oito

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— Tem certeza que você não quer nada? — John pergunta pela décima vez, mastigando mais um pedaço do hambúrguer que tinha pedido.

Eu tinha negado, mas daquela vez eu não podia resistir. O molho estava escorrendo pelos dedos do loiro e quando ele os lambia, eu só conseguia imaginar o sabor que teriam.

— Agora eu quero.

Ele empurra uma das caixas para o meu lado e ri.

— Eu sabia que você não resistiria ao hambúrguer desse lugar. Como lá desde que o dono me ajudou a fugir de algumas fãs.

— Faz muito tempo?

— Quase seis anos. — John responde, em clima nostálgico. — Mas enfim. Me conte. Não pense que eu esqueci o motivo pelo qual te busquei.

— Eu não quero falar sobre, John.

— Emma!

— Meu pai morreu faz três meses. Eu não sabia, mas ele acumulou muitas dívidas. Bancos, lojas... muitas. — digo. — Eu tinha um talão de cheques e um pai para enterrar. Sabia que aquilo voltaria, já que não tinha fundos. Mas também achei que eles teriam compaixão, já que eu sou sozinha e não tinha um tostão.

— E sua mãe? Desculpa perguntar.

— Tudo bem. Mas não gosto de usar essa palavra. Ingrid, a mulher que me gerou, decidiu que não queria ser mãe. Meu pai contava que ela vinha me ver, até meus três anos e depois parou. Sumiu no mundo. Eu tinha o contato dela e quando papai morreu, implorei por ajuda. Ela disse não me conhecer, pois o único filho que ela tinha se chamava Ryan.

— E então passou o cheque sem fundos? — assinto. — Mas por que estava chorando três meses depois?

— A funerária ligou. Ou eu pago, ou simplesmente tiram meu pai de onde está e jogam em uma vala.

— Que absurdo! — John exclama, se engasgando com o refrigerante. — Eles não podem fazer isso, só por causa de simples papéis.

— Sim. Mas eu até entendo. Esses simples papéis estão me causando dor de cabeça há meses e também causam a outras pessoas. Eu só não queria que fosse assim.

— Emma, eu posso...

— Não. — digo, assim que percebo o que ele quer dizer. — Eu não vou deixar você fazer isso.

— Sabe que não vai ser nada pra mim.

— Sim, eu sei. Agradeço com todo meu coração, mas eu não posso e nem vou aceitar.

— E como irá fazer?

— Vou conversar com meu chefe amanhã. Tentar um adiantamento, não sei. Mas irei dar um jeito.

John fica me encarando e então sorri.

— O que foi?

— Não sei. Mas fico te olhando e vendo o quão incrível você é.

— Você mal me conhece, John. E se eu for louca?

— Você deve ser. — diz e ri. — Mas isso não seria uma coisa ruim.

— Por quê?

— Nem todos os loucos são perigosos.

Arqueio uma sobrancelha.

— Que?

— Eu me perdi no que estava falando e a culpa é sua.

— Minha? O que eu fiz?

Suas bochechas ficam vermelhas.

— Onde é o banheiro? — questiona de repente, se levantando.

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