capítulo dois

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capítulo dois.

"É por isso que eu amo a lua, porque pessoas podem consumir meu amor da maneira errada; então a noite eu envio para lá."

Quando Harry chegou enroupado num sobretudo, escuro como pó de café, o garotinho já estava em cima do palco e tentava não  gaguejar na primeira sentença. Era fofo, ele tinha um casaco tão grande que arrastava no chão e uma coroa no topo da cabeça.

Lá dos fundos, ele podia vê-lo e também via pequenas mãos sobre bocas risonhas na coxia. Isso não era mais fofo. Não era agradável.

Deveria ser divertido, mas não deixá-lo roendo as unhas. Porque era o que ele estava fazendo e não se orgulhava disso. Scorpius era o garoto novo, crianças conseguiam ser cruéis sob influência de outras, mas, por hora, ele estava no meio de uma audição. Animado como um filhotinho. Parecia alheio àquilo e, honestamente, ele esperava que sim.

Decidiu que ficaria quieto e assistiria toda a coisa e foi o que fez, ninguém notou sua vaga presença até então. Quando ele afundou no lugar, fitando as costas do francês exigente e a sua bandana, ele foi cuidadoso.

O homem instruía garotas em longas meias com bigode pintado acima dos lábios e garotos com sombra forte nos olhos, perucas em cores surreais e máscaras.

Foi a primeira vez que Harry riu, daquele jeito que os músculos do abdômen doem, em muito tempo. Tanto tempo. Nem conseguia mais cobrir os lábios porque, quando se ri assim, tudo no corpo se tornava gelatinoso. Havia umidade em seus cílios quando ele se recuperou. Eram as crianças e atuação pouco convincente que deixava tudo mais adorável.

No fim, quando as cortinas já estavam fechando, pensou que talvez a tal peça "Roma e Julio" não fosse tão ruim assim. Eram trechos, claro, e ainda sim era possível enxergar a sutilidade com a qual Draco movera as peças do trágico para o hilário.

Era tão talentoso. Tratava-se de uma peça infantil, os diálogos foram encurtados e nada sombrio realmente ocorria. Não até onde ele pôde perceber. Harry já não se arrependia de faltar no almoço de família pela primeira vez desde que se mudou. Não mesmo.

— Professor Potter! — Scorpius gritou no segundo em que desceu das escadas do palco, acenando com um sorriso cheio de dentes. Harry acenou de volta, o rosto quase escondido no banco da frente. — Você veio!

— Como é que eu poderia perder isso? Foi sensacional!

Já era tarde para permanecer no pequeno esconderijo quando sentiu o olhar de Malfoy esquentando seu rosto de longe. As crianças pulavam em cima do palco e o francês aumentou o volume do som sem tirar os olhos dele, ele conseguia ver de relance.

Tocava You're The One That I Want agora e todos realizavam essa coreografia meio ensaiada, mas ora não. Mas elas estavam felizes. Draco balançava a cabeça acompanhando a melodia e Harry sorriu. O menino correu nos degraus até alcançá-lo e ele ficou de pé para erguer a mão e cumprimentá-lo devidamente.

— Eu fui bem? — ele ignorou sua mão suspensa no ar e avançou para um abraço apertado. Bem apertado, ele quase riu. Harry o segurou seus ombros, incapaz de afastá-lo. — Obrigado.

— Hum? — o fitou, intrigado. — Pelo que está agradecendo?

— Você veio. — largou Harry com um sorriso iluminado como a luz refletida num diamante, uma expressão para lá de distante daquela que o adornou no dia em que fez o convite. — Achei que esqueceria, mas você veio.

Harry se comoveu.

Seu coração não era uma pedra com crianças adoráveis de olhos grandes e sotaque forte. Ele não era uma pedra nunca, só cauteloso pois nunca quis torná-lo em uma se, algum dia, o coração viesse a estilhaçar como vidro por alguém.

Roma & Julio | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora