47 * Uma solução

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— Aonde vai? — Daisy percebeu Nathan seguir Tyler e os acompanhou até a sala.

— Pode fazer uma coisa por mim? — Nate segurou os ombros dela.

— Claro, é só dizer.

— Mantenha todos aqui dentro, de preferência longe da porta, tudo bem?

— Por quê? O que está acontecendo? — Descansou as mãos nos braços dele, preocupada.

— Os guardas de Elad nos encontraram, vamos fazer de tudo para mandá-los embora, mas não me pergunte como. — Afastou-se do toque dela.

— Hyeon... — Daisy o repreendeu com o olhar. — Pelo amor de Deus, tome cuidado, está bem? Não faça nada estúpido.

Ele lhe ofereceu pequeno sorriso, depositando um beijo rápido na sua bochecha.

— Só faça o que pedi. — A seriedade retornou às suas feições ao pegar o arco e a aljava com as flechas.

Daisy quis segurá-lo ali com ela, longe de qualquer perigo, porém sabia que não podia.

Ficou parada por alguns segundos depois que eles saíram, contudo logo voltou para o quarto, tinha uma missão e a cumpriria.

— Qual o plano? — Tyler questionou Nathan ao se posicionarem em frente ao abrigo.

O cheiro de terra molhada dançava no ar e a lama se acumulava sob seus pés, enquanto uma chuva fina caía das nuvens cinzentas acima de suas cabeças.

— Vamos tentar o diálogo, se não der certo passamos para o plano b. — O rei ajeitou a flecha, a preparando para ser disparada.

Não demorou para os guardas de Elad surgirem de entre as árvores, montados em seus cavalos. Era um grupo maior do que o que estivera no palácio, porém Nathan se tranquilizou um pouco ao perceber que estavam em menor número que eles.

Os homens desceram, desembanharam as espadas e apontaram os arcos, imitando a postura dos de Salun.

— Eu sabia que estava envolvido nisso, majestade. — O chefe deles abriu um sorriso de escárnio. — Que ideia ruim.

— Acredito que foi você quem não acertou na decisão de vir até aqui. — Nathan não desviou os olhos. — Porém ainda pode desistir e ir embora, se estivesse em seu lugar, acataria ao conselho.

— Tudo que mais quero é ir embora daqui, mas só saio com os fugitivos que vim buscar.

— Então vai morrer aqui, por que não vou deixar levar nenhum deles — afirmou, apertando um pouco mais o arco em suas mãos.

— Achei que o senhor era uma pessoa pacífica. — O homem arqueou a sobrancelha grossa.

— E eu sou, mas isso não significa que não vou defender quem precisa de proteção. Mas não quero mesmo machucá-los, só pegue seus homens e volte para Elad, então ficaremos em paz.

— O senhor é uma pessoa muito difícil, hein? Está me deixando sem escolha. — Ele abaixou a espada ao lado do corpo e por um segundo Nathan se perguntou se ele estava cedendo.

Mas não estava. O homem deu alguns passos para dentro da floresta atrás dele e voltou instantes depois, segurando Gabe pelo braço. As manchas escuras dos hematomas se destacavam em sua pele dourada e alguns cortes ainda escorriam sangue.

Os olhos esverdeados do garoto se encontraram com os de Nathan, fazendo um nó se formar em sua garganta.

O chefe da guarda o colocou em sua frente e aproximou a espada do pescoço de Gabe, olhando para os homens a sua frente com um semblante vitorioso.

— Ou nos entregam os eladianos, ou eu mato ele aqui e agora. E então?

Nathan hesitou. Sua mente trabalhava tão rápido que ficou zonzo por um momento, tentando achar uma saída, mas sabendo que estava encurralado.

— Seu silêncio é um não? Ótimo! Já me livro de um. — Chutou as pernas de Gabe, fazendo-o cair ajoelhado no chão.

— Espera! — Nathan gritou e virou para seus guardas. — Tudo bem, podem abaixar as armas.

Os homens obedeceram.

— Bem melhor. Agora saiam da frente. — Afastou a espada do pescoço do garoto.

"Uma solução, Senhor, só preciso de uma solução." — Nathan implorou em uma oração desesperada.

— Vamos! — O homem alterou a voz.

De repente, uma ideia cruzou a mente do rei.

— Eu tenho uma condição. — Levantou as mãos em frente ao corpo.

— Condição? Não tem espaço para condições, majestade.

— Ela vai te beneficiar, e muito — disse com calma, ganhando um pouco mais do interesse do homem ao dizer aquela palavra "mágica". — Deixe que as crianças fiquem, eu pago por elas.

— Já disse que não posso.

— É claro que pode. Essas crianças não tiveram poder de decisão para estarem aqui, foram trazidas pelos pais e não fugiram. Além de que elas não devem nada a Coroa, sequer tem idade para isso — Nathan argumentou da melhor forma que conseguiu. — Pense bem, você se livra de alguns prisioneiros e ainda ganha uma boa quantia. Apenas lucro.

O discurso fez o eladiano franzir as sobrancelhas, pensando. Um clima de tensão se seguiu até ele se decidir.

— Tudo bem, aceito sua proposta. — Um sorriso torto emoldurou seu rosto.

— Que bom, vou trazer todos para fora e podemos ir ao palácio resolver isso de uma vez. — Nathan esperou o homem assentir para entrar na cabana.

Um peso pareceu se acomodar em seu peito a cada passo que dava, mas tentou fazer uso de todas as técnicas que tinha aprendido para encobrir seus sentimentos.

Teve certeza que todos já sabiam o que estava acontecendo assim que pisou no corredor onde ficava o quarto. Os olhos deles lhe alcançaram e suas expressões demonstravam o nervosismo.

Fugiu dos olhos marejados de Daisy, temendo que não aguentasse controlar tudo que se passava dentro dele.

— Ruth — virou-se para a garota, a voz mais fraca do que esperava —, preciso que diga a todos para me seguir e não tentarem fazer nada, pode ser perigoso. Nós vamos para o palácio agora e de lá... Bom, só me sigam, tudo bem?

Não teve coragem de dizer toda a informação, simplesmente não pôde fazer aquilo no momento.

A jovem tradutora usou de seu tom mais controlado para explicar a situação, mas o desespero reinou assim que ela terminou de falar. Foi preciso alguns minutos para a aceitação vir, ou pelo menos um pouco dela.

Lentamente, eles foram saindo do cômodo, até chegarem do lado de fora, sendo alcançados pelo sol pálido da manhã.

Ruth correu até o amigo assim que o viu, sendo mais rápida que os guardas e abraçando Gabe com força, fazendo o garoto resmungar por causa dos machucados. Mas o reencontro não durou muito, logo eles foram afastados outra vez.

Distribuíram os eladianos entre os cavalos dos guardas de Salun a fim de chegarem mais rápido no palácio.

O silêncio era igual ao de um enterro, ninguém se atrevia a dizer qualquer coisa, apenas seguiam para o destino inevitável.

Amor, coroas e papelOnde histórias criam vida. Descubra agora