trinta e um

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Na porta do hotel, pensei em desistir quase cinquenta vezes. Cheguei a mandar uma mensagem a John, questionando se eu realmente devia fazer aquilo. Ele apenas disse que eu dava conta e caso o planeta conspirasse contra a minha força de vontade, era só enviar uma mensagem que ele rapidamente apareceria para me salvar.

Ryan estava sentado bem no centro do restaurante. Enquanto me aproximava, pude perceber que ele ansiava pela minha chegada. Suas pernas mexiam freneticamente, assim como a pequena faca que ele batia a mesa.

— Oi. — murmuro, chamando sua atenção. — Desculpe o atraso.

Ele prontamente se levanta e sorri para mim. Percebo que ele fica em duvida se deve tentar um abraço ou não, então puxo uma cadeira e me sento, antes que ele decida o que fazer.

— Bem... não tem problema. Você está bem?

— Sim. Ótima.

Começo a balançar as pernas, ansiosa pelo que aquela noite estava preparando para mim. Eu sempre estive muito firme na decisão de nunca saber sobre a mulher que me pariu, mas Ryan parecia bem disposto a me fazer mudar de ideia.

— Quer fazer o seu pedido? — Ryan pergunta, esticando o cardápio em minha direção. — E não se preocupe com os preços. Eu pago.

Ergo uma sobrancelha.

— Tenho dinheiro. Posso pagar pela minha comida.

— Eu sei! — se defende. — Apenas quis ser gentil.

— Não precisa.

— Emma, para de me atacar! Apesar de não saber de você, por mais de metade da minha vida, sou seu irmão!

Cruzo os braços e bufo, sendo a garota mimada que nunca fui. Era horrível estar errada. Pior ainda era admitir.

— Vai pedir ou não? — questiona, ainda com o cardápio em minha direção.

— Hambúrguer com fritas. Muitas fritas.

Ele ri e balança a cabeça, antes de chamar um garçom.

— Hambúrguer com fritas. — diz e me encara. — Para dois.

— E para beber?

— Coca-cola. — dizemos em uníssono.

Era irritante nós sermos tão parecidos, mas aquilo me deixou ligeiramente feliz. Eu tinha tido uma vida sozinha. Éramos apenas eu e meu pai, sempre. Não havia tido uma figura feminina, ou algum irmão, para dividir as culpas das coisas que fazia.

Embora eu tente enfiar na minha mente, que estar jantando com Ryan não muda nenhuma de minhas decisões, eu até que estava gostando de ter alguma coisa em comum com ele.

[...]

— Ela apareceu no meu baile de formatura, você tem noção? — Ryan comenta, rindo daquilo. — 

A menina que eu tinha convidado, me deu um pé na bunda e mamãe achou que seria legal ser minha acompanhante.

— Meu Deus! Eu não consigo imaginar a vergonha que você deve ter passado.

— É. Mas não foi tão ruim. Eu já estava saindo da escola mesmo, então não iria ver mais nenhum daqueles que estavam me zoando.

— Sinto muito pelo bullying.

— Estou de boa.

O restaurante parecia prestes a fechar. Nós éramos os últimos ali, mas Ryan não se importava. 

Ele estava gostando tanto quanto eu, de contar histórias sobre a infância.

— Eu vou embora essa manhã. — diz, bebericando o refrigerante aguada a sua frente. — Gostaria que fosse comigo. Sua presença fará bem para a mamãe.

— Eu não... não sei se consigo, Ryan.

Aquele garoto estava desolado. A única coisa que pensei em fazer, foi esticar-me sobre a mesa e segurar sua mão.

— Eu posso ver que ela foi uma mãe incrível para você e que a doença dela, está partindo o seu coração. Mas eu ainda guardo uma imensa magoa daquela mulher, por nunca ter querido saber sobre mim. Tive diversos momentos da minha vida, em que precisei de uma mãe e onde ela estava? — minha voz fica tremula e já sinto minha visão embaçada. — Então por favor, não me pressione para fazer algo que não me sinto bem. Eu sinto muito por você e por sua família, pelo que estão passando, mas... eu realmente não consigo.

A quantidade de lágrimas que escorriam pelo meu rosto, deviam ser as mesmas que escorriam pelo de Ryan. Ele funga e ainda segurando minha mão, ele se levanta e me puxa para um abraço.

— Obrigado pela sua sinceridade. — ele diz, me apertando forte. — Me desculpe por ela não ter sido uma mãe para você, mas obrigado. Hoje sinto que... que tenho uma irmã.

— Você tem, Ryan.

Ryan se afasta e pega o meu celular que está na mesa. Como eu não tinha o melhor celular da geração e não usava senhas, ele digitou rapidamente e me entregou.

— Meu telefone está aí. Sei que você não vai mudar de ideia em relação a mamãe, mas caso precise de um irmão, eu estarei aqui para você. A qualquer momento.

Nos abraçamos mais uma vez e após alguns minutos, ele me acompanha até a frente do hotel. Ryan faz sinal para um táxi e logo estou a caminho do apartamento de John. Ele tinha me enviado algumas mensagens, mas como viu que eu não retornava, enviou uma ultima.

John: fico feliz por você estar se dando bem com seu irmão. espero ansioso pela sua chegada. não vejo a hora de te abraçar para dormir. deixei a porta destrancada.

Quando entro no apartamento, puxo meu celular com a intenção de ligar para Lilian. Tinha muitas coisas para contar a ela e saber também, já que ela havia saído para encontrar um desconhecido.

— John? — chamo, tirando o tênis ao lado da porta. — Que merda.

Meu celular apaga e eu não fazia ideia de onde estava o carregador, no meio de toda a minha zona. Jogo o aparelho no sofá e vou para o quarto, chamando por John.

Oi! Estou no banho. — ele solta uma risadinha. — Quer vir?

Aproximo-me da porta do banheiro e o encaro pelo vidro do box embaçado.

— Agora não. Preciso fazer uma ligação e meu celular descarregou. Me empresta o seu?

— Claro, linda. Deve estar entre as cobertas.

Sopro um beijo para ele e vou até a cama, sacudindo as diversas cobertas que John usava. O aparelho cai em cima do tapete e eu o pego, desbloqueando-o rapidamente. A tela aberta, era de suas ultimas ligações e um numero, que havia sido ligado cinco vezes nas horas em que estive fora, foi o que chamou minha atenção.

Eu o conhecia muito bem, já que era o numero do local onde eu trabalhava. John estava ligando para o tele-sexo. E sua ultima chamada, havia sido dez minutos atrás.

— Estava pensando em pedir uma pizza. Está com fome?

Atordoada com o que tinha acabado de ver, viro-me em sua direção, sentindo meus olhos encherem de lágrimas.

— O que foi? — ele pergunta, olhando para mim e para o celular.

— Acabo de me questionar, qual a importância que eu tenho na sua vida. 

John franze o cenho e continua me encarando sem entender nada.

— Imagino que nenhuma, já que você liga para tele-sexo quando não estou por perto.

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