Sol de inverno

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Desculpa o atraso gente (eu escrevi o resto do capítulo lutando contra o sono haha), mas aqui está o capítulo - e acho que algumas explicações finalmente serão dadas...

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Quem costumava correr diariamente pelo calçadão da Barra ou na parte do piso compartilhado, encontrava tipos bem específicos acordando juntamente com o sol. Desde os vendedores de artesanato que viviam nos hostels do entorno; passando pelos vendedores de pipoca, água de coco, ou as baianas de acarajé que colocavam seus tabuleiros nos locais pré-ordenados pela prefeitura; ou mesmo pessoas as que desciam dos ônibus lotados e seguiam até seus locais de trabalho: hotéis, restaurantes, ou simplesmente a praia.

Um desses grupos, uma família de cinco, que trabalhava ali na praia do Porto, já estava arrumando as mesas de plástico, o fogão portátil, e montavam guarda-sóis para evitar o sol inclemente, mesmo de manhã cedo.

O mais velho, homem de meia idade que parecia ter bem menos que seus 55 anos - graças ao corpo naturalmente atlético por conta de carregar caixas e mais caixas até a areia, bem como a natural genética de sua pele retinta – ajeitou as cadeiras e sombreiros que seriam usados pelos banhistas, arrumando tudo à espera dos clientes.

Foi quando ele reparou um saco plástico preto, perto do muro de pedras que separava a praia do elevado onde ficava o calçadão. "Não tô crendo que deixaram lixo aqui!"; e chamou o filho mais velho para ajudá-lo a carregar o entulho e colocar no contêiner mais próximo.

- Cléber, deixe de ser miguezeiro e venha cá ajudar com os sombreiros!

- Oxe meu pai, tô levando o isopor!

Enquanto Cléber descia as escadarias que levavam até a areia da praia, segurando o isopor, o pai observava o saco plástico, puxando aos poucos e achando estranho estar tão pesado.

- Oxe, que porra é essa, tem coco aqui...? – especulou.

No entanto, assim que deu um puxão mais largo, percebeu algo se destacando para fora do saco.

Uma mão seca, emaciada, e amarela apareceu dentro do que se pensava ser um saco de lixo.


O Departamento de Homicídios apareceu rapidamente, sem surpreender os presentes ali – para muitos dos barraqueiros que trabalhavam na praia do Porto, em sua maioria oriundos de bairros populares, crimes ocorridos na Barra eram mais rápidos de resolver que em suas vizinhanças.

Além da polícia civil e militar, alguns repórteres e câmeras dos jornais locais já estavam a postos para ver qualquer informação a respeito da pessoa morta. Tentavam falar com os barraqueiros, a fim de saber suas reações sobre o susto ao ver uma mão dentro de um saco de lixo.

Logo eles foram interrompidos pela chegada de outra pessoa. Alto, de postura bastante impositiva, chamava a atenção pela expressão estoica e a pouca paciência com os repórteres que ele descrevia como "abutres", e odiava a intromissão deles em seu trabalho. De óculos escuros, que escondiam do público seus olhos rasgados, ele simplesmente mandou os outros policiais impedirem a passagem dos repórteres, a fim de que a perícia fizesse seu trabalho.

- Tomar no cu esse bando de abutres. – retrucou, a voz rouca de quem parecia ter acabado de acordar, mas era de fato seu tom natural.

A perita criminal ao seu lado, Bete, observava o policial com disfarçada admiração: entre tantos policiais cansados e fora de forma, era sempre um colírio para seus olhos quando detetive Tomás Santana aparecia nas investigações: atlético, charmoso, elegante mesmo colocando os sapatos sociais no meio da areia.

- Seja direta e me explique o que está acontecendo... – ele observou o corpo da mulher, amarelado, emaciado e seco, como se toda a vida dela tivesse sido sugada.

Pecado OcultoOnde histórias criam vida. Descubra agora