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CAROL FERNANDES


Era sexta-feira à tarde, Gabriel não estava na fazenda, tinha ido para a cidade e eu li um livro que peguei na estante dele, quando meu celular tocou. Corri para o banheiro e liguei o chuveiro quando vi que era Letícia.
— Letícia?
— Oi amiga. - Sua voz era baixa, um pouco chateada.
— Meu Deus - Caminhei pelo banheiro. - Eu ia te ligar. Por acaso foi você que fez uma denúncia anônima contra Gabriel? Quer dizer, claro que foi você, só quero saber por quê.
— Você ainda está na fazenda? Ainda
está com ele?
- sua voz parecia pasma por saber
que eu ainda estava na casa de Gabriel.
— Sim, claro que estou. Eu estou indignada, eu te contei aquilo como segredo, era uma brincadeira.
— Carol. Amiga não sei o que faço. - Estranhei o fato da voz dela começar a diminuir e
chegar ao ponto de choro.
— O que houve? -perguntei
— Eu preciso da sua ajuda, amiga. Você é a única pessoa capaz de me ajudar, meus pais viraram as costas para mim.
— Meu Deus. O que houve, Letícia?
— Estou grávida.

A notícia me pegou de surpresa, mas me recuperei rapidamente e encarei meu rosto no espelho do banheiro.

— Grávida? Mas... isso não seria bom?
— Grávida de três meses, Carol. Eu não estava com Matheus ainda. Ele quer que eu aborte. O bebê não é dele, é do Gabriel.

Na hora, deixei o celular cair na pia.
Quando peguei o celular novamente, ela ainda estava falando.

— Não pense que é um golpe. Não é. Tenho exames que comprovam, Carol, por favor. Ela pronunciou. 
— Ok. - Tentei manter a calma, segurando o surto que pulsava dentro de mim. Gabriel seria pai. E de uma forma perturbadora, eu estava me sentindo incomodada por saber disso. - O que quer que eu faço? Eu não posso fazer nada.
— Pode. Interceda com Gabriel por mim. Fale com ele para me receber.

Marcar um encontro entres os dois? Por que diabos o ciúme estremeceu meu corpo?

— Sim, claro, vou falar com ele. - Aquilo era fácil, eu jogaria para ele qualquer decisão. - Eu te ligo.
— Carol. Eu não posso perder esse bebê. Matheus só me aceita se eu fizer o aborto. Estou te implorando.

Meu Deus! Coloquei a mão no peito. O caso era muito sério. A ficha caiu, e eu soube que era verdade. Leticia não mentiria sobre algo que poderia ser descoberto em um estalar de dedos, ainda mais para um homem tão poderoso como Gabriel.

— Tudo bem, eu te ligo. - Desliguei e me sentei no vaso sanitário, com o rosto nas mãos. Gabriel tinha um pai extremamente conservador e com certeza iria obrigar o filho a assumir não só o bebê, mas como casar com a mãe. Meu castelo de ilusões tinha começado a desabar.

Mas o que eu esperava? Um anel de noivado? Eu era apenas a porra da escrava sexual de um fazendeiro milionário, pressa nessa fazenda. Entre os meus desejos e o bebê crescendo ao lado pai, eu faria de tudo para que a segunda opção acontecesse.
Sai do banheiro planejando como eu contaria. Eu podia me ver fazendo escolhas tolas, como o roubo do dinheiro de Gabriel no calor do momento.

Pense, Carol. Pense!
Eu ia esperar a visita do gringo e então contaria tudo para Gabriel. Ele tinha conseguido marcar a visita para terça-feira, então ainda tinha três dias até lá. Nada iria acontecer nesses três dias. Até lá, eu pensaria na melhor forma de abordar o assunto.

Peguei meu celular e liguei para Letícia. Ela atendeu de imediato.

— Eu preciso de três dias. - Falei.
— Impossível, Carol, precisar ser logo. Preciso do amparo de Gabriel.
— Vai acontecer algo muito importante para Gabriel, e assim que ele conseguir, eu
contarei tudo. Ele vai te ajudar, tenho certeza. - As batidas do meu coração batiam alto nos meus tímpanos. Tomei uma grande quantidade de ar e esperei ela falar. Leticia ficou por arrastados segundos em silêncio, até que ousou em falar:
— Você está apaixonada por ele? - perguntou.

Meu corpo todo ficou rígido e gelado. Não.
Não estava. Eu tinha uma grande atração por
ele, mas, paixão? Em apenas três semanas? Não mesmo.

— Letícia, não acho que a minha intimidade com ele seja relevante para você. Nosso assunto é outro.
— Gabriel não vai permitir que um filho cresça longe dele e eu não vou dar a guarda para ele. E se ele quiser voltar atrás do casamento comigo, você ficará do meu lado, Carol?

Isso doeu. Mais do que eu gostaria. Meu coração ficou instável e senti uma onda implacável de ciúmes queimar meu corpo.

— E você, quer isso? - sussurrei, com medo da resposta.
— Quero que meu filho cresça num lar com o pai presente.

Assenti, mesmo que ela não pudesse ver. Fiquei olhando para o chão por um bom tempo. E Letícia continuou.

— Se você não estiver apaixonada por ele, será bom para você se livrar desse imbecil, amiga. Você está livre dele.

Livre dele.
Pai do céu! Meu corpo já estava trêmulo. Eu não estava apaixonada por aquele fazendeiro bruto. Mas a falta de ar me dominou, e eu fui obrigada a me despedir dela e desligar. Saí do quarto e desci para a cozinha, onde Tereza sempre estava. A casa parecia pequena para mim.

— O que acha de fazermos alguns bolinhos de chuva? - ofereceu assim que me viu entrando, mas eu não estava no clima, e ela percebeu. - Aconteceu alguma coisa, Carol?

MINHA REFÉMOnde histórias criam vida. Descubra agora