Depois que John foi embora, eu percebi que tinha muita coisa para fazer. Minha geladeira estava zerada e eu ainda tinha que ir na funerária.
Passei a tarde toda na rua, resolvendo problemas aqui e outros ali. A funerária me prometeu que depois daquele pagamento - ainda me deram desconto pelo transtorno - eu não teria mais problemas e que meu pai iria finalmente descansar em paz, e sem mais nenhuma perturbação.
Aproveitei o que restou do dinheiro e fiz compras. "Compras". Coisas congeladas, besteiras, refrigerantes... eu definitivamente vou morrer cedo, se não comer comida de verdade. Mas pra vida que eu levava, era muito mais prático enfiar algo semi-pronto no micro-ondas e comer.
— Caramba, Lilian! — resmungo. — Já é a décima vez que ligo para você e nada. Eu vou jantar com John essa noite e na casa dele! Preciso da sua ajuda.
Desligo a chamada mais uma vez, irritada pelo sumiço repentino da minha amiga. Estava ligando o dia todo e nada da bonita.
Estava sentada no sofá, terminando minha segunda lasanha congelada, quando batem na minha porta. Eu sabia que era a batida de Lilian.
— Achei que tinha morrido. — digo, assim que abro a porta.
— Eu... estava meio ocupada...
Volto a me sentar no sofá e a encaro. Lilian estava parada perto da porta e me encarava como se quisesse falar algo.
— O que tem de errado? O que você fez, Lilian?
— Eu...
— Para de enrolação!
— Você sabe que eu não quero viver para sempre naquele lugar e que sempre estou buscando novas oportunidades.
— Sei. — murmuro, comendo mais lasanha.
— Eu vi um anuncio outro dia e fui checar... e... pagam bem... eu fiz um filme pornô.
Toda a lasanha que estava na minha boca, vai parar no chão.
— VOCÊ O QUE? — grito, me levantando.
— Calma, Emma...
— CALMA NADA! UM FILME PORNÔ! ISSO É... brincadeira... é brincadeira, não é?
— Faz alguns dias que minha mãe descobriu não estar curada do câncer e que precisaria voltar a se tratar logo. Isso significa muito dinheiro, para hospital e remédios. Eu não tive outra escolha, Emy. — ela funga.
— Eu não... sabia.
— Teve toda aquela confusão com o lance do seu pai, John aparecendo na sua vida. Eu não tinha como encaixar meu drama nisso.
— Não é drama. — ela se senta ao meu lado e eu a abraço. — É sua vida e você é minha amiga. Sempre me conte.
— Desculpe.
— Tudo bem. Mas eu imagino que não fosse apenas isso que quisesse falar.
— Bem... — ela revira sua bolsa. — Estão precisando de mais uma menina e pagam muito bem.
— Você não está...
— Você precisa de dinheiro, Emma. — diz. — Só um filme, te deixaria com uma situação boa, por algum tempo.
— Eu não vou fazer um filme pornô! — exclamo e me levanto. — Não estou...
— Você está. Sabe que está.
— Não a ponto de fazer um filme!
Vou para a cozinha e coloco o resto de lasanha na geladeira.
— Emma, você pode usar uma mascará ou algo do tipo. — diz. — Você não tem ninguém. Seu pai não tem como ver mesmo. Não há perigo.
Solto uma risada.
— Vai embora.
— O que?
— Vai embora daqui. — me viro pra ela. — Eu não preciso de você me lembrando, que eu sou sozinha. Sai daqui.
— Emma...
— SAI!
Viro de costas para ela e fico batendo as unhas no mármore da pia.
O que ela tinha falado, havia me deixado com muita raiva. Dizer que seria mais fácil eu fazer um filme pornô, só porque não tenho mais ninguém, foi completamente cruel.
Assim que escuto a porta bater, vou para a sala. Em cima da mesinha estava o cartão, com um telefone. Jogo-o em uma gaveta, antes de ir para o quarto.
[...]
Olho-me no espelho mais uma vez, me perguntando se o que eu estava vestindo, estava bom. Era um jantar, mas na casa de John. E eu não tinha nada muito chique. Tinha acabado escolhendo uma calça jeans e uma blusa qualquer.
Havia decidido não levar roupa alguma, mas como tinha a possibilidade de eu dormir lá, enfiei uma calcinha extra dentro da bolsa.
Às nove em ponto eu recebo uma mensagem de John, dizendo que o carro já está a minha espera. Após fechar tudo, guardo minha ansiedade e desço.
Na porta do meu precário edifício, estava um baita carro preto. As pessoas passavam e o encaravam, como se estivessem se perguntando, o que um carro daquele porte fazia ali. Acho que suas dúvidas só aumentaram, quando me viram entrar nele.
— Hmm... oi?
Eu tinha entrado no banco do passageiro, esperando encontrar John ao meu lado. Mas não era ele.
— Acho que entrei no carro errado. — murmuro, já colocando a mão na porta. — Descu...
O homem trava a porta.
— Sou Alex, motorista do senhor Davies. Você deve ser Emma.
Confesso que tinha respirado fundo, quando ele se apresentou. Minha cabeça já estava criando altos enredos, de como minha entrada no carro errado, iria acabar. E nenhum deles era bom.
— Oh... — sorrio. — Sim, oi! Achei que... que John fosse vir.
— Ele me pediu para buscá-la, pois está um pouco ocupado.
Após passar o cinto, pego meu celular e aviso a John que estou no carro. Alex me olha de lado e liga o rádio.
— Se incomoda? — questiona, quando a música preenche o carro.
— Não. Fique à vontade.
O motorista parecia ser bem novo. Diria até que tinha a minha idade. Estava me perguntando o critério de John, para escolhê-lo.
— Tudo bem? — ele pergunta.
— Sim, eu só... estava pensando no fato de você ser bem novo e trabalhar como motorista particular.
Alex ri.
— Sou da mesma cidade de John. Não tínhamos muito contato na época e depois que ele explodiu, muito menos. Nos reencontramos aqui em Seatle, faz alguns meses. Eu estava desempregado e ele me deu essa oportunidade.
— John é maravilhoso...
— Se não quiser responder, tudo bem, mas como se conheceram?
— No metrô. — sorrio, ao lembrar. — Eu estava dormindo em pé e ele me cedeu seu lugar.
Ele me olha de lado e ri. Seu sorriso era bonito.
— John e sua mania de andar de metrô. Ele gosta de se sentir livre.
Eu concordo com a cabeça e não nos falamos mais, até ele adentrar na garagem de um prédio. Após estacionar, ele me diz para ir até o oitavo andar e que eu saberia qual era a porta de John.
— Adorei conhecer você. — ele diz, sorrindo mais uma vez. — Tchau, Emma.
— Tchau, Alex.
Entro no elevador e aceno para ele, antes das portas se fecharem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Hotline Bling
RomanceEmma vê sua vida ir por água a baixo, quando seu pai morre e todas as suas dívidas são jogadas em seu colo. Sem outra opção, ela abandona a faculdade e arruma um emprego como atendente sexual. Sua função era fazer homens se aliviarem pelo telefone. ...