— Aonde vai? — Daisy percebeu Nathan seguir Tyler e os acompanhou até a sala.
— Pode fazer uma coisa por mim? — Nate segurou os ombros dela.
— Claro, é só dizer.
— Mantenha todos aqui dentro, de preferência longe da porta, tudo bem?
— Por quê? O que está acontecendo? — Descansou as mãos nos braços dele, preocupada.
— Os guardas de Elad nos encontraram, vamos fazer de tudo para mandá-los embora, mas não me pergunte como. — Afastou-se do toque dela.
— Hyeon... — Daisy o repreendeu com o olhar. — Pelo amor de Deus, tome cuidado, está bem? Não faça nada estúpido.
Ele lhe ofereceu pequeno sorriso, depositando um beijo rápido na sua bochecha.
— Só faça o que pedi. — A seriedade retornou às suas feições ao pegar o arco e a aljava com as flechas.
Daisy quis segurá-lo ali com ela, longe de qualquer perigo, porém sabia que não podia.
Ficou parada por alguns segundos depois que eles saíram, contudo logo voltou para o quarto, tinha uma missão e a cumpriria.
— Qual o plano? — Tyler questionou Nathan ao se posicionarem em frente ao abrigo.
O cheiro de terra molhada dançava no ar e a lama se acumulava sob seus pés, enquanto uma chuva fina caía das nuvens cinzentas acima de suas cabeças.
— Vamos tentar o diálogo, se não der certo passamos para o plano b. — O rei ajeitou a flecha, a preparando para ser disparada.
Não demorou para os guardas de Elad surgirem de entre as árvores, montados em seus cavalos. Era um grupo maior do que o que estivera no palácio, porém Nathan se tranquilizou um pouco ao perceber que estavam em menor número que eles.
Os homens desceram, desembanharam as espadas e apontaram os arcos, imitando a postura dos de Salun.
— Eu sabia que estava envolvido nisso, majestade. — O chefe deles abriu um sorriso de escárnio. — Que ideia ruim.
— Acredito que foi você quem não acertou na decisão de vir até aqui. — Nathan não desviou os olhos. — Porém ainda pode desistir e ir embora, se estivesse em seu lugar, acataria ao conselho.
— Tudo que mais quero é ir embora daqui, mas só saio com os fugitivos que vim buscar.
— Então vai morrer aqui, por que não vou deixar levar nenhum deles — afirmou, apertando um pouco mais o arco em suas mãos.
— Achei que o senhor era uma pessoa pacífica. — O homem arqueou a sobrancelha grossa.
— E eu sou, mas isso não significa que não vou defender quem precisa de proteção. Mas não quero mesmo machucá-los, só pegue seus homens e volte para Elad, então ficaremos em paz.
— O senhor é uma pessoa muito difícil, hein? Está me deixando sem escolha. — Ele abaixou a espada ao lado do corpo e por um segundo Nathan se perguntou se ele estava cedendo.
Mas não estava. O homem deu alguns passos para dentro da floresta atrás dele e voltou instantes depois, segurando Gabe pelo braço. As manchas escuras dos hematomas se destacavam em sua pele dourada e alguns cortes ainda escorriam sangue.
Os olhos esverdeados do garoto se encontraram com os de Nathan, fazendo um nó se formar em sua garganta.
O chefe da guarda o colocou em sua frente e aproximou a espada do pescoço de Gabe, olhando para os homens a sua frente com um semblante vitorioso.
— Ou nos entregam os eladianos, ou eu mato ele aqui e agora. E então?
Nathan hesitou. Sua mente trabalhava tão rápido que ficou zonzo por um momento, tentando achar uma saída, mas sabendo que estava encurralado.
— Seu silêncio é um não? Ótimo! Já me livro de um. — Chutou as pernas de Gabe, fazendo-o cair ajoelhado no chão.
— Espera! — Nathan gritou e virou para seus guardas. — Tudo bem, podem abaixar as armas.
Os homens obedeceram.
— Bem melhor. Agora saiam da frente. — Afastou a espada do pescoço do garoto.
"Uma solução, Senhor, só preciso de uma solução." — Nathan implorou em uma oração desesperada.
— Vamos! — O homem alterou a voz.
De repente, uma ideia cruzou a mente do rei.
— Eu tenho uma condição. — Levantou as mãos em frente ao corpo.
— Condição? Não tem espaço para condições, majestade.
— Ela vai te beneficiar, e muito — disse com calma, ganhando um pouco mais do interesse do homem ao dizer aquela palavra "mágica". — Deixe que as crianças fiquem, eu pago por elas.
— Já disse que não posso.
— É claro que pode. Essas crianças não tiveram poder de decisão para estarem aqui, foram trazidas pelos pais e não fugiram. Além de que elas não devem nada a Coroa, sequer tem idade para isso — Nathan argumentou da melhor forma que conseguiu. — Pense bem, você se livra de alguns prisioneiros e ainda ganha uma boa quantia. Apenas lucro.
O discurso fez o eladiano franzir as sobrancelhas, pensando. Um clima de tensão se seguiu até ele se decidir.
— Tudo bem, aceito sua proposta. — Um sorriso torto emoldurou seu rosto.
— Que bom, vou trazer todos para fora e podemos ir ao palácio resolver isso de uma vez. — Nathan esperou o homem assentir para entrar na cabana.
Um peso pareceu se acomodar em seu peito a cada passo que dava, mas tentou fazer uso de todas as técnicas que tinha aprendido para encobrir seus sentimentos.
Teve certeza que todos já sabiam o que estava acontecendo assim que pisou no corredor onde ficava o quarto. Os olhos deles lhe alcançaram e suas expressões demonstravam o nervosismo.
Fugiu dos olhos marejados de Daisy, temendo que não aguentasse controlar tudo que se passava dentro dele.
— Ruth — virou-se para a garota, a voz mais fraca do que esperava —, preciso que diga a todos para me seguir e não tentarem fazer nada, pode ser perigoso. Nós vamos para o palácio agora e de lá... Bom, só me sigam, tudo bem?
Não teve coragem de dizer toda a informação, simplesmente não pôde fazer aquilo no momento.
A jovem tradutora usou de seu tom mais controlado para explicar a situação, mas o desespero reinou assim que ela terminou de falar. Foi preciso alguns minutos para a aceitação vir, ou pelo menos um pouco dela.
Lentamente, eles foram saindo do cômodo, até chegarem do lado de fora, sendo alcançados pelo sol pálido da manhã.
Ruth correu até o amigo assim que o viu, sendo mais rápida que os guardas e abraçando Gabe com força, fazendo o garoto resmungar por causa dos machucados. Mas o reencontro não durou muito, logo eles foram afastados outra vez.
Distribuíram os eladianos entre os cavalos dos guardas de Salun a fim de chegarem mais rápido no palácio.
O silêncio era igual ao de um enterro, ninguém se atrevia a dizer qualquer coisa, apenas seguiam para o destino inevitável.
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Amor, coroas e papel
Spiritual"Série Redenção: Livro 2" De coisas quebradas pode vir algo muito bom. A vida do príncipe Nathan mudou completamente e agora ele precisa se adaptar ao título de rei de Salun. Enquanto cresce no Caminho do Senhor, o rapaz lida com as responsabilidade...