17 - Não pertenço ao seu mundo

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Quando cheguei a Coimbra, já o sol espreitava.

Tira a cara inchada de tanto chorar e estava extremamente cansada por não ter conseguido dormir durante a longa viagem. 

Não tinha maneira de ir para casa, não tinha carro e ainda era demasiado cedo para o autocarro que tinha como destino a minha pequena aldeia. 

Decidi ligar à Olívia para que ela me deixasse ficar lá a descansar. 

Ao retirar o aparelho do modo avião recebi vários alertas de chamadas perdidas. Ignorei todas. 

Toquei a campainha e aguardei uns segundos até a porta do prédio se abrir.

 Liv já estava nas escadas a minha espera.

- Val, tu não chegavas só hoje à noite? - disse enquanto se debruçava no corrimão - Aconteceu alguma coisa?

Não lhe consegui responder e com alguma lentidão fui subindo os degraus até ao seu apartamento. 

- Val - disse enquanto procura os meus olhos - estás péssima, o que aconteceu?

Num breve resumo contei tudo a minha melhor amiga, isto porque ela tinha se ir trabalhar dentro de alguns minutos. 

Quando Liv saiu fui até a casa de banho tomar um duche para que de seguida pode-se dormir.

Ao entrar no quarto de hóspedes para finalmente poder descansar, as memorias atormentaram a minha alma. 

Há uma semana Daniel estava deitado aqui, comigo, nesta cama. E agora, só restava o vazio.

Tive vontade de chorar, mas não consegui, já não tinha mais lágrimas. 

Fui até à sala para poder dormir no sofá e antes de adormecer pego no telemóvel. 

Daniel tinha ligado mais de vinte vezes, George cinco. Tinha várias mensagens de ambos, mas apenas li as do piloto britânico.

" Val, o Danny já falou comigo. Estamos preocupados, diz-me só se estás bem" 

" Percebo que não queiras falar agora e respeito isso. Só quero que me digas que está em segurança" 

Mandei uma mensagem curta a George a informar que estava bem. Não lhe disse onde estava, apenas que estava bem e que não era necessário preocupar-se. 

Não conseguia dormir, mesmo com o extremo cansaço. Só conseguia pesar no que tinha acontecido. 

Daniel admitiu o que eu mais temia. 

Admitiu que eu não pertencia com ele, não era suficiente para o mundo dele. 

Sabia que as namoradas dos pilotos normalmente correspondem a um estereótipo específico. 

Normalmente são modelos ou se não são modelos, têm corpos perfeitos. E eu não tenho o corpo perfeito. 

Parece ridículo que o meu pensamento seja no meu corpo, que eu sinta que o problema é meu e não dele. 

No fundo sabia que era ele quem tinha falhado, por não me ter aceite, só por ser diferente das comuns namoradas da formula 1. 

Mas só conseguia pensar que a falha era minha.

Talvez se eu fosse diferente. Tudo teria sido diferente.  

Levantei-me e fui buscar os meus fones, para tentar ocupar os meus pensamentos com a música, talvez assim consiga adormecer. 

Verifiquei as horas no meu telemóvel, eram já quatro da tarde

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Verifiquei as horas no meu telemóvel, eram já quatro da tarde. 

Tinha vinte minutos para conseguir apanhar o autocarro para casa.

Levantei-me do sofá agarrei na minha mala e saí de casa de Olívia. 

Durante o caminho escrevi-lhe uma mensagem para a avisar de que já tinha ido embora e a agradecer por me ter acolhido. 

Após quarenta minutos de viagem cheguei a casa, cheirava ao comer da minha mãe.

- Val, és tu? - o som da voz da minha mãe veio da cozinha.

- Sim, cheguei - enquanto descalçava os sapatos a minha mãe observa-me da porta da cozinha.

- Estás com um ar tão cansado, está tudo bem?

- Sim, foi da viagem, está tudo bem - minto - só preciso de descansar. 

A semana foi correndo bem devagar, apesar de estar constantemente ocupada com a faculdade. 

Daniel tentava a todo o custo falar comigo, mandava mensagens e ligava-me com frequência. Até para Liv já tinha mandado mensagens. 

Ignorei todas, não conseguia conversar com ele. Doía de mais. 

Por outro lado, tenho conversado muito com George. Não falámos sobre o que aconteceu e eu agradecia-lhe muito por isso, ele apenas queria ter a certeza de que eu estaria bem. 

"Tenho agora uns minutinhosantes de ir para uma entrevista. Consegues fazer agora a chamada de vídeo?"

O piloto britânico já me tinha pedido para fazer uma chamada de vídeo no início da semana. Mas os horários da faculdade não estavam a ser compatíveis com horários do piloto. 

Respondi afirmativamente para o piloto e sentei-me na cama para poder conectar o telemóvel ao carregador. 

Segundos mais tarde o aparelho emite um ruido e aparece o nome "George Russel" no visor. 

- Olá - comprimento com um pequeno sorriso.

- Olá Val, já estás na cama?

- A pergunta correta é, só agora é que vais para a cama? - digo-lhe enquanto me mexo na cama para ficar confortável - o fuso horário é diferente, já é tarde aqui.

- Ah é verdade, não me lembrei desse pormenor - disse coçando a cabeça - e como tu tens estado?

- Não te vou mentir, não muito bem.

- Devias dar-lhe a oportunidade de se explicar - o britânico diz com o rosto muito sério. 

- Eu sei - fiz uma pequena pausa para pensar - eu só preciso de tempo para organizar as minhas ideias.

- Ok, eu percebo isso. Mas talvez não fosse pior dizer-lhe isso mesmo, tenho a certeza de que ele te vai respeitar. 

- Se ele não me respeitou até agora, porque iria fazê-lo agora? - questionei confusa e com a raiva a subir pelo meu peito. 

- Liv, não tires conclusões sem falar com ele primeiro. 

- George tens de entrar agora para começar a entrevista - disse uma rapariga que entrou na sala onde o piloto estava.

- O dever chama, mas pensa naquilo que te disse - George diz-me enquanto se levantava para ir trabalhar. 

Desliguei a chamada e deitei-me confortavelmente para poder dormir. 

Fiquei mais de uma hora a tentar adormecer, sem sucesso.

Não conseguia tirar o australiano da cabeça. 

Foi neste momento que percebi o que realmente sinto por ele e foi também aqui que percebi que talvez fosse demasiado tarde para isso. 

Percebi o porquê do meu coração saltar todas as vezes que ele me olhava.

Percebi o motivo de que sempre que estava com ele as horas pareciam segundos. 

Percebi que nem que passa-se todas as horas que me restam neste nundo com ele, seria pouco tempo. 

Percebi que o amava.

Sentei-me na cama, agarrei o meu telemóvel e comecei a digitar.

"Precisava deste tempo para poder pensar em tudo o que aconteceu, precisava de encontrar respostas. Mas cheguei a conclusão de que só tu me as podes dar." 

Enviei a mensagem para Daniel agarrei nos meus fones deitei-me na cama para finalmente poder dormir.   

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