Capítulo 8 - O que os olhos não veem

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Olá, mais um capítulo de all about. Espero que ao lê-lo se animem em me deixar seus comentários e votos. Muito obrigada por acompanhar mais essa história. Beijos.

ANNE E GILBERT

O mês de outubro estava quase no fim, e Anne já estava se programando para as festas de fim de ano que era a época mais próspera para o comércio em geral.

Era também uma época que ela amava, pois toda a cidade se vestia com uma roupagem alegre, festiva, cheia de solidariedade e amor. Era tempo de compartilhar, de deixar os rancores de lado, de se aproximar daqueles a quem se amava, de fazer as pazes com o passado, viver o presente de forma mais amistosa, e fazer planos mais promissores para o futuro.

A única coisa que a deixava triste era a ausência do pai, e o alheamento da mãe, que se enterrava mais ainda em seu mundo e se recusava a comemorar com a filha uma data que para ela nada tinha de alegre, depois que seu companheiro de uma vida tinha partido.

No passado, o Natal tinha todo um significado diferente para Bertha. Ela era sempre a primeira a iniciar os preparativos, seu dom para decorar a loja e a árvore de Natal de sua casa eram memoráveis, e os quitutes que preparava para a grande ceia onde metade da família e amigos sempre compareciam eram de dar água na boca.

Infelizmente, Anne não tinha herdado da mãe o dom das mãos de fada, como seu pai a havia apelidado, e acabava comprando tudo pronto por medo de arruinar uma noite tão especial com pratos salgados demais ou doces passados do ponto.

Por conta dos humores instáveis de Bertha nessa época, e especialmente na noite de Natal, a quantidade de pessoas que participava da ceia dos Cuthberts era bastante reduzida, por isso, Anne tinha o cuidado de convidar somente as pessoas mais íntimas para não aborrecer demais a mãe, que sempre aparecia na sala para cumprimentar as visitas, mas se recolhia antes da meia noite. Assim, naqueles três anos, Anne aprendera que o Natal nunca mais teria o mesmo sabor do passado, que os anos de glória dos Cuthberts no dia vinte e cinco de dezembro tinha sido relegado a apenas uma foto bem guardada em um álbum familiar, e que a alegria que um dia tinha sido a marca mais invejada naquela casa se fora quando ela perdeu seu pai.

Por isso, enquanto andava pelo centro de Nova Iorque naquela manhã antes de ir para o trabalho, Anne se perguntava se não devia fazer algo diferente naquele ano, já que era penoso para a mãe se lembrar da falta que seu marido lhe fazia, especificamente em uma época que famílias deveriam estar comemorando juntas, e o esforço que a ruivinha andara fazendo para recuperar pelo menos em parte a tradição natalina que se repetiu por anos em sua casa tinha sido um fracasso.

Nada ainda lhe ocorria, mas talvez pudesse contar com a sensatez de seu noivo que era um homem prático, e por essa mesma razão, tinha sempre uma solução prática para apresentar em qualquer situação. De alguma forma, aquele pensamento tinha-lhe parecido desagradável, e a fazia lembrar o que Cole sempre criticava em Roy. Ele era extremamente enfadonho, não havia um pingo de entusiasmo naquelas veias, tudo devia seguir um padrão milimetricamente estudado, e assim não havia espaço nenhum para o elemento surpresa.

Todo esse perfil descrito pelo seu amigo de longa data a levava a fazer um outro tipo de comparação que ela sabia que não era justa com Roy, e o que a conduzia irremediavelmente a Gilbert Blythe.

Ele era o oposto de Roy em todos os sentidos, a começar pelo seu sorriso sacana, olhares explícitos e intenções mais explícitas ainda. Gilbert nunca usava meias palavras quando queria deixar alguém saber o que ele desejava, era direto e verdadeiro, e por mais que ela detestasse o tipo garanhão que ele representava, Anne gostava de sua maneira sincera de expressar suas opiniões. Ele era um homem de negócios como seu noivo, mas não mergulhara no mundo burocrático como Roy, não perdendo assim sua identidade pessoal. Porque, por mais que defendesse a posição de seu noivo e sua maneira de ser, Anne tinha que ser verdadeira consigo mesma e admitir que Roy era muito mais divertido quando o conhecera.

Anne with an e- All about love and hateOnde histórias criam vida. Descubra agora