Para bom entendedor de títulos...
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Era uma noite repleta de estrelas. A lua estava cheia, amarelada, indicando que já passava o anoitecer, e todos se encontravam no início da noite. A luz do satélite funcionava muito mais para aquecer do que simplesmente iluminar. Era uma luz que, estranhamente, servia para os vampiros.
Eva caminhava pelo terraço do duplex onde estava vivendo pelo último mês, considerando as possibilidades. Tocava no pescoço, sem a gargantilha, porque precisava lidar com a conclusão que mudaria sua vida sem amarras, naturalmente. Sem esconder a verdadeira natureza.
Sim, ela queria ser vampira. Uma conclusão muito estranha, mas era a verdade. Até sentiria falta da praia, mas a noite a abraçou. A noite a aquecia; no fim das contas, Eva sempre foi atraída pela noite e pela escuridão. Não por causa da conotação maldosa que sua tia Vicentina sempre colocava; e sim o mistério, o desejo, a liberdade de ser quem ela era sem maquiagens, sem retoques, livre do escrutínio de outras pessoas que a achavam "rebelde", "mal-educada"... A família de seu pai nunca a entendeu, no fim das contas.
Cobrindo o corpo com um uma manta preta de seda, Eva continuava a observar as estrelas no céu e ponderando as possibilidades. O mundo o qual ela fazia parte, as aventuras com Dimitri e Sasha – tudo aquilo era parte de sua rotina. A única coisa que seria problemática para o grupo – incluindo Robichaux – era a ausência de um humano para ajudar os vampiros a se esconderem e fugirem do sol. O condutor deles no mundo humano. Eva não confiava em quase ninguém para tanto – seus amigos da faculdade não eram próximos dela, e estava tão distante da rotina "normal" do mundo convencional que uma proposta similar seria vista como uma "prova" de que ela perdera a sanidade. Porém, existia algo em sua mente – na verdade, alguém, uma pessoa em sua cabeça que poderia ser a ponte entre o mundo dos vivos (que Eva, a partir de agora, deveria fingir fazer parte) e as criaturas da noite.
Deveria estar com medo. "Mas o sangue vampiro é mais forte. A minha atração por Dimitri é irresistível; não vou conseguir escapar dos meus próprios desejos e sentimentos por muito tempo." Eva levou uma das mãos para baixo até o meio das pernas, já sabendo que o seu piercing estava cicatrizado.
- Estava te procurando, Eva. Imaginei que estivesse aqui no terraço.
Dimitri surgiu, um pouco distante da jovem. Durante o dia, ele deu o tempo para Eva pensar. A decisão de se tornar um vampiro era algo muito sério e muito forte para qualquer um que considerasse a possibilidade para o resto da vida. Em um mundo onde as informações corriam com mais lentidão e desaparecer poderia ser feito sem que ninguém percebesse, a transformação não era um problema – como no século XIX, a última vez em que Dimitri Voronin transformou alguém em vampiro, um jovem e quase moribundo Robichaux, após o fim das guerras napoleônicas.
Isso não ocorreria caso os vampiros surgissem em alguma vizinhança mais conservadora e temerosa.
Em um mundo onde todos os lugares eram repletos de estímulos para que todos se reconhecessem, se expusessem, a interação entre os humanos era cada vez mais comum, e a capacidade de ser totalmente anônimo foi reduzida, a transformação era mais difícil. Talvez fosse por isso que os vampiros atuais viviam mais escondidos. As convenções que ocorriam serviam para proteger quem ainda circulava pelo mundo. Morder alguém agora se configurava em algo sagrado, essencial, puro.
Naquele momento, para Dimitri, a mordida era exatamente aquilo - sagrada. Era a coisa mais importante de seu pós-vida. Ele não transformaria Eva em uma escrava de sangue; jamais o faria. Ela era a única luz que ele poderia tocar, sentir, sem se queimar. Eva representava inteligência, vibração, força e sensualidade, tudo na mesma mulher. Jamais tiraria o seu livre arbítrio, a sua beleza, para se tornar apenas um depósito de sangue para ele se alimentar. Jamais a tornaria escrava de sangue.

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Pecado Oculto
RomanceCAPÍTULOS TODOS OS SÁBADOS A presença de vampiros em Salvador faz algum sentido para você? Para Eva, faz todo o sentido: de dia, ela trabalha como secretária de um ricaço recluso e fotofóbico; e à noite, é a improvável parceira do vampiro Dimitri V...