Capítulo 02

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Anahi Puente



Dias atuais | Chicago



    Onde poderia ter ido parar o meu gorro? Olhei no relógio do celular e já eram mais de sete da manhã, o Sr. Omar não permitia atrasos na loja. Se eu não o achasse, iria congelar as orelhas. O vento frio de Chicago era cruel nessa época do ano.

    — Filha! — disse minha mãe com dificuldade, chegando na porta do quarto que dividimos no nosso minúsculo apartamento no South Side. — Você já está atrasada... venha logo tomar seu café.

    Ela teve uma crise de tosse tão violenta que corri para ampará-la. Seu peito fazia um chiado horrível enquanto lutava por ar.

    — Mãe, por que você se levantou? Te disse que faria o café. Vem comigo, senta aqui.

    Dei um beijo em sua testa e ela sorriu para mim. Há anos lutava contra uma cardiomiopatia, uma grave doença que dilata os músculos da parede do coração. Com apenas quarenta anos, mamãe mal conseguia fazer tarefas simples devido à falta de ar e o inchaço que a má circulação causava em suas pernas. Há algumas semanas, seu corpo parou de responder à medicação. Com a chegada do inverno, tudo piorou muito rápido, o frio sempre fazia com que ela piorasse. Meus cabelos da nuca arrepiaram-se de preocupação com o que vi, suas pernas estavam mais inchadas que o usual, além do seu rosto estar praticamente sem nenhuma cor.

    — Já me sinto melhor, Ani. Não se preocupe, vá logo. Você sabe como aquele rabugento do Omar é.

    Nós duas caímos na risada e minha mãe foi sacudida por uma nova onda de tosse. Sentei-me ao seu lado na cama.

    — Agora chega, Dona Tisha. Vamos para o hospital, estou achando essa tosse muito estranha — falei pegando o celular.

    — Não! — mamãe colocou a mão no meu braço. — Estou bem, meu amor… o que seu gorro tá fazendo embaixo da minha cama?

    Virei a cabeça para onde seu olhar apontava e achei o bendito gorro que atrasou minha manhã inteira. Olhei mais uma vez para o relógio, eram 7:15 da manhã. Teria que comer no intervalo do trabalho.

    – Vou pedir à Sra. Jones para dar uma olhadinha em você enquanto eu não voltar.

    Mamãe abriu a boca em protesto, mas enchi seu rosto de beijos.

    – Quietinha, senhora teimosa. Farei de tudo para voltar o mais rápido possível – olhei em volta procurando o seu celular que achei em cima da mesinha de cabeceira. – Não tire ele da mão, qualquer coisa e, eu estou dizendo qualquer coisa mesmo, me ligue. Paro o que for e venho.

    Ela sorriu para mim visivelmente cansada. Todos os meus instintos me diziam para ficar em casa, mas se eu perdesse esse emprego, também perderia o nosso seguro saúde e eu nunca poderia pagar a conta dos remédios e das consultas que mamãe precisava constantemente. Me despedi, coloquei o gorro de qualquer jeito, peguei uns biscoitos e saí. Uma rajada de um vento congelante bateu em meu rosto. Eu amava o frio, me fazia sentir revigorada. Inalei profundamente o ar da manhã batendo na casa da vizinha que atendeu de pronto, com um sorriso no rosto.

    – Anahi, minha querida. Você ainda está por aqui?

    – Sra. Jones – eu disse com a boca cheia de biscoito – estou muito atrasada, mas queria saber se pode ir lá em casa de vez em quando, estou achando minha mãe muito estranha essa manhã.

Baunilha com Encrenca - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora