15.

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NARRATIVA,
narradora.

Boris abre os olhos lentamente, sentindo o corpo dolorido. O garoto não sabia se era por ter dormido mal ou pela noite anterior.

Ele se levanta e passa por cima das roupas espalhadas no chão do quarto, vai até sua escrivaninha e pega um moletom preto sobre a cadeira. Boris se veste rapidamente, mas não tão rapidamente e pega um livro e sua mochila.

Era nessas horas que ele tinha medo do pai. Não por ele ter o agredido na noite anterior, era o pai fingir que nada havia acontecido, era disso que boris tinha medo, porque era isso que o afetava.

Boris passa pela cozinha e abre a geladeira. Água, ovo, suco de laranja industrializado e margarina. Fecha a geladeira.

— Não vai tomar café? - Pergunta, o pai.

Nega com a cabeça. Boris se incomodou com essa pergunta, por que ele falava como se importasse.

— Está cedo para ir para a escola, onde vai?

Boris não responde, apenas dá de ombros, temendo que o pai grite com ele, mas não aconteceu. O homem só soltou a fumaça do cigarro e observou o garoto, pegando a chave e dando o fora de casa o mais rápido possível.

É engraçado porquê todos falam que lar é um lugar com quatro paredes, mas para Boris, só passa de mentiras, porque ele não sente que sua casa seja seu lar, não mesmo. Ele só dorme lá e nada mais, ele não sente que aquilo seja lar.

Caminhando com sua mochila nas costas e um livro na mão, Boris sobe as escadas e entra na biblioteca. Vai direto na recepção e entrega o livro que havia pegado e terminado de ler.

Boris seguiu para a prateleira de fantasia e escolheu um livro, procurou um lugar mais afastado dos outros se sentou e começou a ler. Boris ficou ali por um bom tempo, até dar o horário das aulas para ser específica.

Mas fazendo coisas que gostamos, o tempo sempre passa rápido.

Assim que o horário bate, Boris vai até a recepção para mostrar ao recepcionista que iria levar o livro que não tinha terminado ainda. Desce as escadas e segue para o ponto mais próximo que o ônibus escolar passaria.

[...]

Depois de aulas terrivelmente tediosas, o sinal do intervalo toca e os alunos saem da sala imediatamente. Boris levanta acompanhado de Stanley, que foi seu parceiro de mesa nesta aula. Começam a caminhar para fora da sala mas, de repente, Boris sente uma fraqueza enorme, não conseguindo nem controlar o peso das próprias pernas, o garoto segura em uma das mesas para não perder o equilíbrio.

— Ei, você está bem? - Stan pergunta preocupado, passando a mão pelo ombro do amigo.

— Estou, só preciso de um minuto - O cacheado fecha os olhos, respirando fundo.

— Vem, vou te levar para a enfermaria.

— Não precisa, Stan. - Murmura, pegando em seu pulso. — Vamos pro refeitório, eu não jantei e nem tomei café da manhã, deve ser fraqueza.

— Certeza? - Um Stanley preocupado, pergunta. Boris assente. — Está bem.

Com a ajuda de Stanley, Boris chega ao refeitório e se senta junto de seus amigos, na mesa que haviam combinado de se encontrar.

Quando Stanley disse o que havia acontecido poucos minutos atrás para os garotos, eles ficaram extremamente preocupados com Boris, eles sabiam da situação em casa e tinham medo do que podia acontecer com o amigo.

— Cara, você tem certeza que está bem? - Lucas questiona, observando Boris terminar seu almoço.

— Eu estou bem, gente. Já disse.

Stanley suspira e diz logo em seguida:
— Boris, você está com uma cara de quem não dorme direito a dias, você quase desmaiou hoje e tem um curativo na sua bochecha. Como acha que vamos acreditar nisso?

Boris fica quieto, por um momento, tentando encontrar alguma desculpa, mas falha.

— Você sabe que pode contar com a gente, né? - Eddie pergunta retóricamente.

— Você não precisa passar por isso sozinho,  Boris - Bill diz, tentando dar todo o apoio possível para o amigo.

Boris continuava em silêncio. Não sabia como reagir a tantas frases motivadoras em menos de um minuto, não recebia com muita frequência, então não sabia o que fazer.

— Não se preocupem, vou ficar bem. Agora, podermos mudar de assunto, por favor?

Assim foi feito. Depois de um minuto de silêncio, Lucas foi o primeiro a mudar de assunto, imaginando o quanto aquele assunto não estaria fazendo bem a Boris. Logo a mesa já estava sendo preenchida de risadas e piadas horríveis.

Era isso que boris chamava de lar. Seus amigos eram sua casa, onde ele encontrava conforto. Boris não queria perder isso e os enchendo com os problemas dele poderia acabar com isso. Bem, era o que ele pensava.

library girl,  BORIS PAVLIKOVSKYOnde histórias criam vida. Descubra agora