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Duas semanas em São Paulo, e eu já estava adaptada

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Duas semanas em São Paulo, e eu já estava adaptada. Aluguei uma quitinete já mobiliada e consegui um emprego de garçonete a meia hora do prédio. A hipoteca da casa dos meus pais tinha sido paga, minha mãe estava em tratamento, não havia nenhum mandado de prisão contra mim e minha mãe tinha dito que ninguém fora me procurar, tinha dado certo. Ou Gabriel não conseguira desvendar e eu fugi sem haver necessidade, ou ele havia descoberto tudo e ignorado, o que eu desacreditava. Nenhum homem, por mais rico que fosse, viraria as costas e ignoraria um roubo de oitocentos mil reais.

Às vezes, eu me flagrava amedrontada, sem conseguir dormir, imaginando o que ele estava armando. O silêncio dele estava me perturbando. Outras vezes, eu ia para o shopping fazer compras e ria, feliz da vida, querendo acreditar que ele não havia se importunado.

Acordei cedo, como de costume, coloquei água para ferver e fui me arrumar. As meninas da lanchonete sempre tomavam café lá, mas eu não conseguia despertar totalmente se saísse de casa antes de beber uma xícara de café, sem falar que precisava ser o café que eu preparava. Nunca bebia qualquer coisa fora de casa. De uniforme e cabelos presos em um rabo de cavalo, passei o café e, de pé, recostada na pia, o bebi.
Era incrível como o dinheiro poderia mudar a vida de uma pessoa. Com o valor do roubo, quitei as dívidas dos meus pais, estava pagando um tratamento especializado para minha mãe e ainda sobrou para eu ter um bom conforto.

Eu sempre pratiquei pequenos furtos, mas nunca algo tão sério como a quantia que desviei de Gabriel. E por causa disso, uma rápida crise de consciência me tomou: é errado roubar. Um crime horrível. Ninguém tem direito de roubar bens de outra pessoa, em hipótese alguma. Foi algo feito no calor do momento e que não deu mais para voltar atrás e agora, eu não me arrependo de ter feito, principalmente porque Gabriel não parece ter se importado. Após o café, conferi meu estojo de ampolas e seringas na bolsa e segui para o trabalho.

- Bom dia - cumprimentei o pessoal assim que cheguei. Fui para a sala de funcionários, guardei minha bolsa e voltei para começar o dia.

- E então? Vai sair com a gente no sábado? - uma das minhas colegas de trabalho perguntou. Ajeitei a caderneta no bolso do avental e, em questão de segundos, repassei em minha mente como seria uma noite com as colegas de trabalho. Eu não estava com aquele tipo de espírito de confraternização. Neguei com um gesto.
- Acho que não. Estou tão cansada...

- Você acabou de chegar à cidade, será engolida viva se não se enturmar - criticou. - Precisa conhecer a selva de pedra.
- Eu sei. - Dei um sorriso. - Vou pensar.

- Além do mais, vai ter uns gatinhos top de linha. Vamos nos dar bem.

- A coisa ficou melhor agora - gracejei, fazendo-a rir, e fui para o balcão.

- Carol, encomenda para você - meu chefe avisou, passando por mim. - Resolva isso depressa, há clientes esperando. Odeio ver clientes esperando. Se puder, faça o entregador comprar um salgado, pelo menos.

- Encomenda? - Ele não disse mais nada, foi para o caixa, e eu caminhei para o salão.

Desconfiada, fui até a porta da lanchonete, e um homem estava parado com uma prancheta na mão. Encostada na calçada, uma van de entregas.
- Carol Fernandes?

- Sim, sou eu.

- Assine aqui, por favor. - Empurrou a prancheta para mim.

- O que é isso? Eu não estou esperando encomenda.

Ele franziu o cenho e olhou mais uma vez o papel.

- Você é Carol Fernandes, com esse número de CPF? - Ditou o número do meu documento.

- Sim, essa sou eu. - A aflição me tomou. - Qual é a encomenda? - Imaginei que podia ser algo que minha mãe tivesse me mandado, mas, sobrepujando essa hipótese, me lembrei imediatamente que ela não sabia meu endereço.

- Está aqui. Veja se você reconhece. - Caminhou até a van, abriu a porta, e eu o segui. Espiei dentro e o que eu vi foi um grande colchão e dois homens enormes. Um deles sorriu pra mim, e antes que eu pudesse correr, fui empurrada para dentro, caindo de cara no colchão. O entregador falso entrou atrás, e a van arrancou a toda velocidade, o barulho se sobrepondo aos meus gritos. Um dos homens segurou facilmente meus pés, o outro, minhas mãos, e o falso entregador me deixou aterrorizada ao pegar uma pequena seringa.
- O que vão fazer? Pare, por favor, eu tenho dinheiro, por favor.

Ele nem mesmo parou por segundos para me ouvir. Bateu com os dedos na seringa e a cravou em meu pescoço.

- Não tinha encomenda para você, gatinha. Você é a encomenda. - Foi o que escutei antes de cair em completa escuridão.

Senti meu pescoço dolorido e me mexi desconfortavelmente. Parecia que eutinha dormido por horas, meus membros estavam moles, como se as articulações fossem de gelatina. A luz acesa
incomodou minha visão e, para contribuir, meuestômago roncou.
Ah, inferno.
Eu não podia ficar com estômago vazio. Eu mesentei e vi meus óculos do lado, na cabeceira. Coloquei-os e olhei ao redor.Estava em uma cama. Bem alta e luxuosa. Era um quarto amplo,
com piso de madeira brilhante e paredes brancas.As cortinas de pano fino balançavam contra o vento, mostrando que a janelaestava aberta. Assim como a porta.
Eu não estava presa. Desci da cama e andei,cambaleante, pelo quarto. Tentava escutar qualquer mínimo barulho possível, mas o local era silencioso. Já era noite lá fora, provando que eu dormira o dia todo.
Andei devagar até a porta e espiei. Era um grande corredor com outras portas. Parecia um grande casarão, muito bem cuidado, uma construção exuberante.
Segurando nas paredes, me deslizei pelo corredor, indo um passo de cada vez, sentindo minhas vistas levemente escurecidas, o que me deixava preocupada. Eu não sabia se era reação da injeção que os homens me aplicaram ou se era meu problema de saúde se manifestando.
Andei mais um pouco, ainda tendo o silêncio comocompanhia, e cheguei a uma escada. Com um rápido olhar, vi uma sala aparentemente familiar lá embaixo. Ah, não. Desci os degraus.
Não! Isso, não!
Desci mais e, para meu pesadelo, me vi na enorme e bela sala da mansão de Gabriel. Onde eu tinha estado antes e havia conseguido fugir no carro da jardinagem. Corri para a porta, mas dessa vez estava trancada.
Olhei em volta, aflita, desesperada para encontrar um esconderijo enquanto eu pensava como poderia fugir. Não havia como. Ele aprendera com os erros, ele saberia o que eu poderia fazer. Não deixaria brechas para mim. Ouvi vozes vindo de um corredor e corri. Abri umaporta francesa e, do lado de dentro, fechei de volta com delicadeza para nãoprovocar barulho. De uma pequena fresta vi a servente do outro dia abrindo aporta com uma chave e saindo. Meu coração arrebentava em meu peito. Agora que estava aberta, eu poderia correr até lá.

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O que vocês acham que vai acontecer com Carol? Comentem pra eu saber se vocês estão gostando ou não dá história!! É muito importante pra mim!!
Um xêrooo 💜

MINHA REFÉMOnde histórias criam vida. Descubra agora