Capítulo 24

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O orvalho que se acumulou em uma larga folha durante a noite acabou se tornando pesado demais para a planta o sustentar e, por fim, escorreu por uma de suas extremidades de forma lenta, formando uma gota quase transparente que ainda se recusava a se soltar, contudo, a corrente de ar criada pela passagem de um carro foi mais do que o suficiente para fazê-la cair, agitando a vegetação quando se desprendeu.

Naquela calma manhã, onde os pássaros ainda escondidos nas diversas árvores do parque já cantavam, o barulho provocado pelas rodas do veículo mal era percebido. A sinalização do chão sendo ignorada no meio da manobra, o fazendo ocupar três vagas ao mesmo tempo.

O motor se manteve ligado com Elzer quase saltando para fora, conseguindo se atrapalhar um pouco com o cinto de segurança que ainda não havia se retraído por completo. Apoiando uma das mãos na parte de cima da porta, olhava para os lados com preocupação.

Apenas a brisa matinal lhe fazia companhia. Um calafrio correu por sua espinha, longe de ser causado pelo fraco sopro que tentava bagunçar seu cabelo bem penteado. Um gosto horrível se formou em sua boca e, apesar de estar com o coração quase pulando para fora do peito, sua postura era calma.

Foi difícil respirar fundo, contudo, era necessário. Alguns cenários, como este, foram pensados na noite anterior junto do melhor método de procedimento a ser realizado. Era lógico — e fácil — culpar Kaeya pelo atraso de Diluc, porém, existiam tantas outras coisas que o homem poderia ser facilmente inocentado. Isso não mudava o fato de Elzer estar pronto para cumprir sua promessa.

Em situações como essas, o óbvio acaba sendo ignorado pela mente, por isso manter a calma era importante. Puxando uma boa quantidade de ar para os pulmões, conseguiu exalar tudo de forma controlada, uma grande ajuda para botar os pensamentos em ordem. Quando um encontro é marcado e a outra pessoa atrasa, tenta-se entrar em contato com ela.

Embora a conclusão tenha sido rápida, Diluc não tinha o melhor histórico em atender o telefone, chegando a evitá-lo como o próprio diabo fugindo da cruz quando estava fora do horário de trabalho, mas era preciso tentar.

Puxando o paletó para o lado, tirou o celular de um bolso interno, logo desbloqueando sua tela e apertando o botão de discagem rápida. O levando até a orelha, continuou olhando para os lados à procura de qualquer coisa.

Um toque.

Nada além do parque deserto poderia ser visto, nem mesmo o movimento de veículos naquela parte da cidade havia se iniciado, de tão cedo que era.

Dois toques.

Seus pés começaram a se mover sem nem perceber, a mão soltando o metal frio do carro, deixando a porta aberta enquanto os passos lentos eram dados. O olhar atento para todas as direções.

Três toques.

O lábio inferior foi mordido com força, os dedos se apertando contra o telefone.

Quatro toques.

Um nó pesado se formou em sua garganta, quase lhe faltando ar ao engoli-lo. Uma arfada pesada foi dada.

No quinto toque, apertou as pálpebras com força, respirando fundo novamente e afastando o aparelho do ouvido, o dedo pronto para encerrar a chamada quando um som diferente do canto dos pássaros pode ser ouvido. Erguendo a cabeça assustado e procurando a origem do som, sentiu um alívio sem explicações quando viu Diluc se aproximando na direção da entrada que Elzer escolhera.

— Diluc... — o nome escapou de seus lábios em alívio, porém tão baixo que, mesmo se houvesse alguém ao seu lado, seria incapaz de ouvir.

Seu polegar acertou a tela com força desnecessária, o guardando de forma automática no bolso da calça enquanto dava a volta no carro com passos largos e ia na direção de seu superior, o encontrando no meio do caminho.

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