26 • CAPÍTULO 25 •

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CAPÍTULO 25

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As árvores farfalhavam conforme a brisa mansa da tarde. Sons de pegadas sobre raízes rasteiras podiam ser ouvidas pelo leve caminhar de uma mulher de vestido claro e florido. Toda a floresta recebia ㅡ por cima de sua própria paleta de cores ㅡ tons semelhantes ao carmesim, num belo entardecer por entre as montanhas.

A mulher de curtos fios prateados andava com um pequeno obentô envolvido por um lenço verde claro em suas mãos. E, já imersa por entre as plantas, rodeada pelos troncos frondosos, afagava por entre os chifres de um cervo que atingia facilmente a sua altura.

De dentro do seu obentô retirou pequenos biscoitos branquinhos, servindo-os calmamente, um a um, direto na boca do animal, que aceitava todos eles, feliz.

No entanto, a mulher de meia-idade deixou o recipiente que trazia o alimento cair pela grama, espatifando todo o resto pelo chão verdinho.

Ela segurou no próprio peito com força, hiperventilando, e o cervo ao seu lado imediatamente usou o seu corpo para sustentá-la, diante do desequilíbrio alheio. Ele parecia entender. Naquele instante, ela enfrentava um momento difícil, a doce mulher estava passando de sua margem para a outra.

O cervo abaixou sua cabeça, como numa reverência, não queria machucá-la com seus chifres pontiagudos, e ela o abraçou, fazendo-o deitar-se, sem resistência alguma. Minutos foram tomados daquela maneira.

Ela havia o acompanhado, apoiando-se sobre o dorso da criatura. E, fazendo carinho sobre a pelagem reluzente ㅡ mesmo que estivesse em sua pior situação ㅡ, fechou seus olhos, serenamente, logo sendo invadida pela temível inconsciência.

O cervo levantou-se, cobrindo o corpo pequeno da mulher, protegendo-a com suas patas dianteiras, quando notou a presença de uma nova pessoa chegar.

Um homem.

Este tal homem espantou o animal o quanto pôde, tentando a todo custo pegar a mulher em seus braços, e numa dessas tentativas acabou sendo derrubado pelos longos chifres do cervo, que persistia em continuar ali.

Em tremenda cólera, ele arremessou um objeto de vidro no rosto do pobre bicho, que logo tombou para o lado oposto, caindo a passos do corpo da mulher. O vidro nada mais era que um frasco de remédio, antes guardado no bolso da calça social do homem vestido de terno azul marinho.

Esse mesmo homem, que finalmente aproximou-se de seu objetivo, verificou se ainda havia sinais vitais na mulher e, percebendo um frágil batimento em seu pulso, resmungou em real desaprovação. Logo erguendo-se, zangado, levou o bico de seu sapato caríssimo de encontro com o rosto da mulher, descobrindo-o ao espalhar seus fios cor de prata pelo chão, revelando o semblante entristecido, quando empurrou-a pela bochecha, impulsionando a cabeça alheia virar-se para a direção contrária a si, frente a frente com o cervo ainda atordoado.

ㅡ Fiz um bom negócio... ㅡ O homem comenta com um riso de escárnio, escondendo ambas as mãos nos bolsos de sua calça. ㅡ Até mesmo já quase vazio, aquele remédio é infalível.

Apanhou o frasco mediano em mãos, levando-o até a mulher, abrindo e pairando o recipiente sobre a boca alheia. Entretanto, seus movimentos cessaram e o que seus olhos não conseguiam compreender ganhou a forma de um rapaz de kimono branco, do qual estava a tensionar um longo fio escarlate, preso ao pulso do homem de terno. O rapaz de kimono branco parecia furioso, de pé a poucos passos do cervo cor de mel.

ㅡ Alma manchada pela corrupção gananciosa, ordeno que pare e arrependa-se! ㅡ Insiste, não medindo forças ao voltar a puxar o fio para si. ㅡ Sou o Deus do combate, Vaisravana, e conhecendo os anseios, concedo-lhes a forma material. ㅡ Estendeu sua mão livre na mesma direção que o seu fio. ㅡ Venha, profanação!

VAISRAVANA • { minsung }Onde histórias criam vida. Descubra agora