Capítulo 10

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Para Kaeya, ainda era estranho ter alguém em sua casa. Desde que comprara o prédio para abrir a cafeteria há quase um ano, o máximo que teve foram alguns amigos que passaram o fim de semana por uma razão ou outra. Também não era como se nunca tivesse dividido a casa com alguém, tendo morado uma época com Jean no apartamento dela, contudo, morar com Diluc estava sendo uma experiência muito diferente, havia muitas coisas que o incomodavam que Jean simplesmente ignorava.

Por causa dela, Kaeya nunca teve realmente o hábito de sair passeando pela casa sem roupa, mas sair do banheiro até o quarto apenas com uma toalha na cintura ou acordar vestindo apenas uma cueca e ir para a cozinha pegar algo para comer nunca foram um problema desde que não houvesse visitas. Agora ele teve de aprender a se trocar no banheiro e estar sempre com, pelo menos, uma regata e um short ao andar pela casa.

Chegava a ser fofo como Diluc ficava mortificado quando Kaeya se "esquecia" de colocar uma camiseta, algumas vezes o encarando por longos segundos enquanto em outras ele desviava o olhar no mesmo instante, mas sempre ficando com o rosto vermelho até as orelhas. Valia à pena cada chibatada de toalha, ataques de travesseiro ou qualquer outro objeto que Diluc estivesse segurando e resolvesse jogar em sua direção.

A casa também estava mais organizada. Kaeya nunca se incomodou com um pouco de bagunça que poderia esperar mais um ou dois dias para ser arrumada e fazer a cama estava longe de ser sua tarefa doméstica favorita, primeiro porque ele bagunçaria os lençóis de novo à noite, segundo porque nenhuma visita entraria em seu quarto para ver a bagunça. Mesmo agora, dormindo no sofá, ele apenas juntava tudo e largava sobre o colchão ou enfiava dentro do guarda-roupa. Quando ele se lembrava de fazer isso, é claro.

Diluc nunca reclamou, sempre arrumando a bagunça dos dois, chegando a ser invejável como ele não permitia nenhuma ruga se formar nos lençóis. Ele também tendia a arrumar as toalhas em forma de rolo em vez de simplesmente dobrá-las e foi enquanto as organizava no armário sob a pia do banheiro que ele questionou o motivo de Kaeya ter exatas dezessete toalhas mesmo morando sozinho. "Nunca se sabe quando vai precisar" foi a resposta que ele recebeu com um aceno de ombros, mas o sorriso dado junto o fez ficar desconfiado do real motivo.

Ironicamente, não foi preciso discutir muito sobre as regras do banheiro. Não era como se algum dos dois largasse o chão encharcado após o uso ou esquecesse de dar a descarga. Kaeya se acostumou a abaixar a tampa do vaso por conta de Jean e se Diluc não tinha esse hábito, acabou "jogando junto" para evitar possíveis discussões, já bastava a briga sobre como colocar o papel higiênico no suporte, o que apenas mostrou que ambos conseguem ser muito teimosos e obstinados quando querem. Nenhum deles admitiria em voz alta que gostou disso, no entanto.

A ausência do cabelo de Diluc espalhado por todos os lados surpreendeu Kaeya. Ele realmente esperava encontrar fios vermelhos grudados em sua roupa por causa da lavanderia como acontecia com o cabelo loiro de Jean, entupindo o ralo do banheiro ou grudado na vassoura após uma boa faxina. Nem mesmo um pente abandonado na pia fora visto, apesar de algumas bolas de cabelo abandonadas no lixo fizessem Kaeya se perguntar como Diluc não tinha um buraco no meio de sua cabeça.

O horário em que o ruivo aparecia na cafeteria também mudou, normalmente chegando após Amber já ter ido para a aula. Kaeya apreciou a mudança, o lugar vazio o permitia cruzar a linha de profissionalismo mais vezes sem precisar se preocupar em ser tão sútil. Diluc também insistia em ajudar a fechar a loja, mesmo que fosse tarefas simples, como limpar as mesas, tirar o lixo ou ajudar a carregar algo para o apartamento.

Logo na primeira semana, Diluc apareceu com um presente, o exibindo na palma da mão com um discreto sorriso.

— O que deveria ser isso? — questionou com as sobrancelhas arqueadas após pegar o objeto entre o polegar e o indicador, o girando no ar.

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