Capítulo 04

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O som ritmado da faca contra a tábua de cortar era relaxante de uma forma estranha e Diluc não saberia explicar se tentasse. Não era nada parecido com os filmes onde tudo era cortado em segundos como uma máquina humana, talvez o fato de Kaeya estar cortando chocolate influenciasse nisso, porém, mesmo com os intervalos entre cada batida da lâmina, era muito relaxante.

Ele não tirou os olhos de Kaeya para quase nada, até se esquecendo do pedaço de bolo à sua frente. Era estranho vê-lo sem a franja caindo em seu rosto, tendo os fios presos por uma touca preta, mas aquelas estrelas gêmeas que possuía em seus olhos eram apaixonantes, cada uma reivindicando um pedaço do céu noturno que eram suas íris.

Também prestou atenção na cozinha. Na cozinha ridiculamente grande, diga-se de passagem. A área perto da bancada era como qualquer outra, a geladeira encostada na parede que separava o cômodo do corredor que dava acesso a porta da frente. O mesmo mármore preto da bancada se estendendo por toda parede, com armários brancos sob a pedra. A pia ficava à sua frente, quase alinhada, enquanto o fogão ficava no final do balcão de mármore.

A cozinha poderia terminar ali sem muitos problemas, porém ela se estendia até provavelmente o outro lado do apartamento, dando espaço apenas para o banheiro e a lavanderia. A área daquela parte era mais aberta, tendo diversos armários altos, armários de parede, prateleiras, mais balcões com mármore, tudo para acomodar os aparelhos e acessórios de culinária que Kaeya possuía.

Diluc entendia o fato dele ter alguns equipamentos em sua própria casa além dos que deveria ter na cafeteria, ficar até tarde sozinho lá em baixo não deveria ser a melhor das situações, mas achava os dois fornos elétricos um pouco demais — ele também usava o forno do fogão — uma segunda geladeira e... Aquilo era um freezer horizontal? Ele também tinha um pouco de medo de ver o que estava guardado nos armários daquele lado.

Pelo menos era um cômodo funcional, mesmo com o tamanho exagerado não havia espaços vazios sem sentido igual aos ambientes que era acostumado a frequentar, cada centímetro era meticulosamente aproveitado, mas sem torná-lo apertado ou difícil de caminhar. Isso não impedia Diluc de querer dar um tapa no engenheiro que permitiu a construção da planta desse apartamento, com exceção da sala, os demais cômodos eram muito pequenos. No fim, acabou fixando tanto o pensamento naquilo que não percebeu Kaeya se aproximando.

— Parece distraído, tudo bem? — o sorriso dele era discreto e seu tom era calmo. A resposta foi um aceno de leve — Servido?

Uma pequena tigela com petiscos dentro foi estendida na direção de Diluc, ele não reconheceu de imediato o que era, mas notou que Kaeya estava segurando e comendo um, seja lá o que fosse, então, sem escolher muito, pegou um e deu uma mordida.

Parecia algum tipo de biscoito, a massa era suave e fofa, chegando a afundar entre seus dedos se colocasse mais força neles, mas não se esfarelava ao ser mordido. Um olhar interrogativo foi direcionado para Kaeya e ele logo entendeu.

— Eu não gosto de desperdiçar nada quando cozinho, então tudo o que pode ser aproveitado, será, mesmo que não dê para vender.

Ele provavelmente estava falando do formato pequeno e disforme dos biscoitos, talvez feito com sobras da massa. Realmente não era algo muito chamativo para vendas.

»Mesmo assim, está delicioso« fez questão de dizer, recebendo um sorriso junto de um "obrigado".

A noite avançou. Diluc finalizou seu bolo além de comer algumas outras guloseimas que lhe eram oferecidos. Kaeya também preparou bebidas, servindo uma quantidade generosa de vinho em uma taça larga para si mesmo, para evitar pegar a garrafa o tempo inteiro, dando um ou dois goles ocasionais no intervalo de suas tarefas.

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