1 - Rosas e Vinho Tinto - Parte 1

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Prender assassinos era rotina padrão para Augusto Dornelles, investigador de polícia com mais de uma década de experiência e, por isso mesmo, já bem acostumado com corpos perfurados por balas, sangue pisado e cadáveres. Mas naquela manhã de segunda-feira, em que chegara um pouco atrasado para o trabalho, havia algo de diferente. Tudo indicava que era a primeira vez em sua carreira na polícia que se deparava com caso típico de um assassino serial em potencial.

Claro, para ser considerado serial era preciso haver uma série de vítimas e, até onde sabia, esse era o primeiro caso. Mas antes mesmo de analisar a vítima, sentia que a chance do crime ser resolvido de imediato e não haver novas mortes era pequena.

Foi com esse pensamento que adentrou a casa da vítima, sentindo um calafrio percorrer sua espinha. Não havia sinais de luta, não havia sangue ou mesmo indícios de violência. A residência era de uma mulher solteira de 30 anos de idade, pelo que pudera ler nos registros que lhe foram entregues quando chegou, e tudo parecia bem arrumado.

Ao lado esquerdo da entrada, na sala, o sofá estava bem arrumado, apenas com uma coberta jogada displicentemente mais ao canto e só um dos lados estendido, o que poderia indicar que a vítima estava sozinha; enquanto que o painel ostentava uma enorme TV de umas cinquenta polegadas, ponderou ele. 

A vítima, aliás, estava do lado oposto ao da sala, onde ficava a sala de jantar, pouco antes da cozinha americana, que parecia adequada a uma pessoa que morava sozinha. Ela estava sentada de costas para a entrada, os braços postos sobre a mesa e, com exceção da cabeça que pendia para o lado, parecia perfeitamente postada como se aguardasse a refeição.

Dornelles se aproximou, ainda sem tirar as mãos do bolso e desejando que tivesse tomado seu café antes de vir, aquilo parecia que iria demorar. 

Observou com cuidado a jovem, sem dizer nenhuma palavra, enquanto tirava as mãos dos bolsos, já com as luvas vestidas. Ela era bonita, tinha cabelos escuros e levemente cacheados, que caíam sobre seus ombros. Os lábios delicados, nem finos e nem carnudos, estavam com batom discreto. Ela usava uma camisola, parecia que estava pronta para dormir ou que havia acordado naquele momento e tomava o café quando foi morta. Poderia muito bem ter apenas sofrido um ataque cardíaco fulminante ao sentar-se à mesa. Também estava com bastante pó no rosto, o que ajudava a disfarçar a sua palidez. 

Sim, poderia... mas por outro lado, não poderia ter se amarrado à cadeira.

- O namorado dela deu queixa. Disse que ela não atendia o telefone, então veio até aqui e como ela não atendeu a porta, ele usou a chave dele para entrar. - disse um policial, que acompanhava a análise de Dornelles. O investigador apenas olhou para ele sem nada dizer e voltou a examinar o corpo.

A mulher tinha ambos os braços amarrados à cadeira com fios muito finos e transparentes, praticamente imperceptíveis, ainda mais por estarem sob a roupa. Era óbvio que alguém a havia colocado naquela posição. A causa da morte, no entanto, era mais difícil de detectar. Não havia ferimentos. Não havia tiros, cortes ou mesmo sinais de violência. Era como se ela apenas dormisse realmente.

Sobre a mesa, havia um buquê de rosas e duas taças de vinho, uma vazia - mais afastada - e outra pela metade. 

- Tem outra coisa investigador... - chamou novamente o policial - o exame preliminar mostrou que ela perdeu muito sangue...

- Como? - perguntou Dornelles, voltando a ficar ereto.

- Bom... nós localizamos duas marcas no pescoço dela, dois furos...

O investigador olhou imediatamente, afastando o cabelo dela do rosto para revelar o pescoço e lá estavam as duas pequenas perfurações.

- Só faltava essa... - disse, voltando-se ao policial - vampiros em São Paulo... - comentou, sem nenhuma emoção na voz, pois sabia que estava na vida real e não num filme de terror e que, muito provavelmente, era só algum psicopata querendo brincar com a polícia. 

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora