Capítulo 19

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Anahi Puente

    A porta do elevador estava quase se fechando quando uma voz familiar gritou de repente:

    – Segure, por favor!

    Meio que no automático apertei o botão que abria as portas do elevador arrependendo amargamente da minha boa ação, quando Ryan se materializou em minha frente. Tentei colocar o cabelo na frente do rosto e virar o corpo para que ele não me visse, mas era tarde demais. 

    – Ani?!

    Fingi surpresa. Desde que comecei a frequentar o apartamento de Alfonso, me esqueci completamente que Ryan possuía amigos no prédio, a verdade, era que eu tinha me esquecido completamente que Ryan sequer existia.

    – Ryan, quanto tempo! Não esperava te ver por aqui.

    Ele passou os olhos por todo meu corpo, franzindo o cenho. Esse vestido era muito diferente das roupas que eu costumava usar. Fechei o casaco de modo a evitar que ele continuasse me analisando. Para o meu alívio, logo chegamos na portaria. Abaixei a cabeça e disse:

    – Muito bom te ver, Ryan, Até mais. 

    – Calma… Ani, espere. – Ele disse me puxando pelo cotovelo. Eu ainda me atrapalhava com os saltos e me desequilibrei batendo em seu peito. Ryan me amparou segurando minha cintura.

    – Minha nossa! Precisava me puxar com tanta força? O que você quer? – perguntei.

    – Eu quero saber que porra é essa! O que você está fazendo aqui, vestida desse jeito? – disse incisivo, cruzando os braços.

    Joguei a cabeça para trás dando uma gargalhada forçada.

    – E desde quando você tem alguma coisa a ver com a minha vida? Se enxerga, Ryan.

    Toda essa empáfia talvez disfarçasse a tremedeira em minhas mãos. Meu ex-namorado era imprevisível, espalhafatoso e dramático. Não sei o que faria se descobrisse o que eu estava fazendo. Andei rumo à saída do prédio, mas mais uma vez ele segurou o meu braço. Pelo canto do olho, notei que o porteiro olhava a cena com curiosidade. Se ele ligasse para o apartamento de Alfonso e ele descesse, seria ainda pior.

    – Gata, por favor, me desculpe. Fiquei nervoso de te ver assim, tem algo errado nisso tudo. – Ele se aproximou de mim e passou as mãos no meu rosto, embaixo dos meus olhos. – Você andou chorando? Ani… eu ainda me sinto horrível por você ter perdido o emprego por minha causa. Fui um tremendo babaca, mas eu gosto demais de você.

    – Não, Ryan…

    – Não… não assim como você está pensando, você é uma mulher sensacional em todos os sentidos, te admiro demais, entende? E além do mais, estou em dívida com você. Pela parada da sua mãe. Eu devia ter te ajudado quando saiu da mercearia.

    Essa conversa não acabaria tão cedo e eu queria sair da entrada do edifício o mais rápido possível.

    – Você está de carro? – ele confirmou com a cabeça. – Poderia me levar em casa? A gente conversa no caminho.

    – Claro, gata. Vamos. 

    Minhas mãos continuaram tremendo enquanto Ryan dirigia pela Michigan Avenue. Tive um dejá vu estranho do dia que ele me levou no apartamento do seu amigo. Quando Alfonso e eu nos conhecemos. Às vezes eu deixava que minha mente esquecesse que eu estava vendendo o meu corpo e gostando de cada segundo. E agora que a realidade bateu em minha cara, se tornou difícil respirar. Ele tamborilou os dedos no volante ao parar em um semáforo, a tensão no carro era palpável, dava para sentir que Ryan estava escolhendo as palavras para abordar o assunto.

Baunilha com Encrenca - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora