11.

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BORIS PAVLIKOVSKY,
narrativa.

O sinal toca indicando o final da aula de matemática, que era a última aula do dia, tirando que S/n me ajudou nas equações que eu não havia feito em casa, o resto da aula continuou um saco.

Saindo do corredor e caminhando pelo pátio, sinto o bolso do meu moletom vibrar e pego meu celular.

— Oi pai.

Boris, por um acaso você pegou dinheiro da minha carteira? - Questiona, estressado, atropelando meu cumprimento.

— Claro que não pai, você gastou o seu dinheiro com bebida, não se lembra?

Não, não me lembro disso.

Era óbvio que ele não se lembrava, meu pai vivia mais bêbado do que sóbrio ultimamente, tinha dúvidas de qual era a lembrança sóbria do meu pai mais recente.

— Bem, você estava bêbado demais para lembrar - Murmuro, olhando em volta, vendo que o pátio da escola já estava quase totalmente vazio.

Silêncio na outra linha.

Tá, trás meu almoço.

— Eu não tenho dinheiro, não tô trabalhando ainda.

É... - ele começa, tentando pensar em algo, mas sem sucesso murmura um xingamento. — Porra, muleque, você é um imprestável!

Suspiro. Colocando a culpa em mim depois de um fracasso dele, nada novo.

— Não é culpa minha pai.

Coloca na minha conta, certo? Eles não vão se importar mesmo.

— Está bem, pai. Tchau.

Antes mesmo de conseguir dizer tchau ele já tinha desligado. Talvez seja a ressaca.

Coloco o celular no moletom de novo e vou caminhando, já que o restaurante não era longe da escola.

Os negócios do meu pai estavam caindo, então ele começou a beber muito mais que antes, começou a descontar a frustração na bebida ou em mim.

Meu pai já estava devendo pagamento de marmitas para aquele restaurante há muito tempo. Na verdade, acho que até daria para comprar alguma coisa em algum restaurante chique.

Antes de pegar o almoço, passo em uma farmácia e pego um remédio para dor de cabeça. Não sei se alivia ressaca, mas é o que temos para hoje. Coloco na conta do meu pai e caminho em direção ao restaurante.

— Oi, boa tarde, senhora - Apoio os braços na bancada.

— Boa tarde, Boris - Ela abre um sorriso simpático. — O que vai querer hoje?

— O de sempre.

A mulher assente e caminha para preparar o almoço para meu pai e meia hora depois, a mesma senhora aparece segurando uma marmita branca de isopor e me entrega.

— Então... - esfrego a nunca. — Você poderia colocar na conta do meu pai?

Ela pareceu hesitante. Mas disse:

— Está bem.

Ela me lançou um olhar, pareceu de pena e em seguida, escreveu em seu caderninho.

— Obrigado - Agradeço e saio do estabelecimento, com rumo para minha casa.

Não caminhei tanto até chegar em frente a uma porta de madeira. Pego as chaves em minha mochila e abro e ao entrar já era possível sentir o cheiro de cigarro pela sala, que era onde meu pai estava jogado, literalmente afundado no sofá, dormindo.

Me dirijo para a cozinha, que tinha a visão da sala e deixo as sacolas na bancada, pego água gelada e um comprimido da caixa e vou até meu pai, com dificuldade para acordá-lo e com alguns resmungos, ele toma o remédio.

— Deixei seu almoço na bancada - Digo, antes de ir para meu quarto.

Fecho a porta e jogo minha mochila em algum canto. Finalmente me deito na cama sobre um edredom macio, sentindo meus músculos relaxarem. Eu sabia que se eu ficasse mais que dois minutos ali iria acabar adormecendo, então me levanto e vou até uma caixa de papelão, onde eu guardava meus livros já que os cupins fizeram questão de estragarem minha estante de livros e pego um livro novo e coloco em minha mochila.

Saio do meu quarto e pego a chave em cima da bancada da cozinha, onde eu tinha deixado quando cheguei da escola. Vejo pratos sujos na pia, alguns eram de ontem e outro do almoço. Caminho para sala e vejo ele adormecido, ele parecia dormir igual uma pedra.

Abro a porta de casa e saio, trancando-a e seguindo caminho para a biblioteca.

library girl,  BORIS PAVLIKOVSKYOnde histórias criam vida. Descubra agora