Quarenta

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[John]

— Nossa, que lugar quente. — resmungo, tentando abafar a blusa abotoada que usava. — Nós não podíamos ter feito essa cena dentro de um estúdio?

— Podíamos, Davies. Mas para que faríamos isso, se temos esse paraíso a céu aberto, para deixar tudo mais realista?

Dou de ombros e caminho até o lugar que seria gravado a próxima cena. Depois de três dias gravando em lugares diferentes, a cena da praia seria a última da primeira temporada.

Enquanto gravamos, algumas pessoas observavam de seus decks. Minha parceira de cena, Melanie, aponta para uma criança que acenava de um deles. Quando aceno para a criança, observo as pessoas que estavam no deck ao lado.

— Emma? — ofego, tentando enxergar melhor. — Ei, Mel... você vê aqueles dois ali? — aponto. — A mulher tem cabelo cacheado?

Ela aperta a vista e afirma com a cabeça.

— É. Tem um cara e... sim. A mulher tem cabelo cachea... JOHN, AONDE VAI?

Eu não espero mais um minuto sequer. Vejo que as duas pessoas que estavam na sacada saem, mas continuo a minha caminhada até lá. Abro o pequeno portão e subo as escadas, pedindo licença a ninguém. Observo pela porta de vidro, o cara de antes ajudar uma mulher com cabelos lisos, se sentar em uma poltrona.

— Pois não? — ele pergunta, vindo até mim. — Em que posso ajudar?

— Eu... tinha uma mulher aqui com você? Olhando para a praia?

Ele olha para a parte interna da casa, antes de responder.

— Sim. Minha mãe. — aponta para a mulher de cabelo liso. — Mas olhando para a praia, a enfermeira dela.

— Oh...

— E então? — insiste. — Eu tenho um compromisso, então...

— Conhece alguém chamada Emma Clark?

— Hmmm... não. Não conheço.

— Tem certeza? É importante.

— Não, amigo. — diz. — Eu realmente não conheço.

— Tudo bem. Desculpe te incomodar... — deixo a deixa, esperando que ele falasse seu nome.

Se fosse a Emma naquele deck, aquele cara tinha que ser o seu irmão. E eu lembrava o nome dele.

— Gabriel.

— Obrigado, Gabriel. — repito, frustrado e estico minha mão para ele. — Vou voltar para o trabalho.

Ele apenas assente e fica me observando descer as escadas e voltar para a gravação, de onde eu nem devia ter cogitado sair.

— Era ela? — Melanie pergunta, sabendo de tudo sobre minha história com Emma.

— Não.

— Sinto muito. De verdade. Mas faremos o seguinte: — ela pega em minha mão e sorri. — Vamos terminar essa gravação, passar no hotel e nos arrumar para ir a um bar.

— Tem bar no hotel.

— Não, John! Vamos sair por Malibu. Não aguento ficar olhando para essa sua cara de cachorro perdido.

— Mel...

— Não tem outra escolha. — diz e me dá as costas. — Vamos continuar pessoal!

[...]

— Eu não sei por que insiste tanto para sairmos. — digo, saindo do carro. — Poderíamos pedir qualquer coisa do quarto de hotel.

— É, mas então você não conheceria alguma mulher para tirar você da fossa. Tudo o que você quer e pensa, é só a...

— Emma.

Ela estava ali. De costas para mim, sentada no bar.

Desde que terminamos e ela desapareceu, meu mundo virou de ponta cabeça. Não fazia ideia de onde ela poderia estar e aquilo foi o que me derrotou. Dia após dia, mês após mês, eu procurei por ela em diversas mulheres. Procurei o que ela tinha e me proporcionava, em muitas outras.

Mas era obvio que eu jamais iria encontrar, porque Emma é única.

— Você não parece ter cara de quem gosta de algo bem forte.

— Ela gosta de vinho branco. — respondo à garçonete e Emma gira no banco, ficando de frente para mim. Eu não estava louco. Era realmente ela. — Mas preferencialmente, junto com comida chinesa.

— John...

Sorrio, sentindo finalmente o alívio que tanto procurei.

— Oi, Emma.

Ao mesmo tempo que parecia chocada ao me ver ali, o olhar de Emma transmitia algo indecifrável.

— O que faz aqui?

— Você sabe o que eu faço aqui. — respondo, ocupando o banco ao lado dela. — Me viu daquele deck.

— Eu não... — ela olha para os lados, antes de se levantar. — eu não quero fazer isso.

Ela joga algumas notas em cima do balcão e dispara para fora do bar.

— Vai demorar muito? — olho para a garçonete. — Vai atrás dela.

Escuto o que ela diz e saio do bar, ouvindo Melanie chamar por mim. Emma estava parada alguns metros a frente, fazendo sinal para taxis que não param.

— John, por favor. — ela diz, quando me aproximo. — Vai embora.

— Embora? Não nos vemos há meses e é isso que me pede?

Ela solta uma risada sarcástica e passa a mão, secando-o das lagrimas que o tinha molhado.

— Só pode ser brincadeira, não é? Você me tratou como um nada na última vez que nos vimos. Falou merda sobre merda e eu só fiquei lá ouvindo, porque sabia que estava errada em ter escondido coisas de você. — abro a boca para tentar me defender, mas ela ergue a mão e continua a falar. — Aí você acha que é só aparecer, com esses olhos azuis e sorriso que eu tanto amo, que eu simplesmente vou esquecer tudo o que ouvi e correr para você?

Eu esperava que sim. Não nessa ordem, mas esperava que ela corresse até mim e me beijasse sem fim.

— Embora meu coração esteja doendo e morrendo de saudade de nós, a resposta é não, John. Eu não vou correr para você e fingir que nada aconteceu.

— Emma, nós podemos conversar? — ando para mais perto dela e vejo que ela não recua. — Eu sei que fui muito cruel com você e... não tem perdão para as palavras que usei. Mas eu — seguro sua mão com força, visto que ela não queria meu toque. — senti muito a sua falta. Você não tem noção.

— É. Eu percebi pelas fotos que via todo mês nas revistas de fofocas. — ela puxa a mão e funga. Um táxi para diante de nós. — John, eu amo você, mas não estou pronta para isso. Não vem atrás de mim de novo.

Ela entra no taxi e eu fico ali parado, encarando aquele carro amarelo ir embora com o amor da minha vida. 

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