Capítulo 23

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Estava escuro.

Os joelhos de Diluc acertaram o chão com força, chegando a criar um eco naquele ambiente desolado. Um eco que quase não foi percebido devido às vozes que o cercavam.

Risadas.

Altas, grossas, algumas mais finas, outras mais ao longe.

Todas rindo dele.

Qualquer dor proporcionada pelo impacto fora ignorada, a escuridão entorpecia seus sentidos, conseguindo apenas encarar um ponto fixo à sua frente que não tinha nada em particular para ser observado. Os olhos vidrados, quase sem vida. Secos, sem qualquer lágrima para ser derramada.

Uma batida forte foi dada em algum lugar, como uma porta se fechando com força, o precursor do que viria a seguir.

Uma risada alta e estridente foi ouvida, mais clara que as demais. Estava próxima e parecia se divertir com aquilo. O som do solado pesado contra aquele chão invisível foi o que tirou Diluc de seu transe, o fazendo piscar e procurar a origem daquele som.

Não demorou muito para a figura sair da escuridão, como se estivesse passando por uma cortina negra, caminhando de forma lenta até se posicionar no que parecia ser o brilho de um holofote, lhe destacando como um ser angelical.

Talvez fosse, mas seu sorriso era puramente diabólico.

— Pobre Mestre Diluc — uma pausa, alguns dedos tocando abaixo do queixo, como alguém que admirava uma obra de arte à sua frente.

O olhar de Diluc se arregalou de forma trêmula.

Aquela pessoa.

Aquela maldita pessoa.

— Parece que nossa brincadeira acabou — uma falsa tristeza era apresentada em sua voz, o sorriso se transformando em algo presunçoso — É uma pena, devo admitir, era divertido.

A última parte parecia alguém que consolava outra pessoa, exceto, novamente, era falso. Não bastasse a maneira como as palavras estavam sendo ditas, seu rosto não demonstrava nenhum sinal de empatia, pelo contrário, apreciava a visão de Diluc ajoelhado no chão em seu pior.

As risadas ao fundo se intensificaram, debochando dele. Se divertindo com sua fraqueza, sua incapacidade, sua queda.

O sorriso daquela pessoa se alargou, rivalizando com o Gato de Cheshire, porém, de uma forma mais cruel. Mesmo na forte luz em que se encontrava, seu olhar era sombrio.

— Uma verdadeira vergonha!

A voz de Elzer soou de forma alta e severa, as palavras apunhalando Diluc pelas costas, chegando até a fazê-lo endireitar a postura de forma abrupta. Ele não conseguia olhar para trás, mas conseguia ouvir os passos se aproximando.

— Todo esse tempo... — suspirou desapontando — Jogado no lixo.

Palavras ditas quando passou ao lado de seu mestre, nem se dando o trabalho de encará-lo, continuando sua caminhada, com ambas as mãos atrás das costas.

— Todo o trabalho duro de uma linhagem prestigiosa. Todos os esforços de seu pai. Tudo! — interrompeu os passos, encarando Diluc por cima do ombro — Jogado no lixo por sua pura incompetência.

Outra punhalada, dessa vez, em seu peito.

O olhar que Elzer lhe lançava era diferente de qualquer coisa que ele já vira antes. Havia apenas o puro ódio e nojo. Ele permaneceu assim por alguns segundos, retornando os passos e indo para o lado direito daquela pessoa. A cabeça erguida com orgulho e um sorriso se manifestando em sua expressão severa.

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