Capítulo 29

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Alfonso Herrera



    Relutei em abrir os olhos, mas o cheiro de café vindo da cozinha me despertou. A faxineira já tinha chegado? Uma sensação de que algo estava terrivelmente errado foi tomando conta de mim enquanto me levantava da cama. Não tinha ideia de como fui parar ali. Joguei uma água no rosto e escovei os dentes para tirar o gosto ruim da boca. Fui em direção ao cheiro de café como se estivesse em um desenho animado, seguindo uma trilha de fumaça.

    Eu tinha mil coisas para fazer na empresa naquela manhã, mesmo assim, não quis ver as horas. Sabia que estava atrasado, minha atuação na empresa durante esse mês fora patética, não podia continuar por esse caminho. Por que eu não conseguia me lembrar da noite anterior? 

    Na sala de estar havia uma garrafa de vodca quase vazia em cima da mesa e quando a voz de Anahi ressoou da cozinha meu coração fez uma festa em meu peito. Ela estava aqui e não com o desgraçado! Porra. 

    – Você acordou mais cedo do que imaginei. 

    – O que você está fazendo aqui? – merda. Saiu muito mais ríspido do que em minha cabeça.

    Algumas lembranças da noite anterior foram voltando aos poucos. 

    – Sendo idiota e cuidando de uma pessoa que não merece a mínima consideração. Isso que eu estava fazendo aqui – disse ela saindo como um raio da cozinha. 

    – Ei, ei… me desculpe – eu disse a alcançando no corredor, parando em sua frente. – foi uma pergunta genuína, eu não sei nem como eu cheguei aqui. 

    – Você não se lembra de nada de ontem? 

    – Claro que lembro – menti – desses dois centímetros de pano que você acredita ser uma roupa, principalmente. Não me diga que veio sozinha do Diamond Hall até aqui vestindo isso?

    – Não teria precisando se você não tivesse sumido. 

    Então a lembrança bateu em mim como um soco na jugular. Ela se esfregando em Joseph sorrindo e o beijando, de língua. Infelizmente não havia vodca no mundo capaz de apagar essa aberração da minha cabeça. Ela jogou as mãos para cima como se esperasse algo de mim que eu não sabia o que era. 

    – Bom, o seu café está pronto. Temos que conversar, Alfonso, mas assim fica difícil. Você pode passar na casa de Maite mais tarde? – disse pegando a sua bolsa e o casaco. 

    – Onde você pensa que vai? – perguntei tirando o casaco da sua mão – vestida desse jeito você não sai desse apartamento. Eu deveria ter ido te buscar na casa da sua amiga.  Sinceramente, onde você estava com a cabeça de beijar o cara daquele jeito no primeiro encontro? Você parecia…

    Ela veio para cima e arranhou o meu braço com força. 

    – Eu te desafio a falar mais uma vez que eu sou uma puta. Juro por Deus que eu não respondo mais por mim. 

    – Então não se comporte como uma. 

    – Não me comportar como uma? Sério? Eu estou me prostituindo porque você precisa. Filho da puta. Quem mandou que eu me comportasse assim foi você.

    Dei um passo para trás, como se tivesse levado um tapa. Ela pegou suas coisas e saiu pela porta.

    – Caralho! – gritei dando um soco na parede. Por que eu não conseguia conversar com essa mulher? Que demônios acontecia comigo quando ela estava na minha frente? 

Baunilha com Encrenca - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora