Capítulo 15

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Kaeya retornava para o balcão de forma lenta, tendo uma pequena surpresa ao ver que Amber ainda o aguardava, sentada na cadeira alta do caixa com o corpo levemente inclinado na direção que ele estava vindo.

— Pensei que estava morrendo de fome — comentou, dobrando os braços sobre o balcão na frente dela e cruzando os tornozelos.

— Eu estou — pontuou, fechando os olhos — Mas também estou preocupada com Diluc — sua atenção se voltou para Kaeya — Como ele está?

— Oh... — arqueou uma sobrancelha — Isso é inesperado.

Um resmungo foi dado por parte dela.

— Não é porque não consigo falar com ele que não me preocupo — um discreto bico se formava em seus lábios, o mau humor evidente em sua voz.

Kaeya riu de forma divertida, suavizando sua expressão e tom.

— Ele prefere conversar mais tarde, mas não parece que nada de grave tenha acontecido — endireitou a postura, cutucando de leve a testa da menina — Vá comer, você precisa.

Algo parecido com um rosnado foi ouvido por parte de Amber quando ela deu um tapa na mão de Kaeya para afastá-lo, passando os dedos de forma breve onde ele havia tocado, o bico aumentando em seus lábios. Sem reclamar mais, pulou da cadeira do caixa e foi com passos apressados para os fundos. Ele não duvidaria se ela começasse a correr assim que a porta se fechasse.

Cruzando os braços, Kaeya soltou uma risada anasalada, voltando a observar Diluc. Ele parecia bem, observando o exterior através da janela próxima. A volta no balcão foi dada, sentando-se um pouco torto na cadeira do caixa, a sola do sapato se prendendo no apoio de pé do banco. Sempre que o tempo permitiu, até a cafeteria fechar, seu olhar permaneceu em Diluc, querendo se convencer que ele realmente estava bem.

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O fouet batia contra as bordas da tigela da batedeira em movimentos rápidos ao misturar o creme de leite com o leite em pó. A massa branca dançava de maneira hipnótica, muitas vezes passando da borda da tigela, era como se a gravidade não quisesse agir naquele pequeno pedaço do universo ou como se Kaeya pudesse simplesmente sair desenhando no ar que ela seguiria o movimento de seu pulso.

O homem passara boas horas dos últimos dias pesquisando sobre como fazer o bolo adquirir a tão desejada cor preta e, embora a maioria dos vídeos e receitas falassem exatamente as mesmas coisas, ainda foi possível encontrar algumas dicas úteis e que ele estava disposto a tentar uma a uma se fosse necessário. Por mais estranhas ou trabalhosas que elas fossem.

Sorte para Diluc, ele chegou a pensar. Ver Kaeya trabalhando era bem mais relaxante do que esperado, talvez devido ao seu estado atual, mesmo que na maior parte do tempo ele só conseguisse ver suas costas.

— Diluc?

O ruivo deu um pequeno pulo em seu assento, piscando em surpresa ao ver Kaeya o encarando um pouco preocupado, aparentemente não sendo a primeira vez que estava sendo chamado.

— Está tudo bem? — a resposta foi um aceno positivo, que ele aceitou por hora.

Diluc estava muito quieto naquele dia, permanecendo a tarde inteira na cafeteria apenas olhando para a janela, o celular ou tablet completamente esquecidos, não sendo usados nem mesmo para chamar Kaeya. A única vez que ele se moveu de seu lugar foi para voltar ao balcão e pedir um pouco mais de chá, minutos antes de Amber ter de ir para a aula.

Eles fecharam a loja juntos, como de costume, mas era possível sentir uma atmosfera sombria o rondando. Mesmo agora, no meio da noite, após Kaeya terminar tudo o que deveria ser preparado, ele permanecia em silêncio. A maçã pega para provocá-lo ainda intacta entre seus dedos sob a bancada de mármore.

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