capítulo vinte

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capítulo vinte.

"Com cada batida de coração que me resta, eu vou defender cada respiração sua. Eu farei melhor. Porque você é amado. Você é mais amado do que pensa. Eu prometo todos os meus dias para provar isso."

Harry pensa muito em como ele sutilmente deslizou para dentro daquela família.

Ele pensa no quão sortudo é, às vezes, por ter achado seu lugar lá. A coisa toda sobre paternidade veio tão fraca e soprada, tão isenta daquela habitual ansiedade e pressa – o medo de errar, que o deixa instigado. Ele não sentou e decidiu que um dia seria pai, ou mama – qualquer coisa que eles precisassem, Harry à essa altura não liga – daquelas crianças.

Ele só é. É simples assim.

E, às vezes, ele gosta de pensar que sempre foi assim, o que ele terminantemente diz a si mesmo que não deve fazer, porque aquelas crianças têm uma história antes dele, assim como ele tem também, e esse tipo de pensamento o remói um pouco à noite.

Ele pensa em Scorpius, em seu choro tremido e quase desamparado, sua tristeza do fundo. Isso deve ter se estendido por um tempo, lá dentro dele. Ele não sabia o que era perder alguém com a idade de Scorpius, e ainda acha que não sabe. Porque foi isso que aconteceu, não foi? Ele perdeu alguém. E aquela doçura toda não devia conhecer dor nem de vista, nem de passagem.

Ele pensa demais em Cassiopeia. Ela fez uma casca pra si e teve o denodo de arranjar espaço para os irmãos. Ela arranha qualquer faísca de risco ao redor deles, mas Harry não consegue fisicamente entender como, como, como, alguém pode fazer algum mal a eles.

Ele tem medo. Não. Ele morre de medo por elas. Draco estava lá desde sempre. Ele estava lá quando Daphne decidiu não estar mais lá, já deve ter enxugado lágrimas suficientes para reabastecer um oceano. E ele não estava. E, ainda que sinta como se não, ele chegou agora. Draco beijou o espaço entre suas sobrancelhas, uma vez, e disse que esse medo é recorrente. Filhos incham seu coração de ambos: amor e preocupação. Então Harry dormiu com o peito mais leve.

Draco entende.

Eles dormem com a cabeça enfileirada de pensamentos, possibilidades, na maior parte sobre Daphne. Daphne. O nome dela parou de enviar calafrios para a espinha de Harry. Ela não ligou mais. Draco está tentando adiar toda a coisa, ele tem aproveitado bastante em casa, escrevendo a nova peça para a escola.

O bebê está quase chegando. Eles pintaram o quarto, antes meio que um escritório, meio que depósito também, de um azul empalidecido, o berço foi suspenso por cordas da cor de avelã. Cassiopeia gosta de chamá-lo de coisa, o que ele não achou que fosse um problema grande porque sobrava afeto quando ela dizia.

E eles começaram a planejar superficialmente algumas coisas como: Carina é quem vai segurá-lo primeiro, porque, e aparentemente isso é um motivo válido, ela fez um desenho dele mais bonito.

E Scorpius iria, às vezes, ajudar com as fraldas. Cassiopeia ainda segura a tarefa de ensiná-lo a jogar futebol.

É o time perfeito. Draco e ele têm o time perfeito. Mas agora eles têm que lidar com algo, não importa o quanto Draco tente empurrar para o lado, eles ainda precisam.

Então eles sentam na mesa da cozinha, Fleur havia buscado Carina para passar a tarde, e organizam as cartas para jogá-las na mesa. Foi só disso que falaram na madrugada anterior: contá-los a verdade, porque honestidade é a base de tudo. Mas, agora, olhando para Cassi e Scorpius nos olhos, parece a coisa mais difícil que ele já encarou na vida.

— Aconteceu alguma coisa? — Cassiopeia quase soletra de tão cautelosa. Bem, sim. Sim, aconteceu. Ele olha para as unhas e Scorpius intercala entre encarar todos na mesa.

Roma & Julio | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora