a gente tá fazendo doce. — Lily fez uma careta.

— É só uma pitada, deixa o bolinho mais gostoso.

— Falando assim, até parece uma cozinheira experiente — Nathan a provocou.

— Não sou experiente mesmo, mas me dou bem na cozinha, pelo menos com doces. A Dora já me ensinou uma variedade de receitas e gosto de fazê-las, principalmente para as pessoas que gosto. Cozinhar é uma forma bonita de demonstrar amor.

— Gosto mais da parte de comer a comida do que a do preparo. — Ele riu, roubando um mirtilo do pote.

— Eu também! — Lil concordou, imitando o homem.

— Menina esperta. — Nathan bagunçou o cabelo da garota, fazendo-a dar uma risada boa de ouvir.

Daisy balançou a cabeça, achando graça, enquanto misturava os ingredientes líquidos em outra tigela e depois adicionando aos secos. Por fim, deixou Nathan e Lily colocarem as frutas roxas na receita.

— Deixa eu pôr nas forminhas, tia Isy. — A menina estendeu as mãos e a mulher assentiu.

Com o auxílio de uma colher, ela encheu as formas sob a supervisão da mais velha, até todas terem a massa e poderem ir ao forno assar.

Amor, coroas e papelOnde histórias criam vida. Descubra agora