17 - Câmera de Segurança

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Eram quase sete da noite quando finalmente o interfone de Thalita tocou. Ela atendeu rapidamente e autorizou a subida do visitante.

- Só vou abrir a porta se tiver trazido comida! - gritou ela, assim que a campainha tocou. Era Fernando, amigo e com quem por vezes ela trocava beijos e algo mais quando se sentia solitária. Mas a verdade era que a companhia dele era o que ela mais prezava.

- Vou contar até três, se não abrir a porta, como tudo sozinho... - respondeu ele, em tom de zombaria.

Ela abriu a porta e encontrou o visitante de mãos vazias.

- Ei, você disse que ia contar até três antes de comer tudo... cadê a comida? - bradou.

- Tava com preguiça de passar pegar, pensei em pedir aqui.

Ela revirou os olhos nas órbitas.

- Eu tô faminta, seu folgado... mas tudo bem, entra aí e vamos escolher logo o que comer.

Assim que fechou a porta atrás de si, Fernando deu um abraço na amiga e um beijo no rosto, seguido por um beijo na boca.

- Tudo bem, eu pago sua janta, assim você me perdoa. - disse ele, com um sorriso quase angelical.

O rosto de Thalita se iluminou ainda mais; ganhar uma refeição era sempre motivo de alegria, ainda mais de quem a conhecia bem e não faria pouco caso quando ela escolhesse uma boa comida saudável - ou quase isso.

Na sequência, ela se desvencilhou dele e fez sinal para que ele se acomodasse.

O apartamento de Thalita, que ela chamava de "moderno", era o que seu irmão Dornelles insistia em chamar de muquifo. Isso porque o local possuía apenas dois cômodos: um era o banheiro e o outro era todo o resto.

Logo na entrada, havia um sofá cama um pouco velho, que ela havia trazido da casa do pai e já estava razoavelmente surrado. A TV ficava posicionada na parede ao lado da porta da entrada, de modo que pudesse ser assistida por quem estivesse no sofá, por quem estivesse na cozinha - que era à direita da entrada, com um balcão em L apenas para demarcá-la - e por quem estivesse no quarto, que ficava ao fundo, atrás da cozinha, e não passava de uma cama sem pés, onde Thalita adorava trabalhar. Agatha e Christie tinham sua própria caminha, do lado esquerdo da cama e, como duas ladies que eram, não atrapalhavam visitas já tão ambientadas.

O único cômodo que possuía paredes e portas era o banheiro, à esquerda da entrada. E até de lá, era possível enxergar a televisão com a porta aberta.

Alguns móveis estavam também espalhados pelo ambiente e era impossível saber se havia mais roupas da garota jogadas pelos cantos ou dentro do guarda-roupas ao lado da cama.

Escolheram o que comer em um restaurante perto, que vendia comida vegana a um preço salgado a ponto de causar hipertensão em alguém. Mas como era presente, Thalita não se preocupou com o valor. Fernando era filho do dono da empresa em que ele trabalhava, possivelmente recebia em um mês o salário dela do ano todo, então podia se dar ao luxo.

Após escolherem os pedidos, ela disse que terminaria umas coisas que estava fazendo e foi até a cama, onde o notebook estava já ligado sobre uma mesinha de apoio.

Ele não se demorou e a seguiu. Apanhou o controle que estava ao lado dela, desligou a TV e ordenou uma playlista à Alexa.

- Você é muito abusado... - comentou Thalita, enquanto se posicionava junto ao notebook. Atrás dela, a enorme vidraça que era a parede do apartamento evidenciava que a noite estava vencendo o entardecer.

Ele sorriu e jogou-se na cama ao lado dela, que voltou ao trabalho. As tarefas levaram mais tempo do que levariam em uma situação normal, já que a conversa fluía tranquilamente.

Enfim, depois de quase uma hora de trabalho e conversa, deu uma última conferida na matéria que estava para enviar - uma besteira sobre um vídeo viral de um cachorro no TikTok, que pelo menos rendia muitos cliques no site - e mandou. Nesse momento, percebeu que havia um e-mail anotado como URGENTE em sua caixa de entrada, com letras maiúsculas.

Decidiu conferir - a comida estava para chegar. Abriu e não possuía remetente.

"Recomendo que tome muito cuidado, já sabem que você roubou dados da clínica", dizia a mensagem, que era assinada por "Um amigo".

No anexo, havia um vídeo da câmera de segurança que mostrava exatamente o momento em que ela pedia para conectar o celular.

Sentiu sua espinha arrepiar com a informação. Se aquilo pudesse ser usado como prova, talvez ela perdesse mais do que a carreira.

Fernando percebeu a cara tensa da amiga.

- O que foi? - perguntou e, antes mesmo que Thalita pudesse responder, o interfone tocou.

O Assassino da Rosa de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora