03 • CAPÍTULO 2 •

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CAPÍTULO 2

🦌

Os horários para alimentação por aqui são bem distintos dos quais eu já havia me acostumado, enquanto residia em Seul. Se bem que fazer refeições regularmente não era o meu forte, visto que na maioria das vezes eu acabava esquecendo de fazê-las, pulando-as quase que compulsivamente.

Mas conhecendo a minha tia, ela não deixaria algo do tipo acontecer na presença dela, pois ela é daquelas pessoas que nunca deixa o seu prato ficar vazio.

ㅡ Jisung, querido, já é manhã e o seu tio logo virá, apresse-se e vamos tomar café para esperá-lo nos portões do vilarejo, ouviu?

Ouço a voz da minha tia no andar de baixo me despertar do sono tranquilo. No momento, o marido da minha tia não está em sua casa, pois havia ido fazer os seus exames de rotina na cidade vizinha, mas como a mesma havia me contado noite passada durante o jantar, ele logo voltará dentro de algumas horas.

A luz morna do nascer do sol batia parcialmente na cama, fazendo a rede fina sobre o dossel brilhar conforme dançava sob a brisa mansa das primeiras horas do dia. Acabei esquecendo de fechar os janelões ontem à noite e agora estou tomando um banho de sol ㅡ só Deus sabe há quanto tempo. Todavia, em meio ao emaranhado de esquecimento, sinto que estou desconsiderando de algo mais, talvez algo importante, algo verdadeiramente incomum, mas que agora não se revela com clareza em minha mente tão enevoada.

ㅡ O pessoal daqui acorda bem cedo, espero que não se incomode com isso! ㅡ Ela continua, tendo uma certeza onisciente de que já estou acordado, pelo menos há alguns minutos. ㅡ Dormiu bem? Aqui é tranquilo, não concorda?

ㅡ Sim, tia, bom dia! ㅡ Devolvo um sinal, falando alto e claro para que ela possa me ouvir.

Talvez uma pessoa vestida de branco... Ou era de preto?

Por ora, decidi não me importar, focando apenas em levantar-me e deixar tudo em ordem antes que partamos para os grandes portões do vilarejo.

ㅡ Bom dia, querido!

Falar constantemente em japonês me faz pensar bastante sobre a minha infância, em que a minha única preocupação era fazer amigos, o máximo que eu conseguisse.

O meu sonho era aprender todas as línguas possíveis para ter amigos de todos os lugares. Mas conforme fui ganhando idade, acabei percebendo que quantidade, de fato, não é qualidade, então reconheci ser apenas um sonho bobo, já que, não importa de onde vieram, nem todas as pessoas estão dispostas a fazer amizade com você.

Isso pode ser esmagador para pessoas que se apegam facilmente ao fato de ter alguém ao seu lado. No entanto, esses acontecimentos serviram para que eu pudesse exercitar o fato de que em alguns momentos eu posso ser autossuficiente.

Portanto, não me esforço tanto para que as pessoas me aceitem, nem me forço ao encaixe de outras pessoas, elas podem simplesmente vagar contigo sem que você precise distraí-las, ocupá-las, ou oferecer algo.

Para certas coisas, às vezes o valor pode ser encontrado na inutilidade, pois somente assim você enxerga que quem está contigo escolheu por motivo algum e está porque quer estar.

ㅡ Como passou a noite, querido? ㅡ Sentados à mesa, dando início a nossa refeição, minha tia conversa, ficando um pouco risonha. ㅡ Quando apanhou gravetos, voltou como se houvesse visto um fantasma.

Kuro incomumente aparece ao nosso redor, sentando-se próximo de nós dois. Para ser mais preciso, o grande cão que sobressaia a altura da mesa de jantar sentou-se exatamente ao meu lado esquerdo e me encarou como se precisasse enxergar a verdade existente em minha alma.

VAISRAVANA • { minsung }Onde histórias criam vida. Descubra agora