Capítulo 08

1.1K 79 17
                                    


Anahi Puente



    – Ei, Pequena Sereia, venha dormir na sua cama.

    A voz da minha mãe vinha bem de longe, tentei abrir os olhos, mas eles pareciam estar cheios de areia de tão pesados.

    – Ani, minha florzinha, acorde, você está toda desengonçada nesse sofá, vai acabar com um torcicolo horrível.

    – Mãe?

    Estreitei os olhos, a luz parecia me ferir. Esfreguei as pálpebras e finalmente consegui acordar. Todo meu corpo doía, em especial o braço que machuquei na casa de Maite. Confusa, olhei para nossa pequena sala de estar e bocejei. 

    – Minha nossa! Nem me lembro como cheguei aqui. Aconteceu alguma coisa? Por que você está de pé?

    – Estou bem, minha filha. Desde o implante do marcapasso me sinto outra pessoa – ela suspirou acariciando meus cabelos sentando-se ao meu lado, igual fazia quando eu era criança. – Já você… meu amor, não suporto mais ver sua juventude sendo destruída por minha causa. 

    Endireitei-me no sofá, colocando o rosto da minha mãe entre as mãos.

    – Mãe, deixa eu te contar uma coisa. Tudo o que fiz até agora, foi por motivos totalmente egoístas. Eu jamais viveria sem você. O que eu faria nesse mundo completamente sozinha? Então, pode parar com essa bobagem, destruída eu ficaria se te perdesse. Só peguei uma gripe e estou parecendo pior do que realmente me sinto, ok? 

    Ela sorriu e tirou meu cabelo dos olhos, apertei sua mão na minha bochecha.

    – Desde novinha você é assim, decidida, cheia de vida.  Quero que você continue cheia de vida, pequena sereia.

    – Mas…

    – Não, Ani. Agora é minha vez, deixa eu dizer a solução que encontrei para a conta do hospital, antes que minha falta de ar volte

    Esfreguei a testa deixando que mamãe continuasse a falar. Ela se levantou do sofá e eu, imediatamente, a segui. Suas pernas estavam bem menos inchadas, mas mesmo assim, todo cuidado era pouco. Ela sorriu e me mandou sentar, logo voltou com uma caixinha de veludo nas mãos. Eu era toda curiosidade.

    – Diga logo o que é isso, dona Tisha. 

    – Você se lembra da história que te contei da minha bisavó. Que veio da Ucrânia para os Estados Unidos, fugindo do exército vermelho? 

    Eu sabia da história da bisa que perdeu toda família na Ucrânia no começo do século passado e refez sozinha sua vida aqui.

    – Sim, eu me lembro. Por quê?.

    – Porque isso, meu amor – ela disse e abriu a caixinha de veludo, revelando uma linda gargantilha que parecia ser de diamantes – é a solução para os nossos problemas. 

    Olhei incrédula para minha mãe. Ela sempre dizia com orgulho como sua bisavó tinha conseguido fugir sozinha e trazido consigo uma única lembrança de seus pais. A avó da minha mãe havia lhe dado essa joia quando seus pais a expulsaram de casa por estar grávida de mim, foi a única coisa que ela trouxe. Seria um crime vendê-la. 

    – Mas, você não dizia que seu maior sonho era me ver casando usando essa gargantilha?

    – Minha querida, você é o meu sonho realizado, o resto são apenas detalhes. Não vou assistir enquanto você se mata de trabalhar por mim. Dos trinta mil que nós precisamos para o tratamento, essa joia cobre.

Baunilha com Encrenca - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora