46 * Sufocando

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A noite chegou e com ela um temporal. A chuva forte batia com ferocidade contra o telhado e as janelas, além do vento que uivava entre as árvores, fazendo as crianças se escolherem junto aos adultos.

Os guardas tiveram que abandonar seus postos, dada a intensidade da tempestade. A madrugada se aproximava veloz e a maioria das pessoas no ambiente dormiam.

Ruth olhou mais uma vez o irmão apagado pela exaustão e se aproximou de Nathan e Daisy, sentados perto deles.

— E o Gabe? Alguma notícia? — ela indagou, preocupada com o amigo.

— Só sei que provavelmente não vão fazer nada com ele enquanto estiverem em Salun. — O rei buscou suavizar ao máximo a verdade.

— E quando for para Elad? — A menina desviou o olhar assim que fez a pergunta. — Não precisa responder, eu sei.

— Vamos tirar ele de lá, de alguma forma. — Daisy tentou animá-la.

— Vão? — Ruth deu um sorriso triste. — Posso parecer uma criança, mas já não sou isso faz tempo. A vida real não é assim, nunca tudo dá certo e pronto, sem machucados no caminho. Podem ser diretos, já vi a crueldade desse mundo mau de perto.

Os dois adultos se entreolharam e Nathan resolveu ser sincero, ela merecia saber.

— Todos no palácio estão focados em achar uma solução. Os guardas de Elad estiveram lá hoje e querem fazer de tudo para os encontrar.

— É, os homens lá fora não deixaram dúvidas.

— Se vocês forem levados, não poderemos fazer mais nada. — Aquela frase fez o peito dele doer. Não podia mais fingir para si mesmo que estava tudo sob controle, pois não estava.

Uma lágrima solitária desceu pelo rosto da menina e ela a enxugou rápido.

— Ruth — Nathan chamou, ganhando a atenção de seus olhos vermelhos —, eu não faço ideia do que está sentindo agora, mas sei que temos Deus cuidando de nós, em cada segundo. Ele vai cumprir a vontade dEle.

— E ela é boa, perfeita e agradável. — Um certo brilho rondou o rosto da garota. — Na vida ou na morte, temos uma âncora em Cristo, não é mesmo? Papai sempre dizia isso.

— Posso te garantir que sim. — Ele sorriu, ganhando um sorriso sincero, o qual aqueceu seu coração que antes começava a esfriar pelo receio. Nunca iria esquecer aquelas pessoas, estavam gravadas em sua vida, mostraram seu propósito.

A garota se despediu e foi descansar no ombro do sr. Jones, cansada demais para lutar contra o sono. O homem passou o braço pelos ombros dela, a envolvendo de um jeito paternal. Belle estava segurando a mão de Aser há tanto tempo que já nem poderia contar, e seus lábios se moviam em uma oração silenciosa.

— Eles iriam ser felizes aqui. Iriam ganhar uma família... — A voz de Daisy falhou.

— E ainda podem.

— Estou começando a ficar com medo — ela confessou em um sussurro. — Acho que não vou conseguir dormir.

Nathan leu nas expressões dela os sentimentos escuros tentando abatê-la e sentiu o coração doer.

— Vem aqui. — Abriu um pouco os braços e ela atendeu ao convite silencioso, repousando a cabeça em seu peito e se aconchegando ali. — Lembra do que me disse naquela noite? "Aos Seus amados Deus dá o sustento enquanto dormem." Estou vendo o trabalhar dEle, minha doce Isy. Essa tempestade foi providencial, está mantendo os guardas de Elad longe daqui.

— Não tinha pensado nisso.

— Pois bem, agora pode descansar com isso em mente. Deus está nos vendo, Sua graça está nos cercando como faz desde antes mesmo de nascermos, e Ele não nos abandonará nem por um segundo. — Afagou o braço dela, esboçando um sorriso tranquilo. — Acredita nisso?

Amor, coroas e papelOnde histórias criam vida. Descubra agora