Capítulo 21

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Anahi Puente



    Depois de quase quinze horas de voo, finalmente chegamos em Dubai. Em Chicago deviam ser por volta de 08:00h da manhã, mas aqui já eram quase 18:00h. Achei esse fuso horário muito confuso. A primeira coisa que notei assim que pus os pés para fora do avião foi o calor. Eu, que nunca tinha saído do norte dos Estados Unidos, descobri que imaginar o calor e vivê-lo eram coisas completamente diferentes. O pouco tempo que fiquei ao ar livre tive a sensação de estar sendo cozida. O céu sem nuvens ostentava um sol extremamente brilhante e ondas de calor tremeluziam da calçada, era quase possível tocá-lo.

    As pessoas também eram muito diferentes, algumas usavam os trajes típicos da região. Muitas mulheres estavam cobertas deixando apenas os olhos de fora. Fiquei pensando como elas conseguiam isso com o calor que fazia. Sim, o calor era só o que eu conseguia pensar. Achei melhor do que em Alfonso que se fechou como uma ostra depois que me deixou sem entender nada no quarto do avião. Tentei puxar pela memória o que ele conversou ao telefone, mas naquela hora eu realmente não estava em condições de prestar atenção.

    Enquanto eu esperava as partes burocráticas da viagem serem resolvidas em uma sala de espera luxuosa, resolvi ligar para casa. Minha mãe garantiu que tudo estava bem e quando me despedia dela, Alfonso apareceu também ao telefone.

    - Não, Soph, fale com Josh para se meter no departamento dele. Você tem total autonomia para proceder na abertura do capital como planejamos. Se os empresários árabes fecharem conosco, em menos de um ano seremos a maior empresa de tecnologia do mundo. - E olhando dentro dos meus olhos, disse para a pessoa do outro lado da linha. - Em você, eu confio plenamente.

    Uma sensação ruim subiu pelo meu peito, queimando o meu rosto. Desviei os olhos me sentindo culpada sem saber o motivo. Alfonso quis me dar algum recado. Tive uma leve desconfiança do que poderia ser.

    Com tudo resolvido no aeroporto, seguimos para o hotel. Ele ficou todo o percurso ao telefone, além de estarmos cercados pelos seus funcionários, inibida, preferi ficar na minha. Olhei pela janela do carro, impressionada com a beleza surreal da cidade. Era uma mistura de modernidade com tradição tão bem feita que saltava os olhos. Por um momento, esqueci de tudo, de todos os meus problemas, toda culpa e vergonha do que estava fazendo e apenas apreciei a beleza e o esplendor daquele lugar exótico.

    Quase caí para trás quando chegamos ao hotel. Ele ficava literalmente no meio do mar, tivemos que ir de balsa até a sua entrada. Era um prédio gigantesco que parecia uma vela de um barco. Na mesma ilha, havia um outro hotel com as formas de um barco. Nunca imaginei nada tão extravagante. O luxo de dentro do local era tão espalhafatoso que me senti até mal. Alfonso parecia completamente à vontade, como se estivesse na sala de sua casa, já eu nem sabia onde pôr as mãos. Pelo que pude notar ele reservou um andar para nós dois e seus seguranças, enquanto os outros funcionários ficaram no outro hotel. O quarto duplex que estávamos, tinha direito a um mordomo particular e um cardápio de travesseiros. O preço da diária devia custar mais que a venda do meu apartamento inteiro. Assim que o mordomo saiu e ficamos sozinhos, resolvi tentar acabar com o clima horrível que pairou entre nós dois.

    - Você poderia por favor me dizer o que aconteceu? - perguntei. - Ainda não entendi porque disse aquelas coisas para mim.

    - Você se lembra do que te pedi assim que acabou a sua entrevista de emprego?

    A forma como ele disse entrevista de emprego me atingiu mais do que eu gostaria de admitir. Ele voltou a ser o homem presunçoso e crítico de quando o conheci.

Baunilha com Encrenca - FINALIZADAOnde histórias criam vida. Descubra agora