quarenta e cinco

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Ainda aérea pela chegada e partida de John, levo um banho de água suja na saída do aeroporto. Mas nem o banho, a senhorita que sujou meu vestido com sorvete ou a viagem de uma hora de volta para casa sozinha, foram capazes de tirar a alegria que eu sentia.

Assim que entro em casa, encosto-me na porta e fico repassando todo o dia em que passei ao lado dele. Cada toque; beijo; cada jura de amor trocada. Até os puns que John soltou, ficou em minha mente.

— Merda. — murmuro, tocando minha boca. — Preciso voltar para Seattle.

É. Está decidido. Vou pedir demissão do meu emprego, conversar com Ingrid e Ryan e ir. Ir para casa.

— Ei, chegou! — Ryan aparece e me olha estranho. — O que aconteceu com você?

— Só uma chuvinha.

— Como foi?

— Ah, Ry... foi incrível. — respondo, sentindo-me nas nuvens de imediato. — John é perfeito e eu... eu o amo demais. E eu tomei uma decisão.

— É, eu estou vendo. Vem cá.

Ryan abre os braços.

— Eu estou suja e molhada.

— Anda, Emma. Vem. Não gostamos de abraços, lembra?

Eu só solto uma risada idiota, antes de agir como uma garotinha e correr para os braços do meu irmão.

— Eu sempre vou estar aqui para você. — ele diz. — E obvio, vou te visitar todo mês se possível.

— Eu te amo, Ryan. Eu achava que era feliz sozinha, até ter você. Obrigada.

— Para com isso. Não precisa me agradecer.

— Cadê a Ingrid?

— No quarto. Quando eu fui vê-la, ela estava dormindo.

— Ah... eu vou tomar um banho e mudar de roupa. Quando formos jantar nós conversamos todos juntos.

Subo as escadas com Ryan dizendo que vai pedir comida do nosso restaurante favorito, pois será uma conversa importante.

Meu corpo estava cansado de tanto sexo e da viagem para ir e vir do aeroporto. Quando eu estava na banheira, John me enviou uma mensagem e disse já estar com saudade. Ele estava quase pousando em Seattle. Lhe envio uma foto das minhas pernas em meio a espuma da banheira, provocando-o.

John: maldade me deixar de pau duro dentro de um avião.

Eu: quando chegar em casa me avisa. Vamos fazer uma brincadeirinha picante.

John: merda, Emma! Tchau.

Solto o celular rindo, imaginando John todo atrapalhado para tentar esconder sua ereção.

Após um bom tempo de um banho relaxante e renovador, coloco uma roupa qualquer e desço para encontrar minha família. Ryan estava sozinho na cozinha, arrumando a mesa para três.

— Cadê a Leona?

— Tirou o resto do dia de folga. — responde. A campainha toca. — Você pode ir buscar a mamãe? A comida chegou.

Vou até o quarto de Ingrid e bato duas vezes. Como não tenho resposta, abro a porta e acendo a luz do quarto. Ela estava deitada de costas para a porta, coberta até quase o rosto.

— Ingrid? — chamo, me aproximando da cama. — Acorda. Ryan pediu comida.

Ela não responde e a toco, chamando-a de novo.

— Ei? Ingrid? — balanço-a, sem conseguir acordá-la. — Ingrid?

Entro em desespero, pois eu a balançava demais e ela não tinha nenhuma reação. Corro até a porta e grito por Ryan. Ele não leva mais que dois segundos para invadir o quarto questionando meus gritos.

— Ela não acorda, Ryan!

— Mãe? — ele chama, se aproximando da cama e empurrando-a de leve. — Mãe, acorda. Por favor.

Me encosto na parede abraçando a mim mesma, apavorada com o que estava acontecendo. Ryan gritava e sacudia a mãe de todas as maneiras, até que se virou lentamente e me encarou, com o rosto encharcado.

— Ela morreu. A mamãe morreu, Emma.

[...]

O dia estava quase amanhecendo, quando eu e Ryan finalmente chegamos em casa. Depois de uma eternidade para que alguém viesse buscá-la, levamos mais uma eternidade no hospital, esperando que nos dissessem qual foi a causa da morte.

E simplesmente nos disseram que o coração dela parou. Como ela estava dormindo, provavelmente foi indolor. Ficaram de fazer mais exames para ter a causa exata de sua morte precoce.

— Eu vou fazer um pouco de café. — digo. — Quer?

— Não. Eu só quero... me deitar.

Não penso duas vezes e desisto de qualquer coisa que fosse fazer. Mesmo que eu estivesse morrendo de fome e cansaço, Ryan precisava de mim. Subo atrás dele e entramos em seu quarto.

Meu irmão apenas tira os tênis, se deita na cama em posição fetal e de costas para a porta. O choro que ele estava prendendo desde que apareceram para buscar o corpo de Ingrid em casa, escapa com um grande soluço. Tiro as sandálias que usava e me deito ao lado dele, abraçando-o.

— O que vai ser de mim? — ele questiona, em meio de soluços. — Eu não sei viver sozinho.

— Você não está sozinho, Ry. Eu estou aqui. Sempre vou estar.

— Mas você vai voltar para sua casa e...

— Não! — aperto-o contra mim. — Eu não vou a lugar nenhum. Eu nunca deixarei você.

— Mas você...

— Shiu. Para de falar. — sussurro. — Não temos mais o que falar sobre isso. Você é meu irmão e eu te amo. Abro mão de qualquer coisa por você.

Nós ficamos abraçados, até que o cansaço consome Ryan e ele dorme. Passo a mão pelo seu rosto ainda molhado e o beijo, antes de me levantar e ir para o meu quarto.

Não tinha conseguido derramar uma lágrima sequer, pela morte de Ingrid. Todas as vezes que meus olhos lacrimejaram, havia sido por Ryan. Por vê-lo estar desolado e perdido por perder a sua mãe. Eu estava triste por ela ter partido, mas ainda estava uma confusão dentro de mim.

Depois de trocar a roupa que vestia por um pijama, me deito e pego meu celular. Tinham diversas chamadas e mensagens de John. Havíamos saído com tanta pressa, que não lembrei de pegá-lo.

Eu não ia ligar naquele momento, mas no aplicativo de mensagens mostrava que ele estava online. Fiz uma chamada de vídeo, que John atendeu no primeiro toque.

— Amor! — diz, sorrindo. — Sumiu. O que aconteceu? Dormiu na banheira?

Olhando-o tão lindo e sereno, o choro que não tinha vindo antes, aparece.

— Ei... Emma? O que foi?

— A Ingrid. Ela... morreu.

— Oh... meu Deus. Eu sinto muito. Quer que eu vá até aí?

— Não. — fungo e sorrio. Era óbvio que ele falaria aquilo. — Só quero que fique aqui. Na ligação.

— Se precisar...

— Eu sei.

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