vinte e nove

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A banheira do apartamento de cima, estava agora no chão da minha cozinha. Meu vizinho me encara lá de cima com a cara mais feia que eu já vi.

— Isso é culpa sua! — ele grita, apontando em minha direção.

— Minha? Minha culpa? Como a sua banheira cair na minha cozinha, vira minha culpa?

— Tenho certeza que essa sua casa está cheia de infiltrações! — ele berra e continua apontando o dedo na minha direção. — Seu pai nunca cuidou desse lugar e você menos ainda!

Eu já estava irritada o suficiente por ter um buraco no meu teto e uma banheira no meu chão, mas bastou ele falar do meu pai, para toda paz de espírito que eu estava filtrando desde a conversa com Richard, sumir.

— O QUE? Você não acha que a culpa das infiltrações na minha cozinha, não se dão ao fato de você TER A DROGA DE UMA BANHEIRA NO ANDAR DE CIMA? Essas pragas que você chama de filho, que só sabem correr de um lado para o outro, deviam fazer essa banheira de piscina o tempo todo!

— VOCÊ NÃO FALA DOS MEUS FILHOS! EU VOU LIGAR PARA O SÍNDICO.

— ÓTIMO. Liga mesmo, seu inútil. Tenho certeza que ele vai amar saber que tinha uma banheira clandestina nesse muquifo.

O velho Harper já não estava no buraco, mas eu conseguia ouvir sua voz esganiçada de longe. Não leva um minuto, para que alguém bata à minha porta.

— Nossa. — murmuro, indo até lá. — Que rapidez para resolver um problema.

Abro a porta e dou de cara com um garoto que eu nunca havia visto na vida. A única certeza que eu tinha, era que ele não era o síndico e menos ainda, alguém daquele prédio.

— Pois não?

— Você é Emma Clark?

— Por quê?

— Eu sou Ryan Clark, seu irmão.

— Quê?

Seguro a porta, sentindo um calor estranho percorrer todo o meu corpo. Aquilo era medo com nervosismo. Que bosta aquele menino queria comigo?

— Eu sou...

— Já escutei quem você é. — digo, ríspida. — O que quer aqui?

— Nossa mãe...

— Sua mãe. Eu sou órfã.

Ele revira os olhos e bufa.

— Posso entrar?

— Meu filho, dá para você falar o que quer aqui? Eu não tenho a vida toda.

— Caramba, você é muito sem educação. Deve ter puxado isso do seu pai.

— Como é que é?

Todo pavor que eu estava sentindo pela aparição daquele irmão não desejado, se transformou em ódio. Como ele podia falar do meu pai daquela maneira? De mim?

— Quero conversar com você na boa e tudo o que você sabe fazer, é ser grossa. Exatamente do jeito que nossa mãe descreve seu pai.

— Caralho, garoto. SUA mãe. SUA. Enfia isso na cabeça. — toco sua testa e ele se afasta. — E outra, eu não tenho nada para falar com você ou qualquer pessoa ligada aquela mulher. Ingrid está morta para mim, da mesma maneira que estive todos esses anos pra ela.

Vejo a cabeça do síndico apontar na escada e uma onda de alívio me corrói. A presença dele me livraria da de Ryan.

— Senhor Cooper!

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