Capítulo 18 - No doce embalo do amor

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ANNE E GILBERT

Gilbert Blythe acordara feliz naquela sexta-feira de inverno, exatamente uma semana após a entrada do novo ano. A sua vida parecia ter entrado em um processo intenso e ao mesmo tempo tranquilo. Os negócios estavam indo bem, e ele não poderia se sentir mais orgulhoso de si mesmo. A nova livraria era o primeiro empreendimento que ele realizava sozinho sem a supervisão do pai, e embora tivesse ficado apreensivo no começo com tanta responsabilidade, ele não hesitara nem um segundo quando lhe fora oferecida a oportunidade de levar aquele projeto adiante com seus próprios esforços.

Insegurança nunca fizera parte de sua vida desde os quinze anos quando começara a sair debaixo das asas de seus pais para sentir o mundo por si mesmo. Sua mãe temia por ele, pela excessiva liberdade que ele estava conquistando sozinho em uma idade tão complicada, mas seu pai sempre o incentivara a testar os próprios limites, e ali estava ele, um empresário de vinte seis anos, bem sucedido e completamente consciente de sua capacidade intelectual para os negócios.

No campo emocional, Gilbert não podia dizer que fora tão equilibrado assim. Observar o casamento dos pais como ativo participante diário lhe deixara marcas que ele nem imaginara a princípio. A dependência emocional da mãe que cobrava de seu pai cada minuto de atenção, e a necessidade de John de fugir disso, se enterrando no trabalho e partindo em viagens longas de negócios, fez Gilbert avaliar o que realmente ele desejava em uma relação entre um homem e uma mulher. E após cuidadosamente pensar sobre as brigas intermináveis que o testemunhara nos catorze anos de casamento dos pais, ele descobrira que seu coração não estava pronto para ser abrir para ninguém dessa maneira.

Por isso, sua vida amorosa até o último ano fora apenas de conquistas passageiras, pois ele não conseguia se ver em um relacionamento no qual suas forças seriam sugadas por constantes problemas e esforços em manter sua parceira satisfeita, enquanto internamente ele se sentiria completamente infeliz. Dessa forma, ele fugira dos sentimentos que pudessem aprisioná-lo a um casamento fracassado como fizeram com seu pai. Se apaixonar nunca fora uma opção segura para ele, que preferia viver sua liberdade sem nenhum tipo de obstáculo pelo caminho. Isso até conhecer uma certa ruivinha que fez sua vida dar uma guinada de cento e oitenta graus.

Gilbert não esperava se encantar tanto por alguém como ele se encantara por Anne desde a primeira vez que a vira. Ela era diferente de qualquer garota que ele tinha conhecido até ali. Anne era cheia de vida, de amor, e alegria. Estar com ela transformava qualquer momento de sua vida em algo mágico. Ela o fazia rir até mesmo de suas tragédias pessoais, e cada dia com ela o fazia desejar explorar mais daquela garota singular.

Anne era tão jovem, mas tinha tanta maturidade em suas atitudes que o impressionava. Ela tinha uma personalidade marcante, difícil de esquecer, difícil de compreender às vezes, mas impossível não amar. Ele vinha lutando para que sua paixão por ela não se tornasse rapidamente em um sentimento forte demais com o qual não saberia lidar no momento, mas a todo instante ele se pegava pensando nela, sorrindo ao se lembrar das inúmeras sardas em seu rosto que a tornavam tão adorável, seu olhar profundo mesclado ao azul maravilhoso de sua íris brilhante, seu rosto de traços delicados e pele macia como pêssego, e sua maneira de encarar a vida por uma ótica completamente otimista.

Seu lado cínico demorara para aceitar que alguém fosse tão autêntico daquela maneira, mas observando-a cuidadosamente, ele descobriu que a alma daquela garota era tão profunda e tão sábia, talvez por ter assumido grandes responsabilidades tão cedo, e também porque tivera que cuidar de uma mãe profundamente mergulhada na dor pela morte do marido, ao mesmo tempo em que tivera que lidar com sua própria mágoa da perda.

Anne nunca lhe contara muito sobre esse período de sua vida, mas o rapaz podia imaginar como fora duro para ela assumir os negócios da família quando mal havia entrado na faculdade. Ao invés de se divertir como toda garota da sua idade, ela já se via em volta de problemas de adultos, gerenciando a livraria e pagando boletos bancários.

Anne with an e- All about love and hateOnde histórias criam vida. Descubra agora